O que faz um livro memorável, imortal?
Essa não é uma pergunta fácil de se responder – principalmente porque não há, exatamente, uma resposta.
Todas as peças de Shakespeare – com o perdão de fundir dramaturgia e literatura na mesma categoria para o bem de um exemplo – foram baseadas em dramas reais que aconteciam à sua época e que, portanto, já eram assunto quente nos círculos britânicos. Um crime passional real nos mais nobres círculos era a fofoca corrente quando ele escreveu Romeu e Julieta, por exemplo. É mais fácil vender tragédias românticas quando todos falam e pensam em tragédias românticas, afinal – o que, naturalmente, não tira o fato de que foi a sua genialidade sem paralelos que fez com que esta e tantas outras peças tenham ultrapassado o tempo e se imortalizado.
Dom Quixote, para usar outro exemplo, reflete traços comuns da alma humana de maneira tão perfeita que, ao gerar uma identificação com todos nós, cimenta-se no panteão de clássicos indiscutíveis. Dom Quixote, aliás, é até hoje o livro que mais vendeu em toda a história da humanidade.
Guimarães Rosa; Jorge Amado; Saramago; Umberto Eco; Orhan Pamuk; e tantos outros autores são o que são pelas suas capacidades de ler a realidade e criar universos que nos permitam nos entender melhor a nós mesmos a partir de personagens e cenários muitas vezes distantíssimos do que estamos habituados.
Em nossos tempos, os novos clássicos – os que estão sendo publicados agora – dificilmente imortalizam-se a partir da areia, do nada. Eles seguem caminhos, galgam reconhecimentos, colecionam críticas positivas que convencem mais e mais pessoas a comprarem, a lerem, a recomendarem.
Livro do Clube como finalista do Prêmio Jabuti
No Brasil, o maior desses reconhecimentos é o Prêmio Jabuti, que abre as portas do estrelato para obras de arte ainda pouco conhecidas do grande público.
E, neste ano de 2023, um dos finalistas do Jabuti, na categoria Ciências Humanas (Não-Ficção), é O Diabo, de Humberto Maggi – publicado aqui mesmo no Clube de Autores.
O que esse livro tem a ver com todos os exemplos clássicos que dei há pouco? Em tempos de guerras e rupturas e cisões de todos os tipos, pouca coisa tem sido mais discutida que o inferno onde encontram-se mergulhados tantos dos nossos irmãos humanos. O título, portanto, não poderia ser mais atual.
O que faz um livro ser reconhecido?
Mas… e além do título e do tema em si? Pois bem: no seu livro, Humberto delineia uma espécie de biografia do Diabo: como surgiu, como se formou, como se transformou em quem imaginamos que seja este que provavelmente é um dos personagens mais conhecidos no imaginário ocidental.
Não vou eu falar do livro aqui – não quando tenho o próprio autor como convidado, claro. Mas te convido, agora, a ouvir um pouco da jornada de Humberto Maggi – que falará conosco diretamente do interior de Angola, onde vive – sobre como concebeu esta obra e como trilhou o caminho até se tornar um dos novos imortais da literatura brasileira.
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