Uma história de três partes (que já tem livro publicado pelo Clube de Autores e, em breve, filme) sobre como a Operação Zelotes virou a vida da economista Maura Montella de cabeça para baixo.
Há muito discute-se sobre como as histórias que ouvimos (e contamos) não são versões imparciais da realidade, independentemente do quanto nos esforçamos para narrar os acontecimentos com objetividade.
Embora a Teoria do Espelho, inspirada no Positivismo do filósofo Augusto Comte, tenha desempenhado um importante papel nos estudos sobre a prática do jornalismo, a ideia da imparcialidade narrativa vem sendo desconstruída ao longo dos anos.
Hoje, sabemos que até mesmo as notícias, ancoradas no relato objetivo, são apenas uma representação da realidade, contada, ou vivida, por outra pessoa. George Orwell, autor do bestseller “1984”, diria que “as histórias são escritas pelos vencedores” e não há como negar que, na maioria dos casos, conhecemos apenas parte dos fatos.
“Era só para envolver o Lula na Zelotes”, obra independente escrita por Maura Montella e publicada via Clube de Autores é justamente uma forma de mostrar ao mundo outras versões da Operação que investigou as supostas irregularidades da MP 471 – e seus impactos na vida da autora e do marido. O livro, publicado em 2016, terá também uma adaptação para o cinema, com lançamento previsto para 2023.
Mas vamos por partes – a começar pela história que não virou livro.
Parte 1 – A história que não virou livro
Tudo começou na festa de aniversário do sobrinho de Maura. “Eu morava no Rio de Janeiro, dava aula na UFRJ, feliz da vida, não queria me casar. Eu adorava ser solteira no Rio! Aí eu conheci um italiano que morava em Brasília… eu fui nessa festinha de aniversário, conheci o Renato, que tinha um relacionamento, mas já estava desgastado na época. Ele se apaixonou pelo meu sorriso e começamos a namorar”, conta a economista.
Maura Montella é Doutora em Engenharia de Produção e Pós-doutora em Linguística Italiana. Graduou-se em Ciências Econômicas e possui Mestrado em Economia Política. Além de professora licenciada na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), tem mais de dez livros publicados e está sempre aprendendo coisas novas: Italiano, Espanhol, piano e por aí vai.
“Eu continuava morando no Rio, ele em Brasília, eu dava as aulas durante a semana e ia encontrá-lo nos finais de semana. Foi um namoro muito gostosinho, não tinha do que reclamar. Seguramente não era o amor da minha vida, mas era um relacionamento muito amistoso, muito leve”, continua.
Renato era um policial infiltrado na embaixada da Itália. Segundo Maura, foi um dos responsáveis pela prisão de Cesare Battisti, ex-ativista do Proletários Armados pelo Comunismo – grupo militante que cometeu atos ilegais na Itália durante os Anos de Chumbo.
Cesare foi preso no Rio de Janeiro em março de 2007 e condenado por quatro homicídios. Em novembro de 2009, o STF autorizou sua extradição, que foi negada pelo então presidente da república, Luís Inácio Lula da Silva, em dezembro de 2010. Na história de Maura, o caso Cesare Battisti é apenas uma nota de rodapé, mas com um simbolismo importante. Afinal, essa foi a primeira participação indireta do ex-presidente Lula no trabalho de alguém relacionado à economista.
A escrita sempre fez parte da vida de Maura. Durante os primeiros meses de namoro com Renato, sua rotina resumia-se a corridas na praia, registro de ideias para seus livros, aulas e encontros aos finais de semana. Em uma das visitas a Brasília, o policial fez questão de apresentá-la a um de seus melhores amigos, Alexandre Paes dos Santos, economista e lobista.
“O Renato era um amigo muito encantado pelo Alexandre e quando retornei à sala de aula os meus alunos também ficaram deslumbrados porque além da teoria que eu já dava, eu passei os exemplos práticos porque eu ouvia do Alexandre quando ia pra Brasília”, explica Maura.
Depois de um tempo correndo na praia, lecionando, visitando Renato aos fins de semana e ouvindo as histórias de Alexandre, Maura ficou sabendo que o prazo do namorado no Brasil estava acabando e que ele precisaria retornar à Itália. “Naquele momento eu pensei assim: esse namoro é muito gostosinho, muito legal, mas uma coisa é a ponte aérea Rio-Brasília. Outra coisa é você ter que esperar as férias de julho e dezembro porque seu namorado mora do outro lado do oceano. Continuamos namorando quando ele voltou para a Itália, mas seguramente era um relacionamento fadado a terminar por conta da distância”, confessa a escritora.
Os planos de terminar o relacionamento escaparam de Maura depois de uma sequência de acontecimentos inesperados envolvendo a saúde de Renato. Na Itália, ele foi diagnosticado com um tumor maligno após procurar um hospital para consultar sobre o aparecimento de sangue na urina. O policial foi internado imediatamente e teve um rim removido. A economista acompanhou tudo do Brasil, por telefone. A cirurgia correu bem, mas soube-se que a partir deste momento, Renato precisaria de acompanhamento médico a cada três meses para garantir que não haveria reincidência do câncer.
“Passaram 3 meses, fez um exame e estava tudo ótimo. Mais três meses, outro exame, tudo ótimo… quando ia completar um ano da cirurgia foi constatada metástase óssea”, conta Maura. Com essa notícia, a economista pediu licença da universidade e foi à Itália ficar com o namorado. Foram muitos meses longe do Brasil. Natal, Ano Novo e aniversários. “Iamos de casa pro hospital, do hospital pra casa… e ele definhando, sentindo muita dor.. Embora eu soubesse que eu não estava perdendo o amor da minha vida, eu estava perdendo uma pessoa muito querida e vendo tudo de perto”, completa.
Durante os quase dez meses em que Maura acompanhou Renato de perto, acabou se aproximando muito de Alexandre, o melhor amigo. Na época, o namorado não tinha condições de atender a longos telefonemas e cabia à Maura informar sobre seu estado de saúde, que vinha piorando até que nada mais pudesse ser feito.
Quando Renato faleceu, a economista retornou ao Brasil e às aulas na Universidade Federal do Rio de Janeiro para o segundo semestre de 2011. Ainda sentindo muito o luto, enxugava as lágrimas e seguia com a rotina de professora. Da mesma forma que ela, Alexandre e os amigos do ex-namorado em Brasília lidavam com o próprio luto e decidiram homenagear o policial com uma missa, para a qual Maura foi convidada.
“Quando cheguei em Brasília, fui à missa, tudo muito emocionante, o Alexandre estava separado, eu estava “viúva” e tínhamos muitas coisas em comum por conta da profissão, as borboletas bateram as asas no estômago, eu não resisti!”, conta Maura. “Começamos a namorar e, um tempo depois, ele foi até Minas onde meus pais moravam e pediu a minha mão em casamento”, completa. Foi assim que a economista, que adorava ser solteira e até então estava certa de que não queria se casar, rendeu-se ao lobista e topou, inclusive, mudar-se para Brasília.
Com a mudança de cidade, Maura não poderia continuar lecionando na UFRJ. Nessa mesma época, junho de 2012, a economista foi convidada para uma entrevista no Programa do Jô. A visibilidade da televisão, a experiência como professora e os diversos livros publicados abriram as portas para Maura na esfera legislativa e outra saga teve início: seu período no Senado.
A escritora, funcionária pública do executivo, foi transferida para o legislativo para fazer parte de um projeto na TV Senado, onde ensinava economia em vídeos curtos e didáticos. Apesar de gostar do que fazia, Maura teve dificuldades em se adaptar à rotina profissional do Senado. Segundo ela, mesmo distante dos senadores, teve contato com diversos escândalos e com a morosidade do serviço público de formas que nunca havia visto antes. “Eu aguentei por dois anos, mas chegou num ponto que eu falei: não é isso que eu quero pra mim. Conversando com o Alexandre, decidimos que eu iria entrar com um pedido de licença sem vencimento”, explica.
Estava tudo certo. O marido planejava diminuir o ritmo de trabalho e morar no exterior. Ambos viam o momento como oportuno para a mudança e começaram a planejar os próximos passos. Mas no meio do caminho tinha uma Operação Lava Jato – o estopim para o segundo envolvimento indireto de Maura com o ex-presidente Lula.
Leia também: como transformar a história da sua vida em livro?
Parte 2 – A história que virou livro
A Operação Lava Jato, uma das maiores iniciativas de combate à corrupção no Brasil, foi deflagrada em março de 2014 pela Justiça Federal. O objetivo era apurar casos ativos e passivos de corrupção, lavagem de dinheiro, gestão fraudulenta e quaisquer outros crimes envolvendo o recebimento de vantagens indevidas por parte de políticos e figuras públicas do país.
As investigações tiveram diversas fases e, ao longo da apuração, foram descobertos esquemas de corrupção envolvendo a Petrobras e outras empresas – entre elas, algumas das maiores empreiteiras brasileiras, redes de postos de combustíveis e redes de hotéis. O principal acordo consistia na cobrança de propina para facilitação de negociações e aquisição de licitações para construção de grandes obras públicas. Os contratos firmados eram superfaturados e o dinheiro desviado para os doleiros era, em seguida, repassado aos envolvidos: de funcionários a políticos e seus partidos.
Por conta da forma como foi conduzida, apesar dos diversos esquemas descobertos, a operação Lava Jato é considerada hoje por muitos especialistas um fator importante para o agravamento da crise político-econômica do Brasil.
Segundo Maura, já naquela época ela e o marido tinham muitas observações contrárias à Operação. Para o casal, não parecia possível combater a corrupção destruindo a indústria nacional e a economia. Além disso, os movimentos do judiciário também não pareciam adequados.
“Parece que o judiciário sempre quis chegar ao poder, e não sabia como”, explica Maura. “Com a figura do Moro no poder, alçado na condição de herói, viram uma brecha para chegar nos cargos mais altos do poder”, completa. Em sua visão, uma prova dessa aspiração é a própria possibilidade do juiz Sérgio Moro candidatar-se à presidência da república.
A operação, que teve abrangência nacional, dividiu-se em três núcleos principais: Paraná, São Paulo e Rio de Janeiro. Além da Lava Jato, pelo menos outras 55 operações foram conduzidas em paralelo.
O papel de Moro era julgar em primeira instância os crimes identificados pela força-tarefa e, por conta de sua atuação acelerada e decisões polêmicas, ganhou destaque na mídia nacional e internacional. “Nesse momento, enquanto Sérgio Moro e o Dallagnol, bombavam em Curitiba, houve o que eu chamo de República de Brasília”, explica Maura. Segundo ela, um juiz e um procurador de Brasília quiseram ter a mesma projeção na mídia que o Paraná vinha recebendo com a Lava Jato e, a partir daí, surgiu a Operação Zelotes – destacada no título do livro escrito pela economista.
Deflagrada um ano depois da operação Lava Jato, a Zelotes surgiu para apurar o pagamento de propinas a conselheiros do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf) em troca da redução ou anulação de multas. O Carf é um órgão do Ministério da Fazenda, responsável por julgar os recursos de empresas e pessoas físicas multadas pela Receita Federal por sonegação fiscal, por exemplo.
“Vamos imaginar a Rede Globo: se ela tiver uma multa com a Receita Federal de 5 bilhões de reais, pode recorrer ao Carf para ver se é isso tudo que está devendo, se pode pagar em parcelas…”, exemplifica a economista. “A Rede Globo faz isso, os bancos fazem isso… e não há nada de ilegal nisso. Os conselheiros do Carf se reúnem e decidem se realmente podem dar um abono ou diminuir a multa”, completa. Segundo Montella, o crime ocorre quando há uma multa por parte de uma empresa e, para abonar a dívida, os membros do conselho aceitam receber parte do valor e dividi-lo entre o grupo. Isso é crime não apenas porque o dinheiro deixa de entrar nos cofres públicos, mas também porque o acordo é feito de forma clandestina e ilegal.
Apesar da importância da fiscalização do Carf, por ser um tema tão técnico, a Zelotes não recebeu a mesma visibilidade que a Lava Jato. “Enquanto o Sérgio Moro colocava o “japonês da federal” para prender a Odebrecht, o José Dirceu e Palocci, fazendo aquele escândalo de viatura e camburão na porta dos empresários e políticos às 6 horas da manhã, a Zelotes não dava mídia. Então eles começaram a se enfurecer com o fato de não estarem decolando e inverteram completamente a trajetória da Zelotes”, pontua Maura.
A partir de uma denúncia, em outubro de 2015, descobriu-se indícios de uma “venda de Medidas Provisórias” (MP) para prorrogação de incentivos fiscais ao setor automotivo. A suspeita era de que um grupo de empresários e lobistas teria pagado pelas medidas que beneficiam empresas do setor e, com isso, os envolvidos teriam recebido R$ 57 milhões de uma montadora entre 2009 e 2015 para aprovar a MP 451. “Eles esqueceram a ideia de que podia haver corrupção no Carf, só porque pegaram esse gancho da Mitsubishi estar no Carf e ter sido beneficiada pela medida que foi aprovada. Eles falaram: essa MP beneficia a Mitsubishi, a Mitsubishi contratou os lobistas, os lobistas são corruptos, o Lula é corrupto, logo, vamos mudar o viés da operação Zelotes e prender todo mundo até que alguém denuncie e a gente consiga prender o Lula na Lava Jato”, detalha a economista.
E é justamente neste ponto que as histórias se cruzam: Alexandre Paes dos Santos, marido de Maura, fez parte do grupo de lobistas que ajudou a articular a aprovação da Medida Provisória em questão. Cabe destacar que, apesar de no Brasil a prática de lobby ter conotação negativa, essa atividade é fundamental para a economia e é totalmente legal. Os lobistas integram grupos organizados de representação de interesses junto a agentes políticos. São contratados para defender demandas e atuam como intermediários entre seus clientes e o poder público. É claro que, assim como as demais atividades exercidas no Brasil, o lobby também é passivo de corrupção, mas a prática é bastante comum e está em conformidade com a lei.
De acordo com Montella, a MP investigada apenas estendia benefícios já concedidos à indústria por Fernando Henrique Cardoso, 10 anos antes. Na época em que foi assinada pela primeira vez, não houve qualquer suspeita de corrupção, mas uma década mais tarde, quando os lobistas se reuniram para defender a MP (e postergá-la por mais 10 anos), é que o caso ganhou destaque. Ainda segundo ela, a principal motivação por trás das investigações era justamente impedir a candidatura de Lula nas próximas eleições.
Depois da denúncia do Ministério Público Federal (MPF), em dezembro de 2015, 16 pessoas tornaram-se réus, suspeitas de terem participado do esquema. Entre eles, Alexandre, marido de Maura, que ficou preso preventivamente (antes de julgamento e condenação) por seis meses no Complexo Penitenciário da Papuda, no Distrito Federal, e completamente absolvido em 2020.
“Tive meu marido arrancado de dentro da minha casa às 6 horas da manhã. Um trauma maior do que todos os meses que eu passei com meu namorado italiano que morreu de câncer. Porque é uma coisa que você não espera… Quando ele foi para a prisão, um ambiente que eu jamais imaginei estar dentro, eu sabia ele não estava em uma prisão tipo Carandiru porque eu já tinha visto imagens da prisão de Curitiba e os presos da Lava Jato estavam em um local “melhor”… mas era um soco no estômago, você estar preso por um crime que você não cometeu – aliás, por uma atitude que não é criminosa.”, detalha a escritora. Para ela, escrever o livro “Era só para envolver o Lula na Zelotes” serviu como uma forma de extravasar o sentimento de injustiça por tudo o que estava acontecendo.
O livro foi feito em tempo real, durante a prisão do marido. Foram quatro meses de dedicação e entrega à escrita – o ponto final foi digitado assim que Alexandre voltou para casa. Não houve reescrita ou continuação. Toda revolta impressa no texto permaneceu intacta, exatamente como registrada inicialmente. À medida que escrevia, dando nome a juizes e procuradores, Maura sentia-se vingada. Enquanto transformava lágrimas em palavras, a economista fez da escrita sua catarse. A injustiça foi seu combustível para registrar tudo o que viveu nesses 180 dias.
Parte 3 – O livro que virou filme
Por orientação de seus advogados, Maura precisou esperar para publicar o livro “Era só para envolver o Lula na Zelotes”. O caos da cena política brasileira também tornou as coisas mais difíceis para o lançamento da obra: na época, o Juiz Sérgio Moro ainda era visto como um herói e seria muito arriscado para qualquer editora comprar a ideia de um livro que não fosse a favor da Lava Jato. “Eu estava mostrando todas as falcatruas que a Lava Jato estava fazendo só para tirar o Lula da reta e colocar outros candidatos do interesse deles. Não era um livro, em pró-Lula, não era em favor do PT, era um livro contra o que o judiciário estava fazendo para aparecer e colocar seu time nas eleições. Não tinha nenhuma editora que quisesse navegar contra a maré”, relembra a autora.
Com o aval dos advogados, somente depois da sentença final que inocentou o marido, Maura pode finalmente compartilhar o livro. A solução foi investir na publicação independente, da qual a autora é fã e já havia experimentado. Só no Clube de Autores, Maura Montella já publicou 11 livros, dos mais variados temas: economia básica, dicas de italiano, ficção para crianças e ortografia. O último, sobre a Zelotes, é justamente o que mais destoa dos anteriores, pois escapa completamente da linguagem técnica e da ficção. É uma história pessoal sobre um assunto de interesse público – e que envolve o leitor do início ao fim.
Enquanto esperava a sentença, Maura compartilhou o livro com um amigo jornalista, que ficou encantado com a forma como a história era narrada. Sentindo a dor da amiga por não poder contar sua história publicamente, sugeriu que um segundo livro fosse escrito: desta vez, com personagens fictícios para que a obra não fosse barrada – o que Maura negou prontamente. “Eu já estava sofrendo por ter um livro na gaveta… imagina ficaria com dois livros engavetados! Mas com o tempo, alguém (acho que ele mesmo) deu a ideia: só se você fizer cinema”.
A ideia não foi pra frente de imediato, mas também não foi esquecida pela autora. Inquieta e com a tendência a misturar lazer e trabalho, Maura procurou na internet o contato das produtoras de filmes do Brasil. Ligou, enviou e-mails despretensiosos que supostamente seriam encaminhados aos diretores e seguiu com a divulgação do livro – que foi feita, principalmente, via Twitter.
“Mais ou menos um ano depois dessa loucura, um dos sócios da Tv Zero me procurou. Ele abriu sua própria produtora, a Pontos de Fuga e começamos a conversar”, conta a economista. Leonardo Domingues contou a Maura sobre uma pessoa muito próxima de sua família que sofreu com os “desmandos da Lava Jato” e que, por isso, havia se identificado com a obra da autora.
Conversa vai, conversa vem, e a ideia de produzir um longa começou a ganhar corpo. Na época, Domingues tinha acabado de lançar o filme “Simonal” (2019), protagonizado por Isis Valverde e Fabrício Boliveira, ao qual Maura assistiu e adorou. O longa concorreu em 10 categorias do Grande Prêmio do Cinema Brasileiro de 2020 e ganhou quatro delas – incluindo a de Melhor Primeira Direção.
Meses depois, Montella assina o longa como roteirista principal, adaptando a história para o cinema junto com Domingues e Catarina Félix – diretores do filme. “É um filme de ficção justamente para eu poder carregar na tinta. Porque ficção é sempre ficção e não corre o risco de eu ser incriminada”, explica Maura. Neste momento, o trio finaliza o roteiro, que está pronto para as etapas seguintes: busca de patrocínio e financiamento. A expectativa é que o longa seja lançado em 2023 e, embora a autora não tenha envolvimento com esta parte, que fica a cargo da produtora, ainda há muito trabalho a ser feito para divulgação da obra – conduzida, principalmente, via redes sociais.
Ainda que o roteiro seja uma adaptação baseada em fatos ocorridos em 2016, não há dúvidas quanto a atualidade do tema. Segundo a autora (e roteirista), a história que começou antes mesmo da Zelotes, com a Lava Jato, ainda não acabou – e é isso que torna o enredo tão atual. “Estamos sofrendo as consequências agora por conta dos desmandos – tanto em primeira instância em Curitiba com o Sérgio Moro, quanto com a força tarefa capitaneada pelo Deltan Dallagnol”, desabafa Maura. “Não houve ainda uma consequência maior para esses primeiros personagens. A história só vai acabar quando eles forem colocados nos seus devidos lugares”, completa.
A adaptação do livro para o cinema já tem título. Se tudo correr conforme o esperado, “O Alvo” deve começar a ser filmado em 2022 – ano de eleição presidencial no Brasil. “Eu abro esse livro com uma epígrafe de um autor desconhecido e que tem muito a ver com aquele momento e com o que vivo hoje, ela diz assim: o lobo será sempre mau se você só ouvir a versão da chapeuzinho vermelho”, conta Maura. Para ela, a materialização do livro e do roteiro são uma forma de contar sua versão dessa história que já conhecemos, mas ainda não sabemos como vai terminar.
Ping-pong com a economista, escritora e roteirista, Maura Montella:
Clube de Autores: O filme é baseado em fatos reais, mas os personagens são ficcionais. Por que? Quais foram suas inspirações para a criação destas figuras?
Maura Montella: Tem 4 personagens reais que aparecem: o Lula, a Dilma, o Moro e o Dallagnol, mas não tem artistas que os representem. Quando eles aparecem, são inseridos no roteiro com matérias, entrevistas, imagens… não é exatamente a mesma história minha ou do Alexandre, porque tem muita ação e romance, mas são a Lara e o Adriano, que seriam a Maura e o Alexandre.
Clube de Autores: Como está sendo sua primeira experiência com roteiro para o cinema?
Maura Montella: Está sendo maravilhosa. Como costumo misturar trabalho e prazer, quando começou essa história de fazer roteiro, pensei, então vamos aprender a fazer roteiro! Aí vem a Maura autodidata. Eu compro todos os livros e estudo, viro noite, olhando, estudando, marcando os livros… Teve também em Brasília um cursinho de fim de semana de dois dias, dado por um roteirista de São Paulo, eu já me inscrevi e fiz… É claro que em dois dias você não aprende muita coisa, mas eu já estava me sentindo mais confiante, fora os livros que eu estava estudando sozinha.
Pegamos justamente a época da pandemia, o Leonardo e a Catarina moram no Rio, eu em Brasília, fora as minhas viagens… então nossas reuniões são por videoconferência. Cada reunião é uma aula, porque eles são profissionais e eu não. E eu gostei muito desse novo papel, porque sendo professora eu sempre ensinei, e agora eu estou aprendendo.
Clube de Autores: Você assina o roteiro junto com outras duas pessoas. Como foi ter outras pessoas participando do processo de adaptação?
Maura Montella: Foi muito difícil pra mim… e muito prazeroso. Eu estava acostumada a trabalhar sozinha: minha tese de mestrado, doutorado, 10 livros… fiz sozinha. E de repente eu não estava sendo ajudada, eu precisava da ajuda deles para escrever o roteiro! E foi uma mudança muito satisfatória, porque chega nessa altura do campeonato você deixar de ser professor e passar a ser aluno, é muito legal também. Estou muito encantada com esse processo.
Clube de Autores: Você tem planos para escrever outros livros?
Maura Montella: Toda vez que o bichinho da escrita começa a me fazer coceira eu paro: fecho os olhos e penso, pelo amor de deus bichinho vá embora. Ao mesmo tempo que o livro te dá uma sensação de desabafo, é trabalhoso. Quando a inspiração vem de madrugada (e geralmente vem de madrugada quando você já está deitada e tem que levantar para escrever para não deixar a ideia escapar) é trabalhoso! Mas é muito gostoso, então fico nesse dilema de espantar o bichinho da escrita, mas ao mesmo tempo, se ele voltar a me importunar, eu acho que estou preparada para escrever outros livros.
E aí, também ficou ansioso para a estreia do filme “O Alvo”?
Enquanto isso, que tal conhecer as outras obras de Maura Montella? Confira o perfil completo da autora aqui no Clube.
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Sobre a Maura e o os livros publicados, fica a nítida impressão de que a vida dela está sendo biografada, em episódios.
Boa tarde eu publiquei um livro com vocês e não consegui encontrar o numer ASIN . Vocês realmente publicam o livro ou só colocam para vender, eis que sem o código ASIN não há publicação.
Olá, Leunir. Tudo bem?
O ASIN é um código específico da Amazon gerado e atribuído pela Amazon sempre que um parceiro cadastra um livro para venda na empresa. Caso o seu livro possua ISBN, tenha capa mole e tenha sido autorizado pelo autor a ser vendido através de parceiros, ele será cadastrado para venda na Amazon (caso ainda não tenha sido cadastrado) a a informação sobre o ASIN atribuído pela empresa poderá ser checado na página da Amazon onde o livro se encontra disponível para venda.
Nossa, um filme sobre o Lula hoje vai lotar os cinemas, igual ao filme do Marighella.