Há alguns anos, o futuro do livro era claramente digital. Em pouco tempo, ebooks dominariam os mercados, todos teriam um eReader nas mãos e o impresso passaria a ser artigo de museu.
Eu mesmo tinha isso como uma certeza, embora sempre achasse que o futuro levaria mais tempo para chegar – quase 20 anos trabalhando com Internet, afinal, me ensinaram que fatalismos raramente viram verdades no curto prazo. Comecei a mudar de opinião há 2 anos quando, de férias em um país coalhado de americanos, passei a observar os hábitos de leitura do povo tido como mais tecnologicamente avançado do planeta.
O que vi? Jovens de 20 a 40 anos grudados em seus Kindles e tablets lendo de tudo enquanto os mais velhos e crianças – sim, crianças – liam impressos. Antes que me corrijam: sim, é óbvio que crianças mergulhavam nos tablets quando queriam jogar alguma coisa qualquer – mas a leitura delas era praticamente toda feita em impressos.
E por que isso importa? Porque há algum tipo de espaço entre a adoção ansiosa e empolgada de uma tecnologia e a consolidação dessa adoção nas gerações futuras. Se as previsões mais fatalistas fossem concretas, então se deveria observar uma curva inegavelmente crescente de adoção de ebooks na medida em que as faixas etárias fossem ficando mais novas. Ou seja: se 20% dos jovens liam livros digitais, então 50%, 80% das crianças deveriam fazê-lo. Certo?
Teorias nem sempre condizem com a prática.
O que aquela viagem me ensinou foi que há espaço para tudo, diferente do que o sempre ansioso mercado pregava.
Tive a confirmação desta minha (solitária) tese este ano.
De acordo com o New York Times, as vendas de ebooks cresceram cerca de mil porcento entre 2008 e 2010, em grande parte impulsionadas pela chuva de leitores digitais no mercado. Não se deve negar os benefícios: carregar ebooks é fácil, os devices comportam milhões de títulos e, desconsiderando o custo dos leitores em si, as histórias são mais baratas.
Só que o ritmo de crescimento foi diminuindo nos anos seguintes com a mesma intensidade. Sabe o que aconteceu em 2015? As venda de ebooks caíram 10%. E não, isso não se deve a um abandono de hábito de leitura: os impressos cresceram cerca de 8,4% durante o primeiro semestre do ano só na Amazon, a Mecca dos livros digitais.
E por que alguém compraria um impresso se ele é mais caro e tão mais limitado?
Bom… Primeiro, porque é difícil passar em uma livraria e folhear um livro digital até comprar o que mais apetecer. Há situações em que o mundo físico dificilmente encontra substituto no virtual.
Mas há outros pontos. Qual a grande vantagem, por exemplo, de carregar um aparelho que armazena milhões de exemplares se só se lê um por vez? E como considerar uma equação que desconsidera o preço de eReaders como Kindles – algo realmente custoso principalmente em um país com tão pouco hábito de leitura como o Brasil?
Além disso, será que apenas os mais velhos apreciam histórias contadas em páginas ao invés de bits? Aparentemente não. Talvez – apenas talvez – o papel ajude a dar um clima importante para as histórias.
Seja como for, o fato é que os diferentes formatos devem conviver ainda por muito, muito tempo.
Que bom: quanto mais formas de se ler, afinal, melhor para todos nós que ganhamos opções.
Eu particularmente prefiro mil vezes o livro impresso. A sensação de folear as páginas durante a leitura, o cheiro do papel, a texturas dos diferentes tipos de capa, além das opções de contracapa, orelhas, entre outras coisas, jamais poderão ser substituídas por uma versão digital, porém, ainda gostos de ter alguns exemplares digitais de alguns livros impressos que eu já possuo, pois assim facilita na hora de ler em um local que seria mais complicado levar um livro impresso na mão.