O que são as Rodovias Literárias?

Em abril de 2023, o Clube de Autores venceu o Prêmio Skeelo-PublishNews de Inovação do Ano – um dos mais conceituados de todo o mercado editorial brasileiro – com o projeto de Rodovias Literárias.

Mas… você sabe exatamente o que é isso e como esse conceito já te beneficia na prática?

Culturas são forjadas por idiomas, não por geografias

Antes de começar este que talvez seja o mais prático e técnico dos posts, vale recapitular uma das principais conclusões que chegamos já no início do nosso processo de internacionalização.

Em nossos tempos, pautados pelo  nomadismo e por ondas migratórias sucessivas  geradas por motivos que vão da fuga da pobreza  extrema à busca por uma vida melhor, restringir  uma população à sua geografia é forçar uma  definição tão ingênua quanto míope. 

A ilustração abaixo sintetiza o mundo atual e redefine-o com  base não na geografia de origem das populações, mas sim na  geografia de destino, de escolha.

Posto de uma forma simples, as pessoas mudam de  lugares com uma facilidade cada vez maior; mas continuam  carregando consigo as suas próprias bagagens culturais. 

Não se deve entender, afinal, que a escolha de mudança de vida feita por imigrantes no instante em que eles “trocam” de  país signifique abrir mão de toda a sua cultura. Ao contrário: a  conexão com suas origens acaba adotando um papel ainda  mais forte, crucial para a felicidade perseguida por qualquer  um que cruze fronteiras em busca de uma vida melhor.

O papel da literatura

E a melhor maneira de saciar essa sede pelo conforto gerado pela proximidade com as próprias origens culturais é a literatura.  Principalmente a literatura independente. 

Porque a conexão com as origens vai além, muito além, das  nacionalidades. Origens, nesse sentido, tem características muito mais regionais e micro-geográficas. Há, apenas para ficar nos mais óbvios  exemplos, hábitos culturais de nordestinos brasileiros que sequer são conhecidos por gauchos, da mesma forma que histórias contadas nas regiões pantaneiras soam exóticas e distantes a cidadãos paulistas e cariocas. O Brasil é um país feito de pluralidade extrema e qualquer tentativa de  homogeneização em uma única cultura nacional está fadada ao fracasso. O mesmo se aplica a povos de todos os países, com portugueses do norte carregando culturas diferentes dos lisboetas que, por sua vez, também destoam de toda a população do Algarve e assim por diante.

E qual a relação disso com a literatura independente? Simples: uma das características mais  marcantes de livros autopublicados é o conceito de nicho carregado por eles. Há, claro, obras  independentes abrangentes sobre traços históricos e culturais compartilhados por todos os brasileiros, portugueses, angolanos etc.; mas há uma infinidade de micro-histórias, de contos passados nos interiores mais remotos de cada país ou de relatos de um passado escondido em pequenas vilas costeiras que são únicos para aquelas populações.  

A literatura independente não representa a massa; representa uma massa de nichos.  

E são essas histórias de nicho, voltadas para todos os públicos, que mais conseguem diminuir, ainda  que metaforicamente, as distâncias entre os imigrantes e suas terras natais – da mesma forma que,  paralelamente, também conseguem alimentar a curiosidade de estrangeiros sobre vidas passadas em terras distantes das suas próprias realidades. A literatura independente e a pluralidade de títulos e histórias que a caracteriza – como provam os  mais de 80 mil livros publicados no Clube de Autores – é uma peça-chave para encurtar a distância  entre povos que compartilham a mesma língua apesar de distanciados pela geografia. 

Voltamos, aqui, à questão principal: como fazer encurtar essa distância? A resposta é uma só: viabilizando o trânsito de literatura, em todos os formatos,  para públicos que compartilhem o mesmo idioma, onde quer que estejam.

Mas… isso já não acontece com ebooks?

Não como deveria. Nem de longe, aliás.

Há, claro, a possibilidade de se consumir  livros em formato eletrônico – mas os próprios números do mercado apontam com nitidez para o fato de que o impresso segue sendo o formato preferido pelo público, como pode ser visto na imagem abaixo:

 

O desafio posto, portanto, é viabilizar o trânsito de literatura, em todos os formatos,  para públicos que compartilhem o mesmo idioma, onde quer que estejam. 

Há como fazer isso desconsiderando a geografia por completo?

Não. E não adianta nos entregarmos ao romantismo e acreditarmos que as geografias – e as circunstâncias políticas que as cercam – sejam irrelevantes. Há dezenas de milhões de lusófonos, por exemplo, em Angola, em Moçambique, em Cabo Verde; mas o fato do Clube ter nascido em português não significa que conseguiremos instantaneamente superar dificuldades logísticas e industriais para entregar livros na África dentro das condições e preços que façam sentido para cada um dos países africanos. Há ainda um trabalho para se chegar lá – e é aí que entra a tese das Rodovias Literárias.

Os três fatores essenciais para se viabilizar o trânsito literário

O próprio conceito de internacionalização do Clube de Autores parte da premissa de bases operacionais interconectadas em diferentes regiões geográficas. Cada base operacional – como o Clube em Portugal, por exemplo – garante uma estrutura funcional em três fatores:

  1. Econômico-financeiro, incluindo a possibilidade de autores locais publicarem, venderem e receberem em sua moeda corrente, tendo acesso a conteúdo, interações e atendimento em seu próprio idioma.
  2. Logístico, com entregas diretas a prazos ágeis e distribuição pelas principais livrarias e marketplaces que os seus leitores em potencial já têm o hábito de utilizar.
  3. Legal e Fiscal, incluindo uma adequação total à estrutura de leis e impostos de cada país para evitar qualquer mínima possibilidade de problema em qualquer esfera.

Essa base operacional, pré-requisito para tudo, está pronta e ativa.

As Rodovias Literárias

As bases são o ponto principal da construção de rodovias literárias. Neste momento, temos duas bases plenamente operacionais (Brasil e Portugal). O que isso significa?

Que todos os autores brasileiros já podem vender seus livros para leitores que falem português em toda a Europa e que todos os autores que escrevem em português na Europa já podem vender seus livros para leitores brasileiros. Tanto em formato impresso quanto digital.

O conceito de rodovia literária é justamente esse: garantir que livros trafeguem por regiões, países e continentes com a estrutura local para cada um. Ou seja: se o escritor estiver no Brasil, ele sempre receberá em Reais e dentro do modelo de precificação que ele mesmo estabeleceu, tal como é hoje no Clube; mas se o comprador estiver em Portugal, na Espanha ou em qualquer outro país, ele pagará em Euros, receberá sua encomenda impressa por uma gráfica local e despachada por uma transportadora local para garantir prazos ágeis. O nosso próprio sistema fará as conversões automáticas de moeda, os devidos recolhimentos de imposto, as distribuições para as principais livrarias de cada país e o controle de tudo, garantindo a mesma transparência para o autor que já existe hoje na operação brasileira.

Não é, claro, uma estrutura simples – o nível de integrações sistêmicas, de processos e de negociações necessárias foram e seguem sendo monumentais. Mas é uma estrutura que já está afinada e voando em velocidade de cruzeiro.

Qual o resultado final disso?

Rodovias, sejam literárias ou literais, cumprem o mesmo papel: integrar pessoas, povos, sociedades, demandas e ofertas. É exatamente isso que estamos fazendo. Com essa primeira rodovia integrando o Brasil à Europa, a literatura independente está fluindo em mão dupla pelas duas regiões, somando um poder inédito até os nossos dias.

Mas essa não será a única, claro.

Nossa segunda rodovia deve se concentra no mundo hispânico, interligando a Europa a países latinos como México, Argentina, Colômbia, Peru, Chile e outros. Será a primeira vez que isso acontecerá para esse idioma e um passo importantíssimo para a comunidade de autores independentes.

Depois? Novas rodovias estão em estudo por aqui – mas com a infra e o modelo prontos, tudo será uma questão mais tática do que estratégica.

A rodovia Brasil-Europa beneficia os autores lusófonos (como você); mas e as outras?

Nós sempre partimos do princípio de que todos os autores independentes, em todo o mundo, são parte de uma mesma comunidade. Quando um ganha, outro ganha – seja direta ou indiretamente. Quanto maior a força da nossa comunidade, mais canais se abrirão para nos beneficiar a todos.

Ou seja: toda e qualquer nova rodovia beneficia todo e qualquer autor do Clube, independente do idioma em que ele escrever.

Mas, dito isso… você já ouviu os podcasts com o Plínio Gherardi e a Susanna Florissi sobre tradução e o futuro da nossa língua? Recomendo. Talvez o momento em que livros sejam automaticamente traduzidos e disponíveis em todos os idiomas não esteja tão encravado no futuro ficcional – e se já estivermos com essa rede de rodovias literárias em funcionamento, todos nós, autores independentes, conseguiremos acessar um mercado de bilhões de leitores em todos os cantos do globo.

Enquanto isso não acontece, no entanto, o certo é que já teremos ganhos de curtíssimo prazo a caminho.

Basta ver nosso o resultado em nosso mapa de distribuição para entender melhor essa dinâmica:

Onde, portanto, você ganha com isso?

Tendo acesso aos 280 milhões de falantes de língua portuguesa, um número substancialmente maior que o público encerrado na sua própria geografia.

Seu livro, agora, está publicado no mundo, não apenas em seu país. E sem nenhum custo extra para você, claro.

Assine a Nossa Newsletter

Ricardo Almeida

Sou fundador e CEO do Clube de Autores, maior plataforma de autopublicação do Brasil e que hoje responde por 27% de todos os livros anualmente publicados no país. Premiado como empreendedor mais inovador do mundo no segmento de publishing pela London Book Fair de 2014, sou também escritor, triatleta e, acima de tudo, pai de família :)

34 comentários em “O que são as Rodovias Literárias?

  1. Um dos maiores problemas de nós, brasileiros, foi sempre a falta de coragem para exportar nossos produtos e explorar outras culturas, mas também a nossa educação bem abaixo do ranking dos países melhores nesse quesito social. Mas, parabenizo quem enxerga mais longe e acredita no potencial de nós, muitos brasileiros, que saem do móvel do passado e acreditam no futuro e no seus legados. Parabéns Clube de Autores. Tamo junto.

  2. Considero esta editora uma verdadeira revolução no campo da difusão de ideias. Nunca vi até agora nada parecido e apesar da minha idade não deixarei de explorar esta possibilidade. Desejava transmitir a todos o desejo de tpoder conversar convosco acerca das minhas ideias sobre o mundo e sobre a vida. Desejo também fazer o mesmo em relação aos outros autores que também escrevem para mim.

  3. Parabéns, pela vitória!
    “Nós” Vencemos!
    Dei o meu voto para contribuir e resultado foi esse: “A Vitória” de todos nós.

  4. Parabéns ao Clube de Autores pelo merecido prêmio Skeelo-PublishNews, prêmio que foi ganho com projeto Rodovias Literárias. Sou escritor independente. Eu amo a editora Clube de autores.

  5. Parabéns pelo merecido prêmio! Um grande incentivo aos autores , um grande ganho para os leitores ,e a valorização e expansão da Literatura.

  6. Achei maravilhoso esse projeto. Parabéns aos idealizadores e tenho certeza que é um passo importante e inovador afinal o velho e tradicional livro nunca sairá da pauta não importa quão avançada esteja a tecnologia digital e ampliar horizontes de maneira prática é realmente um empreendimento louvável.

  7. Parabéns ao(s) mentor(s) que criaram essa ideia maravilhosa. Dando oportunidade para todos os escritores que tem carreira solo possam alçar voos mais ousados e terem a chance de colocarem suas obras em outros países.
    Grato,
    Ivandel R. Godoy

  8. Interessante podermos levar nossa arte e projetos literários ao conhecimento de outros povos e outras culturas, utilizando o meio facilitador que e a língua e o fundamental intercâmbio promovido pela Rodovia Literária. Que venham novas vertentes!
    @allypessoa

  9. Como estou conhecendo o programa só agora, já posso recomendar a amigos e amigas, porque vejo que o Rodovias Literárias é válido pela interação com países europeus e sul americanos. Podiam incluir Cuba no projeto.

  10. Acho importante a comunicação e a integração entre os povos lusófonos, essa iniciativa é muito boa,
    A troca de culturas é muito interessante para aumentar nosso conhecimento sobre as sociedades, sabemos que tudo são ciclos e eles sempre voltam.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *