É possível escrever bons textos sem conhecer as palavrinhas complicadas da literatura. Mas é ainda mais interessante colocar a escrita em prática sabendo exatamente como brincar com as palavras. Para escrever, afinal, também é necessário estudo, disciplina e vontade de aprender.
Entre essas palavras pouco óbvias que fazem parte do universo dos livros está o subtexto. E é sobre ele que falaremos neste texto! :)
O que é subtexto?
É o conteúdo que fica nas entrelinhas. Enquanto o texto é tudo o que está escrito, o subtexto é composto pelas emoções, sentimentos e pensamentos escondidos na narrativa – e percebidos por ações dos personagens ou descrições da cena.
Exemplo de subtexto:
“A caravana começou a viajar dia e noite. A toda hora apareciam os mensageiros encapuzados, e o cameleiro – que havia se tornado amigo do rapaz – explicou que a guerra entre os clãs havia começado. Teriam muita sorte se conseguissem chegar ao oásis.
Os animais estavam exaustos e os homens, cada vez mais silenciosos. O silêncio era mais terrível na parte da noite quando um simples relincho de camelo – que antes não passava de um relincho de camelo – agora assustava a todos e podia ser um sinal de invasão.”
O trecho acima é parte da famosa obra de Paulo Coelho, O Alquimista. Nos dois parágrafos o autor não menciona o medo da guerra ou a vigilância constante de quem atravessava o deserto – mas é possível reconhecê-los no susto com o relincho dos animais e na exaustão dos homens.
Como utilizar o subtexto para enriquecer suas histórias?
O leitor não é passivo. Ele interpreta tudo o que está escrito a partir de suas próprias experiências e sentimentos e, por isso, também não é necessário traduzir certas coisas em palavras – às vezes, a genialidade está justamente na conclusão que o leitor terá a partir do texto. E se você der todas as pistas, ele consegue chegar lá sozinho, fique tranquilo.
Por exemplo, ao descrever um parque de diversões como agitado, ensolarado, lotado de crianças correndo e brincando, não é necessário dizer que o lugar parece feliz. A simples descrição da cena é suficiente para conduzir o leitor até esta conclusão. Por isso, ao escrever seu livro, lembre-se de pedir ajuda para outras pessoas com uma leitura crítica – assim você saberá como alguém de fora interpretará tudo o que você planejou.
E você? Tem outras dicas para utilizar o subtexto em histórias? Deixe um comentário abaixo :)
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Tá. O primeiro exemplo que me vêm a cabeça é o filme Rastros de Ódio onde a maneira como o personagem de John Wayne trata sua cunhada e a forma como está o tratamento deixa subentendido um relacionamento mais profundo entre eles do que aquilo que seria correto. Outro ponto é o empenho obsessivo com que o personagem passa anos e anos em busca da sobrinha raptada pelos índios. Fico com a impressão de que a menina é na realidade sua filha.
Entendo o subtexto como interessante para leitores com uma bagabem de leitura acumulada em grande livros, diferente para a maioria dos leitores que sempre chegam ao final e perguntam a si mesmo o que o escritor quis dizer, como se o texto não tenha sido terminado.