A literatura é, por excelência, um casamento perfeito entre o local e o global.
Nada mais local que os Capitães de Areia de Jorge Amado, que o Livro do Desassossego de Fernando Pessoa, que o Tio Vânia de Tchekhov. Mas, ao mesmo tempo, nada também pode ser mais global que a crueldade da liberdade extrema, que os labirintos sem censura do pensamento ou que a exaustão imposta pela dureza solitária da vida, motivos pelos quais esses e tantos outros livros saíram de seus cantos do mundo para ganhar as mais plurais atenções.
A literatura é assim: uma arte que nasce do mais profundo egoísmo individual e se metamorfoseia em uma definição ampla do próprio conceito de humanidade, de coletividade.
O autor, afinal, é um peregrino de si mesmo, que vive a perambular eternamente entre o autoconhecimento e a exportação de seus ideais para todos os cantos do mundo – atos que se mesclam e se inflamam no mais incontrolável desejo de escrever.
É o que todos nós, escritores, fazemos, quer assumamos ou não: cavamos as palavras perfeitas em nosso mais profundo íntimo para esculpir os ideais que queremos impor, desavergonhadamente, ao mundo que nos cerca.
E esse egoísmo, aqui, não deve ser encarado como algo pejorativo. Todos somos, em maior ou menor medida, egoístas. Não fôssemos, afinal, qual a necessidade de escrever uma única linha ou trocar uma mínima cadeia de palavras para convencer alguém de qualquer coisa? O egoísmo é, portanto, um dos motores máximos da criatividade, essa capacidade de parir inusitados com o propósito de formar ou fortalecer ou consolidar visões de mundo, propósitos de vida.
Mas voltemos ao cerne da questão – não estamos aqui para discutir os egos dos escritores.
Estamos aqui para discutir como transformar a força da criatividade em influência, em mudança, em revolução.
Escritores, como já falamos, nasceram para mudar seus mundos a partir das suas palavras; nasceram para transformar suas histórias em reflexões profundas compartilhadas por toda uma coletividade que, assim, pode dar passos significativos rumo a futuros diferentes.
Escritores dão à luz não apenas os universos que criam, que inventam, mas também – e talvez principalmente – os próprios leitores que devoram suas palavras.
Para tanto, claro, escritores vivem à caça não apenas das palavras certas para esculpir as histórias perfeitas: vivem também à caça de leitores.
Suas ferramentas, no passado, eram parcas: praças públicas, encontros literários, jornais de maior ou menor circulação. Hoje, são amplas, capitaneadas pelas superdemocráticas redes sociais que dão a qualquer um disposto a aprender suas cientificidades a capacidade de conexão instantânea com civilizações inteiras.
Nosso convidado: Pedro Gabriel
E é com um desses grandes influenciadores literários que falaremos no episódio de hoje: o escritor Pedro Gabriel, responsável pelo perfil @eumechamoantonio , que já acumula mais de 400 mil seguidores apenas no Instagram.
Pedro é escritor, ilustrador e influenciador digital, tendo criado o @eumechamoantonio para compartilhar o que chama de seus guardanapos poéticos. Essa experiência migrou do bar para o mundo online e, em seguida, da Internet para as prateleiras com o fenômeno literário Eu me chamo Antônio.
Apesar de usar a língua portuguesa como linguagem criativa, foi alfabetizado em francês e só chegou ao Brasil na adolescência. Seu pai é suíço, sua mãe é brasileira e ele nasceu e passou boa parte da infância na África. A vivência no estrangeiro o fez ter contato com culturas distintas, criar conexões com diversas referências e conhecer pessoas que se comportam de tantas formas diferentes. Pedro considera que essas mudanças geográficas são a origem da sua originalidade artística. Hoje, mora em São Paulo e se conecta a 1 milhão de leitores nas redes sociais ou nos eventos que participa por todo o país.
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