Após nossa análise sobre os hábitos de compra de livros em Portugal, vamos explorar agora outro aspecto essencial da pesquisa da APEL (Associação Portuguesa de Editores e Livreiros): os hábitos de leitura dos portugueses em 2023.
Com dados que oferecem um comparativo com o ano anterior, essa segunda parte da pesquisa revela as preferências, a frequência de leitura e as mudanças no consumo de livros. Vamos lá? Boa leitura!
A leitura em números: como os portugueses se relacionam com livros
A pesquisa da APEL destaca que a leitura é uma prática presente para a maioria dos portugueses, mas com nuances que valem ser observadas:
- 73% dos portugueses leem livros regularmente, refletindo uma prática cultural forte. Dos entrevistados que leem, a média é de 7,9 livros por ano.
- Média de 5,6 livros por ano: embora três em cada quatro portugueses leiam, a média anual de leitura ainda é baixa em relação a outros países europeus.
Variações no volume de leitura:
- 34% dos entrevistados afirmaram ter lido menos livros em 2023 em comparação com 2022.
- 39% mantiveram o mesmo volume de leitura do ano anterior.
- 23% disseram ter aumentado a quantidade de livros lidos.
- 4% dos entrevistados não souberam ou não quiseram responder sobre a quantidade lida.
Esses números indicam uma estabilidade entre os leitores, embora uma parcela significativa (34%) tenha reduzido sua leitura. O cenário mostra que, mesmo com a difusão da leitura, os hábitos individuais podem variar conforme fatores como tempo, preferências e contexto pessoal.
Diferenças geracionais: quem leu mais ou menos?
Ao analisarmos os dados demográficos, fica evidente que a leitura não é homogênea em todas as faixas etárias:
- Entre os jovens (15-24 anos), 40% afirmaram ter lido mais em 2023, um número expressivo que sugere um engajamento crescente com a leitura nesta faixa. Este dado é particularmente positivo, pois os jovens que leem mais tendem a fortalecer o hábito com o tempo.
- Adultos mais velhos (55-74 anos), por outro lado, apresentam um cenário oposto: 39% disseram ter lido menos em 2023. Esse dado pode ser explicado por mudanças nas rotinas ou pela menor capacidade de adaptação a novos formatos de leitura.
Esses dados reforçam a necessidade de promover a leitura em diferentes gerações, com estratégias de incentivo que considerem as preferências de cada faixa etária.
Classes sociais e leitura: quem está lendo mais?
Outro ponto relevante da pesquisa é a relação entre leitura e classe social:
- Classes C e E foram as que mais leram em 2023, destacando-se como segmentos com engajamento notável na prática de leitura.
- Classe D, por outro lado, leu menos, revelando uma disparidade no acesso e interesse pela leitura entre os diferentes segmentos sociais.
Esse dado evidencia que fatores econômicos e culturais podem influenciar diretamente o volume de leitura, com classes mais altas, muitas vezes, tendo maior acesso a livros e mais tempo disponível para essa atividade.
Preferências de formato: papel vs. digital
A preferência pelo formato físico continua dominante em Portugal, refletindo um aspecto cultural profundo:
- 93% dos leitores optaram por livros impressos. Este dado mostra que, apesar do avanço digital, o apego ao livro físico permanece forte. A experiência sensorial do papel ainda possui um valor significativo para a maioria dos leitores.
- Leitura digital representa uma fatia menor, com 17% dos leitores, sendo que entre esses:
- 63% acessam conteúdos gratuitos na internet;
- 48% consomem conteúdos pagos;
- 31% leem por meio de arquivos compartilhados com amigos ou familiares.
Esses números mostram que o livro digital, embora acessível, não substitui o papel para a maioria dos portugueses. No entanto, há uma crescente procura por conteúdos digitais gratuitos, o que pode indicar uma oportunidade para editoras e autores explorarem novas abordagens de divulgação e vendas nesse formato.
Idioma de leitura: predominância do português
No que diz respeito à escolha de idioma, o português é, sem surpresa, a língua predominante:
- 71% dos leitores leem exclusivamente em português, enquanto apenas 3% leem exclusivamente em outras línguas.
- 26% alternam entre o português e outros idiomas, mostrando uma abertura para a leitura em línguas estrangeiras, embora ainda restrita a uma parcela específica.
Esses dados refletem a importância de produções literárias em português para o público português, ao mesmo tempo, em que apontam para uma demanda restrita, mas significativa, por conteúdos em outras línguas.
Conclusão
A pesquisa sobre os hábitos de leitura dos portugueses em 2023 revela um público cativo, que valoriza o livro impresso e tem o português como idioma principal de leitura. Embora a maioria mantenha uma frequência estável, a variação entre grupos etários e classes sociais mostra que a leitura é uma prática que ainda pode crescer e se diversificar.
Para autores independentes, esses dados são um convite para explorar tanto o mercado de livros impressos quanto o digital, buscando aproximar o público que lê menos e fidelizar os leitores que têm aumentado seu consumo. A leitura em Portugal, apesar das diferenças, é uma prática presente e valiosa – uma oportunidade para fortalecer ainda mais a relação entre os leitores e a literatura no país.
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