O hipertexto contra o tempo

É inegável que autores como Machado de Assis sejam uma referência para a literatura brasileira – da mesma forma que textos como os de Kafka, Nietzsche, Goethe, Balzac, Camões e tantos outros marcaram de maneira definitiva a história de seus povos e do mundo inteiro.

Mas todas as obras são, por natureza, vítimas do tempo em que foram escritas. Por situarem-se em tempos e espaços compatíveis com a realidade ou imaginação de seus autores, a imensa maioria dos livros carrega referências de fundamental importância para a própria compreensão dos textos que as encerram.

Na medida em que o tempo vai passando, é natural que parte dessas referências vá deixando de existir ou simplesmente mudando – o que faz com que a interpretação do leitor se descole dos conceitos originais e acabe prejudicando a compreensão como um todo. Quer um exemplo?

Uma das obras primas de Kafka se chama “O Castelo”. O título faz referência a um castelo que observa, do alto, toda a cidade de Praga – ostentando um ar macabro, sombrio e quase intimidador. Se o leitor do Castelo for a Praga nos dias de hoje terá dificuldades em entender o título: um dos maiores centros turísticos europeus, o local é hoje colorido, alegre, repleto de flores e de pessoas sorridentes caminhando por entre as suas ruelas e corredores.

O mesmo tipo de problema pode ser aplicado a referências históricas, endereços e mesmo a conceitos que já deixaram de fazer parte do nosso cotidiano. Isso significa que a compreensão de obras primas escritas no passado está prejudicada de maneira irreversível?

Não. Significa apenas que é necessário que o leitor se contextualize enquanto estiver lendo.

Uma iniciativa da Fundação Casa de Rui Barbosa, com apoio do CNPq e da FAPERJ, tem justamente o intuito de ajudar o leitor nessa tarefa. Batizado de “romances em hipertexto”, o site se utiliza de recursos da própria Web para grifar verbetes ou termos específicos cuja compreensão seja importante para a leitura, definindo-os de maneira suscinta e prática. Em outras palavras, quando Machado de Assis faz referência à Aljube, basta passar o mouse sobre o termo para ver que se trata de uma cadeia antiga, extinta mesmo em sua época, e que nasceu para prender membros do clero. E tenha certeza: saber isso muda toda a compreensão do texto!

Esse tipo de funcionalidade – que já está presente também em boa parte dos leitores de ebooks – é certamente um passo importante para se perenizar ainda mais a literatura produzida no mundo, da qual todos nós, autores, somos legítimos representantes.

(Antes que se pergunte, já já teremos tudo isso à disposição dos autores do Clube, como parte do imenso pacote de novidades que estamos planejando para 2011!)

Enquanto o ano não vira, visite o site e conheça alguns romances em hipertexto clicando aqui, no link http://www.machadodeassis.net/hiperTx_romances/index.asp ou na imagem abaixo!

Ricardo Almeida

Sou fundador e CEO do Clube de Autores, maior plataforma de autopublicação do Brasil e que hoje responde por 27% de todos os livros anualmente publicados no país. Premiado como empreendedor mais inovador do mundo no segmento de publishing pela London Book Fair de 2014, sou também escritor, triatleta e, acima de tudo, pai de família :)

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