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Como ter ideias para escrever um livro

Quer escrever um livro e não sabe por onde começar? Confira as dicas que preparamos e aventure-se! :)

O Clube de Autores foi criado sob o princípio de que todo mundo tem uma história para compartilhar. Vivemos e morremos por este princípio que, até hoje, se mostrou absolutamente real. Mas isso não significa, claro, que todos estejam motivados, inspirados e prontos para passar suas crenças e visões de mundo mais profundas para o papel. E essa passagem, obviamente, é chave.

A grande questão que aflora é: como instigar a mente a comandar os dedos para metamorfosear pensamentos em letras, palavras, frases, capítulos e, em suma, em uma ou mais histórias? 

Cada autor inspira-se de forma única

Se você é um escritor, são grandes as chances de já ter a resposta consigo (ainda que seja acometido pelo temido bloqueio criativo de vez em quando). Então, faça a pergunta a si mesmo: o que te motiva a registrar parte tão íntima dos seus pensamentos, das suas histórias e das suas fantasias?

E, principalmente, como fazer essa inspiração surgir?

Quase sempre, as respostas que recebemos são tão abstratas quanto conclusivas. Diferentemente do imaginário dos leitores, a inspiração costuma realmente bater de forma única para cada um. Em alguns momentos, a declamação de uma poesia é suficiente para fazer o sangue de escritor pulsar mais forte; em outros, basta um anônimo balbuciar qualquer coisa sem sentido no meio da rua.

Há situações em que é necessário organizar todo ambiente para organizar as ideias: iluminação perfeita, poltrona adequada, silêncio absoluto ao fundo; mas há também os que consigam escrever apenas quando estão no meio de um ambiente tão tumultuado quanto a própria vida.

Seja lá qual for o caso, desistimos da busca por uma definição mais clara da inspiração: isso é, de fato, como buscar uma resposta sobre o sentido da vida. Em vez de tentarmos definir um conceito tão abstrato, vamos a alguns exemplos de como você pode (tentar) buscas sua própria inspiração? :)

Técnicas inspiradoras de grandes escritores

Não há uma resposta mágica, uma espécie de receita padronizada para isso: escrever sempre foi, é e sempre será algo extremamente pessoal. Saramago, por exemplo, lançava perguntas hipotéticas ao universo e transformava suas respostas em enredos. Foi hipotetizando sobre “o que aconteceria se a morte tirasse férias”, por exemplo, que ele concebeu “As Intermitências da Morte”, uma de suas obras primas.

Khaled Husseini, autor do best-seller “O Caçador de Pipas”, diz se inspirar vendo o noticiário. Foi, aliás, uma notícia na TV sobre competições de pipas serem proibidas pelo Talibã que inspirou o seu livro mais famoso.

E, claro, entre lançar perguntas surreais ao cosmo e assistir ao Jornal Nacional certamente há todo um abismo de ideias e inspirações.

Longe de querer sintetizar tudo em um compilado monótono, como se genialidades nascessem a torto e à direita, este post tem um objetivo que se situa entre a mera curiosidade e um empurrãozinho aos que estiverem sofrendo de bloqueio criativo: uma lista com algumas das técnicas mais utilizadas por autores de todo o mundo e através dos tempos para se destrancar a palavra escrita de dentro dos seus cérebros.

Mas não nos atenhamos unicamente a elas, claro. Uma vez escrita, toda história tem um caminho loooongo pela frente, até se transformar em livro.

Vamos lá?

Como ter ideias para escrever uma obra? 10 dicas 

1. Leia. Muito. 

A maior fonte de inspiração para se escrever um livro costuma ser um outro livro. Um, não: vários. Quanto mais intimidade você tiver com obras primas de gênios como Murakami, Rulfo, Guimarães Rosa, Machado de Assis, Mia Couto, Clarice Lispector e outros tantos, mais intimidade você terá com o próprio conceito de narrativa.

Deixar-se ser envolvido por estilos literários que transcendem e transformam o próprio conceito de poesia costuma mexer fundo no coração – mais especificamente na parte dele que mais importa, naquele ponto escondido de onde nascem todas as emoções. Faça, então, o óbvio: vá a uma livraria ou confira os livros independentes publicados aqui no Clube.

2. Tenha sempre um caderno à mão – e use-o sem economia.

Não, não é necessário ser exatamente um caderno: pode ser um tablet ou até mesmo o seu celular. O importante, mesmo, é que você tenha o hábito de registrar imediatamente qualquer sinal de ideia que – quem sabe? – tenha algum potencial de amadurecer em forma de livro.

Pode ser uma observação casual do cotidiano, o registro de um sonho, uma frase que achou bonita ou qualquer coisa. Simplesmente escreva, registre, anote. Nunca se sabe exatamente o que destranca ideias do cérebro.

3. Cace arte – e recrie a história por trás de cada peça que achar.

Olhe em volta. Onde quer que você viva, são imensas as chances de estar cercado por obras de arte. Sejam esculturas, telas, prédios ou casarões, grafites ou qualquer outra manifestação artística, é relativamente fácil se deparar com algo capaz de te extrair do lugar-comum.

Aprenda a perceber a arte e, principalmente, a deixar a curiosidade dominar seu olhar. Toda obra, afinal, tem uma história por trás –  e é nessa história que reside a sua maior densidade. Foi a um museu e se encantou com uma peça específica? Pesquise-a, ainda que com o próprio celular navegando na Wikipedia. Quem foi o autor? Em que período ela foi feita? Por que motivo? O que deveria representar? Quem encomendou? O que ela deveria representar?

Para cada peça que olhar, brinque de engenheiro de obra pronta e tente imaginar toda a história por trás dela, tanto emocional quanto cronologicamente. Obras de arte mais plásticas (como quadros ou esculturas) costumam ser uma espécie de capítulo final de um livro cujos capítulos iniciais podem ser criados por cada espectador. E isso permite um tipo de exercício criativo fenomenal.

4. Aprenda a provocar emoções com as palavras.

Escritores são, essencialmente, artesãos de palavras. Nesse sentido, cada frase pode ser pensada, esculpida e retrabalhada de maneira a gerar mais impacto em seu ouvinte ou leitor. Aprenda a brincar com palavras, a substituir as monótonas colocações do nosso cotidiano com termos buscados nos mais bem guardados baús do nosso belíssimo idioma.

Livros, afinal, são ideias traduzidas em um encadeamento poético de palavras. Quanto mais você dominar o seu idioma, melhor conseguirá destravar conceitos e deixar histórias fluírem soltas.

5. Decida o gênero que quer escrever.

Drama? Filosofia? Comédia? Terror? Ficção científica? Até é possível mesclar pitadas de um gênero com outro mas, no geral, todo livro costuma se enquadrar em um perfil mais geral. E isso não é ruim.

Ao contrário: quanto mais claro estiver para si mesmo o gênero que você deseja escrever, mais fácil será buscar referências e escrevê-lo.

6. Não tente imitar alguns para agradar a todos

Um dos grandes erros que autores costumam cometer é tentar construir histórias que agradem ao que eles entendem como “massa de leitores”. “Paulo Coelho é um best-seller? Então tentarei escrever igual a ele!”.

Poucas ideias podem ser piores que essa – até porque um livro é, por excelência, um espelho do seu autor. Quanto mais rápido o autor entender que suas chances de sucesso são maiores na medida em que ele se entregar ao seu próprio estilo, melhor. Ser você mesmo é uma garantia de sucesso? Infelizmente, não – o mercado literário é, possivelmente, o mais concorrido do mundo. Mas tentar ser outra pessoa é uma garantia de fracasso.

7. Teste sua história

Pensou em algo que pode ser um bom começo ou uma boa base para um livro? Teste.

Crie uma espécie de sinopse mental e compartilhe-a com algum amigo ou leitor em potencial. Perceba a sua reação, esforçando-se para separar aprovações educadas de entusiasmos sinceros. Nem sempre o que nos parece uma boa ideia, afinal, tem potencial concreto para se transformar em um bom livro, e testar a capacidade de retenção de atenção é sempre um caminho aconselhável.

Ou seja: absorva tudo o que puder dos feedbacks e cresça com eles!

8. Não se veja como um gênio incompreendido

Depois de testar a sua história uma, duas ou três vezes e receber olhares mais reprovadores, é comum que o escritor busque refúgio ou alívio no pensamento de que seu texto está perfeito, mas além do alcance das pessoas. Esqueça isso.

Claro: nem todo livro funcionará para todo mundo, mas se você escolheu bem os “críticos” para quem contou ou mostrou a sua tese (ou sinopse mental, como colocamos na dica acima), então confie nas opiniões que ouvir.

Em última instância, force-se a acreditar que não existem gênios incompreendidos: existem escritores que não conseguiram concatenar suas ideias direito. Quanto mais você colocar a culpa nos outros, afinal, menos conseguirá mudar para evoluir.

9. Dedique-se a uma primeira frase

“Ao verme que primeiro roeu as frias carnes do meu cadáver dedico como saudosa lembrança estas memórias póstumas.” Foi assim que Machado de Assis abriu a sua obra prima, Memórias Póstumas de Brás Cubas – com uma primeira frase que praticamente cola o olhar do leitor ao livro e o impele a devorar cada uma de suas próximas páginas.

Não se costuma dizer que a primeira impressão é a que fica? Pois bem: em um livro, uma primeira frase bem elaborada tem o potencial de transformar a experiência do leitor – e de atiçar a imaginação do autor em níveis incríveis.

10. Deixe o texto ganhar vida própria; depois, dedique-se a podá-lo

Em um determinado momento, suas mãos parecerão ter vida própria e sairão escrevendo a uma velocidade maior que a do seu próprio cérebro. Não se censure aqui: deixe o texto crescer por conta própria, tomar os caminhos que preferir, dominar o papel com toda a coragem de um adolescente descobrindo o mundo.

Mas tenha claro para si que o que quer que resulte daí não será o seu trabalho final. Uma vez escrita essa primeira versão do livro, transforme-se em carrasco de si mesmo e dedique-se a ler e a reler, a cortar trechos desnecessários, a organizar eventuais caos incompreensíveis e a ceifar capítulos inteiros com a frieza de um legista.  O mexicano Juan Rulfo, aliás, costumava dizer que escrever é a parte mais rápida de um livro: o trabalho mesmo estava no passo seguinte, quando ele começava a aparar as arestas de cada uma das suas próprias frases. Foi assim que ele deu ao mundo Pedro Páramo, um dos livros mais celebrados da história.

Seu livro preferido é só uma história escrita por alguém? Ou o início da sua obra prima?

É comum o mercado inteiro considerar um livro como uma espécie de ponto final de uma jornada de conhecimento. E isso até pode ser (parcialmente) verdade sob a ótica de um autor – mas e do leitor?

Imagine, por exemplo, um livro como Mulheres de Saramago, publicado aqui no Clube. É óbvio que o livro em si já traz toda a sua própria narrativa e os pensamentos do autor – mas, para o leitor, ele pode ser um ponto de partida para uma jornada ainda mais ampla.

A partir desse livro, ele pode se interessar por outras obras, algumas do próprio mestre Saramago. Pode acessar artigos sobre Memorial do Convento ou Ensaio sobre a Cegueira; pode querer ver o filme feito sobre o último; ver entrevistas no YouTube envolvendo Saramago e estudiosos sobre ele; e assim por diante.

Para um leitor interessado, todo livro funciona como uma semente para uma nova árvore de conhecimento, com raízes e galhos imensos que podem se desdobrar até o infinito.

O futuro do livro é ser sempre um novo começo

Se você é um autor (e mesmo que não seja), deixe todos os seus preconceitos de lado e abrace tudo em relação ao nosso mundo atual. Quer ler, para ficar em um outro exemplo, Morte em Veneza, do brilhante Thomas Mann? Vá também à Wikipedia e pesquise sobre o autor e a obra. Você descobrirá, por exemplo, que o personagem principal se baseia em Mahler. Vá ao Spotify, escute esse gênio da música. Depois volte e leia os contemporâneos de Mann – como Nietzsche, que certamente o inspirou.

Sabe o que acontecerá? Você será dragado por uma espiral filosófica que terá como consequência natural cutucar tantos neurônios que escrever será uma inevitável válvula de escape.

E isso serve para todo e qualquer livro: de Saramago a Mann, de Guimarães Rosa a García-Marquez. Todo e qualquer livro é uma porta aberta para um universo que, via de regra, é maior que ele mesmo.

Por que isso interessa a você, escritor?

Porque pesquisa e inspiração são ingredientes fundamentais para qualquer livro.

Escrever é mais que um ato isolado, hermeticamente trancado dentro de um lampejo de inspiração qualquer: um bom livro depende de boas referências. E não entenda “boas referências” como alguma espécie de juízo de valor sobre um ou outro livro. Toda referência literária pode ser boa desde que o leitor se permita mergulhar aprofundadamente nela, pescando as pérolas que todo autor traz dentro de si.

Quer escrever uma obra prima? Leia, inspire-se. Já dissemos isso algumas vezes e repetimos sempre: não há como ser um bom escritor se você não for um bom leitor.

Escreveu seu livro? E agora?

Passou por tudo isso? Seu livro está já escrito e pronto para ser lançado?

Parabéns: todos têm uma história para compartilhar mas, se dúvidas, são poucos os que realmente conseguem tirá-la da cabeça e colocá-la no papel.

O próximo passo? Publique aqui no Clube de Autores gratuitamente, nos formatos impresso e digital, e esteja presente nas maiores livrarias do país e do mundo!

texto em fundo roxo "publique sua obra"

Quer mais dicas sobre o processo de escrita? Confira os artigos:

Como escrever um livro de sucesso?
Como se tornar um escritor?

Ricardo Almeida

Sou fundador e CEO do Clube de Autores, maior plataforma de autopublicação do Brasil e que hoje responde por 27% de todos os livros anualmente publicados no país. Premiado como empreendedor mais inovador do mundo no segmento de publishing pela London Book Fair de 2014, sou também escritor, triatleta e, acima de tudo, pai de família :)

9 comentários em “Como ter ideias para escrever um livro

  1. Estou a procura de uma Editora para publicar os meus livros: “90 Dias no céu” e 40 Mártires de Sebaste”.

  2. Olá! boa tarde.
    Tenho uma pergunta. Escrever é dom ou prática? Não sei porque mas as histórias simplesmente nascem na minha cabeça. Até achei que todas as pessoas seriam assim. Mas, ao conversar com uma amiga ela me disse que ela não era assim. Vivo minha vida normalmente e quando dou por mim já tenho uma história sendo contada na minha cabeça. Isso é natural? Ou isso é sinal que posso escrever? Obrigada!

    1. Oi, Josiane!
      Não temos uma resposta para essa pergunta. Afinal, escrever não é uma ciência exata.
      Acreditamos que a prática pode sim ajudar a tornar as histórias mais fáceis de serem contadas, mas certamente mentes criativas terão mais habilidade para criar enredos e viajar pelo faz-de-conta.

      Aproveite a sua para escrever um livro! Estamos ansiosos para conhecer sua escrita.

  3. Gostei das dicas!
    Escrevi uma história em algumas páginas captada de um sonho que tive e criei um enredo totalmente envolvente. Dei então para uma amiga ler e o comentário dela me motivou a buscar mais informações de como iniciar um livro.
    Vou tentar seguir essas dicas.
    Obrigado!

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