Se olharmos atentamente para as histórias contadas em livros ou filmes, é possível identificar traços de personalidade semelhantes em cada narrativa. Sim, cada personagem é único e possui características exclusivas que fazem dele uma persona original. Porém, não é novidade que existem recorrências nos papéis.
Esses padrões são chamados de arquétipos sendo sobre isso que falaremos neste artigo. Confira! :)
O que são arquétipos?
Conforme o psicólogo suíço Carl G. Jung, arquétipos são padrões de personalidade compartilhados por toda a humanidade.
Segundo ele, existe um inconsciente coletivo, onde contos de fadas e mitos funcionam como sonhos de uma cultura inteira. Ou seja: apesar da variação de tempo, culturas e experiências, existe certa constância nas personalidades dos indivíduos.
Saiba como começar a escrever um livro.
Arquétipos e funções, segundo Vogler
Tomando as teorias de Jung e Joseph Campbell (criador da Jornada do Herói) como ponto de partida, Christopher Vogler explica os arquétipos mais utilizados na literatura e no cinema, em sua obra “A Jornada do Escritor”.
O livro apresenta em detalhes as principais características de cada tipo de personalidade. Além disso, explica como esses papeis podem confundir-se em um mesmo personagem. Confira o trecho extraído da obra:
“Quando comecei a lidar com essas ideias, pensava num arquétipo como um papel fixo, que um personagem desempenharia com exclusividade no decorrer de uma história. Quando identificava que um personagem era um mentor, esperava que ele fosse até o fim sendo mentor, e apenas mentor.
Entretanto, quando fui trabalhar com os motivos de contos de fadas, como consultor de histórias para a Disney, descobri outra maneira de encarar os arquétipos — não como papéis rígidos para os personagens, mas como funções que eles desempenham temporariamente para obter certos efeitos numa história”
Leia mais: como escolher o nome para os personagens do seu livro?
Características de cada arquétipo:
Heroi
O herói é quem conduz a história (normalmente destacando-se como protagonista). Parafraseando Vogler, “a raiz da ideia de Herói está ligada a um sacrifício de si.” Normalmente o livro é narrado a partir do seu ponto de vista.
Mentor: velha ou velho sábio
Sabe aquele personagem que aconselha o herói, possui mais experiência que ele ou já passou por situações semelhantes ao longo da vida? Esse tipo de personalidade pode ser classificada como “mentora” e normalmente se apresenta como uma pessoa mais velha.
Guardião de limiar
Para ganhar a batalha, o herói precisa superar obstáculos (sejam pessoas, objetos ou lugares). Os guardiões de limiar são colocados no caminho do protagonista e precisam ser ultrapassados, mas nem sempre são figuras “do mal”. Podem ser capatazes do vilão ou personagens neutros.
Arauto
Acontecimentos ou pessoas que “empurram” o herói em sua jornada são chamados de Arautos. Eles se apresentam em forma de desafios, são a força catalisadora para que a narrativa se desenrole.
Camaleão
A função do camaleão é ser instável e, por isso, nem sempre é fácil identificá-lo. Seu papel mais comum é o de par ou interesse romântico do herói. Segundo Vogler, “os Camaleões mudam de aparência ou de estado de espírito. Tanto para o herói como para o público, é difícil ter certeza do que eles são. Podem induzir o herói ao erro ou deixá-lo na dúvida, sua lealdade ou sinceridade estão sempre em questão”.
Sombra
O vilão da história possui o arquétipo de “sombra”. Seus objetivos são sempre diferentes dos apresentados pelo herói e, por isso, talvez seja necessário destruí-lo. É muito comum existirem traços semelhantes de personalidade entre vilão e heroi, porém, as características da sobra refletem geralmente os pontos negativos.
Pícaro
O pícaro entra em cena como um “alívio cômico”, trazendo um pouco de leveza para a história, mesmo em situações difíceis. Suas ações são normalmente carregadas de humor e críticas, sendo fundamentais para o herói tomar decisões necessárias.
Como identificar a natureza de um arquétipo?
No livro, Vogler nos convida ainda e analisar a natureza que compõe cada um dos arquétipos. Segundo ele, existem duas perguntas capazes de nos auxiliar nesta jornada:
- Que função psicológica ou que parte da personalidade ele representa?
- Qual sua função dramática na história?
A resposta para a primeira questão concentra-se nas características que cada personagem apresenta. O herói, por exemplo, é aquele que tenta proteger os outros e se arrisca, aceitando sacrifícios por um bem maior. Todos temos mais de uma característica em nós, mas a principal função psicológica é a que mais se destaca entre elas.
Já a segunda questão gira em torno das funções que o arquétipo de cada personagem têm para a história. Ou seja, qual papel ele desempenha: gerar identificação com a plateia, promover a ação da narrativa, sacrificar-se ou aprender com os erros, por exemplo.
E você? Já sabe como utilizar esses conceitos para complementar sua escrita? :)
Confira artigos relacionados:
Cinco personagens principais marcantes para você se inspirar
Parasita: lições do filme para escritores
Sobre os Ossos dos Mortos: lições do livro para criar personagens
Está faltando o arquétipo Aliados, que geralmente é esquecido porém é bastante importante
Estou estudando a jornada do Herói e suas variações. Quem tiver interesse em se aprofundar no assunto, fazendo link com as mais diversas mídias pode me add no whats 83991088557