Eu sempre considerei que a estabilidade absoluta, a homogeneidade na vida, a linearidade nos raciocínios, são a causa máxima do atraso.
Explico-me: se tudo está em um estado de nirvana, se não há muitos problemas a serem resolvidos ou obstáculos a serem transpostos, entramos em um inevitável estado de letargia, de estagnação, de congelamento. E o que acontece quando mergulhamos nessa abjeto nada? Somos inevitavelmente atropelado pelos cavaleiros do Tempo, aquelas forças inquietas da mudança que nos enxergam como obstáculo, como desafio, e que portanto investem toda a energia para nos combater. E, congelados, depletos de energia, não resta outra possibilidade senão perecermos e desaparecermos.
Falo tudo isso metaforicamente, claro. Mas falo também com base em lições ensinadas pela História, a mesma História que me cerca aqui em Lisboa enquanto, entre um ou outro email, escrevo estas linhas. Este sítio onde me encontro foi fundado pelos Fenícios que, uma vez acomodados, foram dominados pelos Romanos; que, enfraquecidos por sucessivas crises internas, permitiram que toda uma leva de povos germânicos, de Vândalos a Visigodos, tomassem a região; que, após a paz ter trazidos a corrupção aos palácios, abriu os mares para que os Muçulmanos do Marrocos iniciassem a islamização de toda a Península Ibérica; até que cristãos entusiasmados da Espanha e do norte de Portugal deram sopro às cruzadas e ao movimento que depois ficou conhecido como a Reconquista.
As linhas gerais que descrevi acima são todas receitas repetidas: a oportunidade dá à luz o ímpeto, o ímpeto domina a estagnação e se estabelece como força reinante, a força reinante se acomoda na sua vitória e, paralisada por si mesma, abre uma oportunidade para algum outro ímpeto de algum outro candidato a liderança. É a história da humanidade.
E porque conto tudo isso? Porque essas são as lições que aprendemos quando – e me perdoe a falta de modéstia, meu caro colega autor – saímos da cômoda posição em que vivíamos no Brasil para desbravar novos mundos. Éramos e somos líderes de mercado em nossa terra natal, com riscos pequenos de perder o posto desde que sigamos atentos e batalhando pela evolução da nossa rede de canais de venda, de produção etc. E qual a melhor maneira de seguir batalhando?
Abrindo novos horizontes.
Ao chegar aqui, nos deparamos não apenas com um cenário burocrático absolutamente diferente e que precisa ser transposto para existirmos no além-mar. Nos deparamos com problemas diferentes dos que existem no Brasil e com oportunidades igualmente inéditas – oportunidades que, diga-se de passagem, facilmente conseguimos tropicalizar e entregar como soluções para autores brasileiros.
A tese das Rodovias Literárias é um exemplo. Ela não existiria se não tivéssemos mergulhado em um mundo feito de pequenos países interligados geograficamente e absolutamente misturados sócio-culturalmente. Quem ganha com isso? Você, caro colega autor, que passará a desfrutar de uma rede de distribuição internacional para que seu livro alcance mais milhões de leitores do português espalhados pela Europa. Você e nós, claro, que, a cada vitória sua, vamos crescendo.
Há mais exemplos. A tecnologia de narrar livros e transformá-los em audiobooks a custos baixos. A ponte entre o Clube e produtoras de audiovisual para ampliar o volume de títulos que já temos se transformando em séries ou filmes. A já avançada pesquisa em torno de tradução para viabilizar a entrega de livros brasileiros para leitores em outros idiomas – e vice-versa. Etc. Etc. Etc.
Há, meu caro colega autor, uma enormidade de novas fronteiras que estamos começando a desbravar por aqui. Todas fronteiras típicas de um país diferente do nosso: pequeno, com uma população restrita mas absolutamente conectado a uma comunidade de países desenvolvidos. Todas fronteiras típicas de um mercado editorial (e falo aqui de todo o mercado europeu) que, da mesma forma que o brasileiro, é antiquado, conservador, tão absolutamente resistente a mudanças que praticamente convida atores externos (como nós) a implementar mudanças. E todas fronteiras que, uma vez desbravadas, trará benefícios incalculáveis para todos os autores do Clube – autores que terão o mundo ao alcance dos seus dedos.
Inspiração, enfim, não vem da estabilidade, da estagnação; inspiração vem do caos, da construção e execução de planos para se dominar novos horizontes, da inquietude absoluta. E é assim que estamos: inquietos, absolutamente inquietos.
Exatamente como devemos estar para conquistar o lugar ao sol que tanto queremos.
A você, meu caro colega autor, o que peço é simples: junte-se a nós nessas caravelas literárias. Temos um mundo inimaginável por descobrir.
A ser continuado na próxima terça-feira
Acompanhe a jornada do Clube de Autores para novos mercados, em tempo real, neste link: www.clubedeautores.com.br/jornada