Entre em um ônibus qualquer ou em um metrô e olhe ao redor: você sempre, sempre encontrará alguém lendo algum livro. E isso é fantástico.
Tenho para mim que a minha geração, nascida nos estertores da ditadura militar brasileira, foi praticamente incentivada a não “pensar” sobre as coisas realmente importantes da vida e da sociedade. O raciocínio era simples: pensar leva a questionar, questionar quase sempre leva a “se rebelar” e “se rebelar”, por décadas, levava a tenebrosas celas de tortura. E como culpar pais por não quererem ver seus filhos sofrerem, afinal?
O resultado disso? Povoou-se o Brasil com toda uma geração de odiares de livros, de cidadãos que culpam a falta de tempo, o excesso de trabalho ou o cansaço como responsáveis pelo que, no fundo, é a mais pura (e vergonhosa) falta de interesse pelo próprio crescimento intelectual.
Mas, se não há como se mudar o passado, há pelo menos como se sonhar com um futuro melhor. Porque, de alguma forma, essa mesma geração desinteressada tem buscado ensinar as gerações futuras a não agir como ela, a ler mais, a questionar mais, a formar e defender mais as suas próprias opiniões.
Volto ao parágrafo com o qual abri esse post como prova inconteste disso: hoje, é absolutamente natural encontrar pre-adolescentes lendo, vidrados, livros de centenas e centenas de páginas enquanto mergulham em histórias de magos, dragões e tempos invisíveis. Hoje.
Há trinta, vinte anos atrás, isso seria completamente impensável aqui no Brasil. Pelo menos como norma.
E o que isso significa? Que estamos mudando.
Que, aos poucos, estamos nos transformando em uma sociedade sem medo de pensar, de questionar, de formar opinião e firmar posição.