Lançada no final de 2024, a 6ª edição da Pesquisa Retratos da Leitura no Brasil traz um panorama essencial para editores, livreiros, educadores e entusiastas da literatura. Um dos pontos mais críticos do relatório é o capítulo sobre o acesso aos livros, que revela como os brasileiros estão consumindo literatura em um cenário pós-pandemia e de crescente digitalização.
Neste post, mergulhamos nos dados do Capítulo 15 (Slides 108 a 115 do relatório) para entender os novos hábitos de consumo do leitor brasileiro. Este é o último texto sobre a pesquisa. Navegue pelo blog para ler os outros textos. Agora, me acompanhe aqui e boa leitura!
1. Como os livros chegam às mãos do leitor?
A pesquisa perguntou aos leitores quais são as formas habituais de acesso às obras. Embora a compra lidere, houve mudanças interessantes nos últimos cinco anos:
- Compra em lojas físicas ou internet: subiu de 41% (2019) para 47% (2024). É a principal via de acesso citada pelos leitores.
- Presentes: 22% dos leitores costumam ganhar seus livros de presente (uma leve queda em relação aos 25% de 2019).
- Bibliotecas Escolares: permanecem como um pilar importante, com 16% de citações.
- Downloads na Internet: o acesso digital gratuito cresceu, passando de 13% para 16%.
- Empréstimos de amigos ou família: esta prática sofreu uma redução drástica, caindo de 17% em 2019 para apenas 10% em 2024, sugerindo uma mudança nas interações sociais em torno do objeto livro.
2. O comportamento de compra em números
Apesar da compra ser a forma “habitual” mais citada, o número de compradores ativos diminuiu. Em 2019, 23% da população havia comprado algum livro nos três meses anteriores à pesquisa. Em 2024, esse número caiu para 19% (excluindo apostilas e xerox).
Essa porcentagem representa uma estimativa populacional de 38 milhões de brasileiros que movimentaram o mercado livreiro recentemente.
O que eles estão comprando?
Quando olhamos para as categorias, os livros em papel ainda dominam amplamente a preferência de compra:
- Outros livros em geral (vontade própria): 10% em papel vs. 2% digital.
- Literatura (vontade própria): 8% em papel vs. 2% digital.
- Livros Didáticos: 5% em papel vs. 2% digital.
3. O abismo social no acesso à leitura
Os dados de consumo reforçam o quanto a leitura continua atrelada ao poder aquisitivo no Brasil. A pesquisa mostra uma correlação direta entre classe social e o hábito de comprar livros:
- Classe A: 39% são compradores;
- Classe B: 31% são compradores;
- Classe C: 18% são compradores;
- Classe D/E: Apenas 10% conseguem comprar livros.
A disparidade também é visível na renda familiar. Enquanto 39% daqueles que ganham mais de 10 salários mínimos compraram livros nos últimos 3 meses, apenas 13% dos que ganham até 1 salário mínimo tiveram a mesma condição.
4. O que influencia o leitor na hora de comprar?
Se o preço fosse o único fator, o mercado seria muito diferente. A pesquisa revela que o conteúdo ainda é o rei:
- Tema ou assunto (52%): continua sendo o fator decisivo absoluto;
- Título do livro (27%): o primeiro contato visual e semântico importa;
- Autor (20%): a fidelidade a escritores conhecidos é um pilar de venda;
- Recomendações (17%): dicas de amigos e familiares ainda superam influenciadores digitais (que aparecem com 4%);
- Preço (15%): curiosamente, o preço perdeu importância, caindo de 22% (2019) para 15% em 2024 como fator de influência.
5. O Papel vs. Digital no consumo
Um dado que chama a atenção na 6ª edição é a força do livro físico no ato da compra. Entre os que compraram livros nos últimos três meses, 19% optaram pelo formato em papel (81% não compraram livros físicos), enquanto apenas 5% compraram livros digitais (95% não compraram livros físicos).
Apesar do crescimento do consumo digital gratuito (downloads), o brasileiro ainda prefere investir seu dinheiro no objeto tátil, especialmente em obras de literatura.
Conclusão
Os dados da 6ª Retratos da Leitura revelam um Brasil que valoriza a compra de livros, mas que enfrenta barreiras econômicas severas para transformar esse desejo em hábito constante. O crescimento do acesso via download gratuito e a resistência do livro em papel mostram um mercado em transição, onde o conteúdo (tema e autor) ainda é o que move o leitor, mas o bolso dita o ritmo.
E você, como tem acessado suas leituras ultimamente? Prefere comprar em livrarias ou explorar os downloads e bibliotecas?
Dados extraídos da 6ª Pesquisa Retratos da Leitura no Brasil (2024), realizada pelo Instituto Pró-Livro (IPL) em parceria com a Fundação Itaú.
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