“Um personagem que só ‘vê’ o mundo é como um robô. Mas quando ele sente o cheiro de pão queimado da padaria da esquina, ouve o rangido suspeito do porão ou toca o tecido áspero de um casaco abandonado… magicamente, ele ganha vida. E o leitor mergulha na história”
Você pode não perceber, mas os sentidos humanos são essenciais na representação das cenas, ambientação e descrição de personagens. Uma boa narrativa sempre explorará os cinco sentidos e, neste post, você vai aprender como eles podem criar cenas vívidas, transmitir emoções e até esconder pistas na sua história. Vamos lá?
Quais são os cinco sentidos humanos?
Antes de mergulharmos nas técnicas narrativas, é essencial entender como os seres humanos experienciam o mundo – e como você, escritor, pode replicar isso na sua escrita para criar personagens vibrantes e imersivos.
Os cinco sentidos clássicos
Você já sabe quais são, agora, entenda como eles são usados numa narrativa.
Visão
- Função biológica: percepção de luz, cores, formas e movimento através dos olhos.
- Na escrita: É o sentido mais usado, mas também o mais superficial se limitado a descrições passivas.
Audição
- Função biológica: captação de ondas sonoras pelos ouvidos, desde sussurros até estrondos.
- Na escrita: fundamental para criar atmosfera, revelar diálogos ocultos ou antecipar perigos.
Olfato
- Função biológica: detecção de moléculas aromáticas pelo nariz, diretamente ligada à memória e emoção.
- Na escrita: pode evocar lembranças poderosas, alertar para perigos invisíveis ou definir ambientes.
Tato
- Função biológica: percepção de textura, temperatura, pressão e dor através da pele.
- Na escrita: constrói intimidade ou repulsa, além de transmitir sensações físicas com alto impacto emocional.
Paladar
- Função biológica: identificação de sabores (doce, salgado, azedo, amargo, umami) pela língua.
- Na escrita: subutilizado, mas essencial para cenas de ritual, cultura ou trauma.
Sentidos Adicionais (para narrativas complexas)
- Cinestesia: percepção do movimento corporal (ex.: personagem percebe que está sendo arrastado no escuro).
- Termocepção: sensação de calor/frio sem tocar (ex.: o “arrepio” ao entrar em um lugar assombrado).
- Equilíbrio: sensação de vertigem ou desorientação (útil para cenas de embriaguez ou pânico).
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Como usar os 5 sentidos em uma história
Agora que já explicamos quais são os sentidos e um poucos sobre como eles podem ser importantes para sua narrativa, é o momento de aprofundarmos, entregando exemplos práticos. Confira:
1. Visão: além do óbvio – como a descrição visual constrói subtexto
A visão é o sentido mais usado na escrita, mas descrever cenas não é só catalogar objetos. É sobre:
Selecionar detalhes simbólicos:
Exemplo ruim: “O quarto tinha uma cama, um espelho e um abajur.“
Exemplo eficaz: “O abajur quebrado no chão ainda pulsava luzes intermitentes, refletidas no espelho rachado – alguém havia saído às pressas dali.” (Aqui, os objetos revelam ação e tensão.)
Usar cores para emoção:
O vermelho não precisa ser só sangue: “O vestido escarlate dela destacava-se na multidão cinzenta, como um aviso que ele ignorou.”
Movimento e perspectiva:
Em vez de “Ele viu o vilão“, experimente*: “O vulto se fundia às sombras, só perceptível pelo tremor das folhas ao seu redor.”
Exercício prático: Reescreva uma cena trocando “ele viu X” por como X é visto (luz, ângulo, contraste).
2. Audição: a trilha sonora invisível da sua narrativa
O som é a arma secreta do suspense e da caracterização. Explore:
Silêncios significativos:
Exemplo: “A sala estava tão quieta que ele ouvia o próprio suor escorrer pela nuca.” (Mostra ansiedade sem dizer “ele estava nervoso”.)
Vozes como identidade:
Um personagem rouco pode ter “voz como lixa em madeira velha“, enquanto um vilão polido fala “com as consoantes tão afiadas que doíam“.
Sons ambientes:
Antes de um crime: “O vento assobiava nos fios de telefone, mascarando os gritos.” (Prepara o clima para violência.)
Dica avançada: Grave sons reais (uma porta rangendo, chuva no vidro) e descreva-os sem clichês (“rangido” → “o gemido metálico da dobradiça enferrujada”).
3. Olfato: O Acesso Direto às Memórias do Leitor

O bulbo olfativo está ligado ao sistema límbico (emoções). Use isso para:
Cheiros como flashbacks:
Exemplo: “O aroma de jasmim a transportou para o dia em que a irmã desaparecera – o mesmo perfume que ela usara naquela manhã.” (Conecta passado/presente)
Pistas subliminares:
Em um thriller: “O cheiro de cloro persistia no porão, embora a piscina estivesse seca há anos.” (O leitor deduz: alguém limpou evidências.)
Metáforas olfativas:
Em vez de “cheiro de morte“, experimente: “Um doce adocicado de carne em decomposição, mascarado pelo incenso barato.”
Fonte científica: “Estudos da Harvard Medical School mostram que cheiros evocam memórias 2x mais rápido que outros estímulos”. (Inclua isso para credibilidade.)
4. Tato: a linguagem secreta da pele

O toque é intimidade ou invasão, dependendo do contexto:
Texturas como metáfora emocional:
Exemplo: “O casaco que ele lhe dera era áspero como o pedido de desculpas que a acompanhara.” (Objeto = relação.)
Temperatura e conflito:
Mãos geladas podem indicar medo (“seus dedos pareciam esculturas de gelo contra os meus“) ou frieza emocional.
Dor física x emocional:
Descrições precisas de dor (ex.: “uma facada não dói como nos filmes – primeiro vem o calor, depois o choque“) aumentam realismo.
Truque: descreva um objeto duas vezes – como o protagonista e o antagonista o tocam (ex.: uma arma pode ser “lisa e reconfortante” para um, “pesada e viscosa” para outro).
5. Paladar: o sabor das consequências
O paladar é subutilizado, mas poderoso para:
Rituais e cultura:
Exemplo: “O chá amargo que ela insistia em servir era o mesmo que sua avó preparava para ‘purificar’ visitas indesejadas.” (Tradição = ameaça.)
Sabores como ironia dramática:
Em uma traição: “O bolo de aniversário tinha gosto de baunilha, seu favorito. Ele não saberia que era o último.”
Degustação vs. Sobrevivência:
Fome extrema: “Até a casca da árvore parecia suculenta, se ele fechasse os olhos e imaginasse.” (Mostra desespero.)
Dado curioso: na neurociência, o paladar é o único sentido que exige contato físico direto com o estímulo – ótimo para cenas de impacto.
Conclusão: a sinestesia como superpoder narrativo
Entender os sentimentos humanos e conseguir aplicá-los na sua história pode ser um desafio, mas possível com bastante prática. Entretanto, não basta apenas listar sensações; é preciso interconectá-las.
Exemplo: “O grito dela ecoou no corredor (audição), ao mesmo tempo que o cheiro de queimado invadia suas narinas (olfato) e o corrimão trepidava sob sua mão (tato).“
Antes de concluirmos o texto, proponho um desafio: escreva um parágrafo onde um objeto é descrito por 3 sentidos diferentes, revelando algo oculto sobre o personagem. (Ex.: Um relógio de bolso pode ser “frio ao toque” (tato), “com tique-taque irregular” (audição) e “cheirando a óleo rançoso” (olfato) – sugerindo que é uma herança malfeita.). Combinado? Até o próximo texto!
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