Trabalhar com literatura brasileira é como nadar contra as correntes das diásporas que definem o mundo desde os tempos da torre de Babel.
Nós, humanos, que nos destacamos das outras espécies principalmente pela nossa capacidade de contar histórias, construímos as nossas culturas, nossos sistemas de pensamento, nossas estruturas emocionais com base justamente nos conhecimentos que recebemos dos nossos antepassados, que formamos a partir das nossas próprias vivências, e que passamos adiante para os nossos descendentes.
Mas essa construção de universos inteiros para a qual dedicamos todas as nossas vidas, essa lapidação de visões de mundo e de certezas sobre tantas coisas naturalmente incertas, baseia-se nos vieses das nossas próprias geografias e histórias de vida. Um brasileiro, cuja alma foi forjada a partir de séculos de desbravamentos contra a selvageria da natureza, de colonizações, de escravidões e genocídios de povos originários, enxerga o mundo sob prismas absolutamente distintos de europeus, que por muitos desses mesmos séculos estiveram no lado oposto, impondo suas visões e crenças como se fossem as únicas pelas quais o conceito de civilização pode se manter de pé. Visões e crenças, claro, também diametralmente opostas às de todo o mundo árabe, que também pouco tem a ver com os prismas de vida de indianos, de chineses e assim por diante.
Talvez um dia, nos tempos dos antigos, tivéssemos sido um só povo – mas hoje, para o bem ou para o mal, nos dispersamos pelo mundo e erigimos olhares que, muitas vezes, operam como fronteiras de cimento, impedindo o que deveria ser um caminho natural: uma brecha de tolerância que invariavelmente se transformaria em curiosidade uns pelos outros, que se transformaria em admiração, que se transformaria em união. Ou em reunião.
É a tolerância que nos abre os olhos para a força da diversidade da raça humana – e é a diversidade, com suas diferentes propostas para diferentes problemas, a única ferramenta capaz realmente de revolucionar a vida em nosso planeta.
Voltemos, pois, ao assunto do dia: literatura.
Quando circulamos por feiras como a de Nairobi, no Quênia; Sharjah, nos Emirados Árabes; Guadalajara, no México; pelas bienais brasileiras; e por tantas outras, invariavelmente nos deparamos com essa diversidade. São autores e editores de todos os cantos do país negociando os direitos de livros e batalhando para quebrar os muros da intolerância global com suas histórias, suas visões de mundo, com seus livros.
Perambular por essas feiras, conectar-se com essas imensas gentes desses imensos lugares, é uma das maiores vantagens de se trabalhar do lado de cá do mercado editorial.
Perambular por essas feiras significa começar a formular respostas para perguntas importantes para qualquer autor – principalmente para o autor do Clube que, de agora em diante, está passando a contar com uma rede de distribuição global para seus livros. O que se produz de literatura em todo o mundo? O que se compra de literatura? Que histórias se conectam com que pessoas, em que geografias? Geografia, aliás, importa? Ou a sede por histórias é maior que qualquer fronteira? Como as literaturas de tantos países pode contribuir para tempos melhores para todos?
Nossa convidada de hoje
E é sobre isso que falaremos com a convidada de hoje, Rayanna Pereira, Relações Internacionais da Câmara Brasileira do Livro e Coordenadora do Brazilian Publishers, que provavelmente tem mais milhas aéreas que qualquer outro ser humano do planeta.
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