Sobre Fan Fics

O mundo superconectado trouxe consigo algumas características curiosas: o abandono do conceito de privacidade por muitas pessoas, um “boom” nos hábitos de leitura e uma espécie de globalização cultural sem precedentes.

Nessa toada, um novo gênero literário surgiu com força total: as fan fics, ou fan fictions. Para quem não conhece, são livros escritos com base em personagens ou enredos de outras histórias mais famosas (como Senhor dos Aneis, Harry Potter, Start Trek e tantas outras).

Há um “quê” de marginalidade nesse novo gênero: muitas das editoras das obras originais são simplesmente contrários a eles, considerando-os infratores de direitos autorais e, portanto, criminosos. Curioso esse ímpeto de considerar fãs ardorosos como bandidos, aliás.

Mas, claro, há um bom senso imperando na maioria dos casos: é difícil imaginar a Pottermore, empresa que cuida da obra de Harry Potter, processando seus próprios fãs. O escândalo em mídias sociais seria tamanho que ela teria mais a perder do que a ganhar.

OK… mas isso torna o gênero algo legal?

Não.

Na teoria e na prática, personagens e enredos tem direitos autorais assegurados por lei e qualquer uso indevido pode resultar em penalidades severas para o infrator.

Isso significa, portanto, que há uma zona cinzenta onde esse gênero se enquadra: ele não é legal (do ponto de vista jurídico) – mas qualquer tipo de processo movido pelo detentor dos direitos, embora com o apoio da lei, não é “legal” do ponto de vista da manutenção de uma audiência de fãs fiel.

O que fazer então? Negociar individualmente pode ser uma solução, desde que se entenda que a maioria das editoras, sempre antiquadas na sua forma de pensar e ver o mundo, cordialmente negarão qualquer forma de autorização. Na prática, muitos preferem enfrentar os riscos e seguir adiante, arcando com possíveis consequências.

Mas o fato é que fan fics são um espelho de um novo mundo que veio para ficar e que, mais cedo ou mais tarde, as grandes editoras precisarão articular uma solução mais clara para a convivência com elas.

A propósito, há um livro aqui no Clube que fala especificamente sobre essas questões sob aspectos que vão do cultural ao legal inseridos na realidade brasileira. Recomendo a todos que forem curiosos sobre o tema ou que se enquadrarem como autores: https://www.clubedeautores.com.br/book/137578–Fanfiction_Fragmentos_da_ficcao#.VNCv0FXF-LE

A propósito disso, cabe uma pergunta? O que você acha sobre fan fics? É contra? A favor? Ou acha um movimento simplesmente inevitável?

Ricardo Almeida

Sou fundador e CEO do Clube de Autores, maior plataforma de autopublicação do Brasil e que hoje responde por 27% de todos os livros anualmente publicados no país. Premiado como empreendedor mais inovador do mundo no segmento de publishing pela London Book Fair de 2014, sou também escritor, triatleta e, acima de tudo, pai de família :)

2 comentários em “Sobre Fan Fics

  1. Acredito que seja inevitável
    A Internet revolucionou a comunicação no planeta.
    E isso é definitivo.
    A lei terá que acompanhar esses movimentos, prevendo novos ajustes para tais situações; autores e editoras precisarão lidar com essa questão com maior flexibilidade.
    Boas ideias são sempre copiadas, e aprimoradas a partir daí. Isso acontece em todas as áreas do conhecimento humano, desde a invenção da roda.
    Bons livros inspiram as pessoas !! Podem criar polêmica, gerar comentários, reflexões, pesquisas adicionais e outros livros com o mesmo tema.
    Chega a ser uma homenagem ao autor. Será que isso é mesmo um problema?
    Muitos novos talentos podem ser revelados desta forma.
    Aliás, o livro ” 50 Tons de Cinza” surgiu de uma Fan fic, vocês sabiam?
    E faturou milhões !!
    Se alguém ganha dinheiro com Fan fic, parabéns.
    É sinal que tem talento, pois o melhor dos personagens não sustenta um texto ruim.
    Sucesso aos autores aqui do Clube! Que vocês escrevam livros tão bons, e fiquem
    tão famosos, que inspirem outros autores na caminhada :-)

    Abraços,

    Shirley

  2. Pessoalmente, acho inevitável, tanto quanto “ilegal.” Assisti uma reportagem sobre o assunto, onde o autor(a) no caso, “plagiado” era Agatha Christie, com seu mais ilustre personagem: Hercule Poirot. Não nego que achei interessante, pelo o fato de está trazendo de volta um dos maiores personagens do gênero policial, mas acho injusto alguém criar um personagem com tanto carinho e inspiração, e vem outro e se apossa com a desculpa de satisfazer o desejo dos fans. Faturar uma nota pegando carona no trabalho dos outros.
    Se tem talento crie suas histórias, se não tem compre os livros e aplauda.

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