Logo que a II Guerra Mundial começou, o jovem Zdenek Korecek deixou sua cidade, Praga, para combater ao lado dos Aliados. Em meio aos tantos violentos sopros de uma guerra que implodiu o mundo, ele acabou vendo sua terra natal se dissolver politicamente e se transformando, literalmente, e um cidadão apátrida, se pertencer a nenhuma entidade política do mapa mundi redesenhado após 1945.
Zdenek acabou emigrando para o Brasil, onde formou família e construiu uma vida feita de aventuras, dramas, terrores e vitórias. Seu livro, Cara Liberdade, foi publicado de maneira póstuma pela sua filha aqui no Clube de Autores, e é um dos relatos mais marcantes de tempos e de vidas tão distantes da realidade comum de todos nós.
Não estamos mais em 1945: o mundo caminhou bastante desde então. Mas o drama humano, de certa forma, atravessa os tempos e persiste, teimoso, onde e quando quer que estejamos.
Hoje, em 2023, ondas migratórias redefinem o mundo e os humores das populações em todos os cantos. Há uma guerra fria travada dentro das esferas mais emocionais da nossa espécie, com cidadãos lutando para acolher os pouco afortunados refugiados que buscam uma vida melhor e outros, entre brados de nacionalismo e xenofobia, agarrando-se ao imaginário da vida de antigamente como um ideal a ser protegido contra o tempo.
No meio desse tipo de guerra que, verdade seja dita, a humanidade vive desde as revoluções agrícolas, os imigrantes são ao mesmo tempo vítimas e heróis.
Vítimas porque, claro, sentem na pele a mudança de status, a transformação do olhar alheio que deixa de interpretá-los como cidadãos úteis à sociedade para, injustamente, traduzi-los em estorvos civilizacionais. Vítimas por terem que trabalhar em dobro para ter a metade, por terem que, muitas vezes, abandonarem a dignidade para construírem um futuro a partir do nada. São refugiados de países como Venezuela, Sudão, Ucrânia, Síria, de países de todos os cantos do mundo. São refugiados que provam que a geografia do nosso mundo é uma conveniência política sujeita aos humores e ondas do tempo.
Mas são também heróis, claro. Há alguma história de heroísmo, afinal, em que o protagonista não inicie sua jornada como vítima? Há algum herói, seja na ficção ou na não-ficção, que não tenha tido que superar as adversidades mais tenebrosas para lutar por si ou por outros?
A autopublicação resgatando histórias
Com a nova literatura, com a autopublicação, heróis como Zdenek Korecek tem aparecido mais e mais nas prateleiras de leitores. Suas histórias têm dado cor, carne e osso a cidadãos que, por sorte, nunca tiveram que passar por isso. Suas histórias têm impedido o mundo, com maior ou menor sucesso, de fingir-se de cego para o sofrimento que nossas sociedades decidem se impor por motivos indesculpavelmente esdrúxulos como intolerância religiosa, étnica ou política.
As histórias e os livros desses heróis imigrantes são, enfim, todo um novo capítulo na grande história da humanidade – um capítulo que tem crescido em relevância na mesma medida em que se multiplicam as atenções em torno das novas ondas migratórias.
O episódio de hoje aborda um dos pontos mais críticos de uma onda migratória: o estabelecimento de refugiados em um país estranho, com diferenças no idioma e na sociedade, e onde eles precisam aprender tanto a se comunicar quanto a se integrar.
Como chegam em um novo e estranho país essas vítimas das grandes expulsões sociais e como costuma ser o percurso que trilham até se transformarem em sobreviventes integrados, em protagonistas de novas histórias e de novos livros? E outras palavras: como se desenha um personagem real, de uma história real, que por vezes carrega mais intensidade que qualquer romance festejado por milhões?
Seja você um autor independente, um editor ou um leitor, o episódio de hoje será sobre o elemento central de qualquer história: o protagonista.
Quem falará conosco?
Maria Lúcia Versa e Susanna Florissi, nossas convidadas
Maria Lúcia Carbone Versa, graduada em serviço social pela FMU de São Paulo, autora, palestrante, professora de português para estrangeiros e coordenadora do projeto de ensino de Português como Segunda Língua do Comitê de Inserção de Refugiados e Migrantes do Grupo Mulheres do Brasil.
Com ela, Susanna Florissi, editora e CEO da Torre de Babel, um dos grandes nomes do nosso mercado (além de ser uma grande amiga!)
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