A literatura e outras artes, como o teatro e a música, se misturam a todo momento. Essa relação simbiótica é secular e existe desde que o homem conseguiu registrar em pedras ou papiros seus sentimentos, descobertas e conquistas.
A expressão de sentimentos, dos mais variados, do amor ao ódio, da alegria à tristeza, sempre esteve presente no ser humano. E em um determinado momento da nossa história, essa explosão de sentimentos escritos se uniu à harmonia, tom e melodia. Surgia, então, o gênero lírico, talvez o mais belo e apreciado da literatura, séculos antes de Jesus Cristo.
Além do argumento histórico, neste texto você aprenderá mais sobre a estrutura e características do gênero lírico, fortemente marcado pelos poemas e poesias. Acompanhe-nos e boa leitura!
O surgimento do gênero lírico
Por volta dos anos 335 a.C. e 323 a.C., Aristóteles escreveu em seu caderninho de anotações a Arte Poética, buscando respostas para todos seus questionamentos. Aqui, temos o eu lírico como personagem principal, que expressa e narra todos os seus sentimentos.
Você pode estar se perguntando de onde surgiu o nome “lírico”. Se você associou ao instrumento lira, está correto! Na Grécia antiga, essa manifestação poética era feita ao som desse instrumento, pelos rapsodos, que declamavam os versos.
Se hoje você enxerga e entende uma poesia, seja qual for, como se fosse a letra de uma música, saiba que desde os primórdios elas eram declamadas.
Características do gênero líricos
Algumas características marcantes já foram mencionadas aqui, como temas subjetivos que expressam sentimentos e o eu lírico como personagem principal. Saiba que quando falamos de sentimentos, vale tudo: lamentações, frustrações, ódio, repulsa, mas também amor, carinho, saudade, entre outros.
O gênero lírico consegue expressar todos esses sentimentos através do uso poético da linguagem, abusando do significado conotativo das palavras e expressões, além de pronomes e verbos, sempre em primeira pessoa e com o uso de figuras de linguagem.
Agora, entendamos em detalhes o eu lírico e a construção de versos e estrofes.
Eu lírico
O eu lírico é narrador e personagem simultaneamente. Apesar de ter dupla função, o eu lírico não necessariamente precisa ser o poeta. Aliás, é comum que os poetas brinquem com a ideia do suposto “eu real”. O jogo de palavras, expressão de sentimentos e entendimentos dão versatilidade ao poeta, que pode até mesmo criar um eu lírico de outro gênero, faixa etária, posição social, entre outros.
Versos e estrofes
Um texto lírico é composto por versos e estrofes, sendo que um conjunto de versos forma uma estrofe e o conjunto de estrofes forma uma poesia. Os versos, vale lembrar, são feitos a partir da sucessão de sílabas poéticas (fonemas).
É interessante notar que as estrofes possuem nomes conforme o número de versos que possuem. Veja
- Dístico: dois versos
- terceto: três versos
- quarteto ou quadra: quatro versos
- quintilha: cinco versos
- sexteto ou sextilha: seis versos
- sétima ou septilha: sete versos
- oitava: oito versos
- nona: nove versos
- décima: dez versos
Outra característica marcante dos textos líricos são as rimas, que podem ocorrer ou não. Mais detalhes sobre o uso da rima serão abordados ao longo do texto, nos tópicos relativos aos estilos literários.
Diferenças entre poesia e poema
Para muitos, poema e poesia significam o mesmo. No entanto, há diferenças claras entre os dois. Inclusive, aqui no blog do Clube de Autores, publicamos um texto mostrando essa diferença.
Acesse: Poema x Poesia: Qual a diferença? | Blog Clube de Autores
Ajudaremos você e daremos uma breve definição. A poesia “é tudo o que utiliza recursos especiais para expressar significados. Estes recursos podem ser sentimentos, ritmos, rimas, aliteração e metáforas, cores, sons e por aí vai!”.
Já os poemas “podem ser identificados com maior facilidade, porque seguem um formato muito característicos”.
Para entender mais sobre gêneros literários, acesse este artigo do nosso blog: Gêneros Literários: aprenda os conceitos, estilos e características
Estilos literários do gênero lírico
O gênero literário lírico possui diversos estilos, cada um com características específicas. Esses estilos são agrupamentos de textos que apresentam forma e estrutura similares.
Conheça abaixo seus principais estilos:
Soneto
Um dos estilos mais conhecidos e utilizados pelos escritores, o soneto é composto por 14 versos, divididos em dois quartetos e dois tercetos. Originário da Itália, a palavra sonetto significa “pequeno som”.
Além da estrutura tradicional, existe o soneto inglês, criado por William Shakespeare, que apresenta três quartetos e um dístico (duas linhas). Também há outras variações, como o soneto monostrófico, composto por uma única estrofe com os catorze versos, e o soneto estrambótico, que pode ter versos ou estrofes adicionais.
Outra característica marcante do soneto é a presença constante da rima. Um exemplo clássico de soneto é “Amor é fogo que arde sem se ver”, de Camões. Confira abaixo:
“Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói, e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer.
É um não querer mais que bem querer;
É um andar solitário entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É um cuidar que se ganha em se perder.
É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata, lealdade.
Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?”
Ode
A ode, assim como os hinos, que serão abordados a seguir, é um estilo literário que exalta algo, seja um ser, deus, entidade ou até mesmo sentimentos. As odes existem desde a Grécia Antiga, onde eram utilizadas para enaltecer deuses, seres mitológicos, guerreiros, bem como o amor e outros prazeres.
Hino
Os hinos mais conhecidos são aqueles presentes no cotidiano popular, como os hinos nacionais, que exaltam um país, uma nação ou entidade, sendo que as entidades esportivas possuem hinos bastante populares.
Além disso, outra vertente dos hinos são os louvores religiosos, que também são difundidos nacionalmente. Um exemplo é o hino “A Portuguesa“, o hino nacional de Portugal, cujo trecho segue abaixo:
Trecho de A Portuguesa – Hino de Portugal
Heróis do mar, nobre povo
Nação valente, imortal
Levantai hoje de novo
O esplendor de Portugal!
Entre as brumas da memória
Oh, Pátria, sente-se a voz
Dos teus egrégios avós
Que há de guiar-te à vitória!
Às armas, às armas!
Sobre a terra, sobre o mar
Às armas, às armas!
Pela Pátria lutar
Contra os canhões
Marchar, marchar!
(…)
Sátira
A crítica, esculacho e o ridículo dão o tom da sátira, outro estilo literário bem conhecido e lido. A sátira, entretanto, pode ser encontrada tanto na prosa quanto no verso. Inclusive, pode ser encontrada em diversas formas de expressão artística além da literatura, como, cinema, teatro, música, entre outros.
A premissa da sátira tirar sarro com pessoas e situações, geralmente cotidianas, objetivando o riso e o incômodo do leitor.
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Outros estilos literários
Acima foram citados alguns dos diversos estilos literários do gênero lírico. Agora, brevemente, citaremos outros.
- Elegia: poema em tom melancólico, lamentando a morte ou algum outro acontecimento triste.
- Écloga: poesia que aborda a vida pastoril e bucólica.
- Idílio: parecido com a écloga, porém, sem a construção de diálogos.
- Haicai: de origem japonesa e formada por dezessete sílabas, tendo como temática a natureza.
- Epitalâmico: poema em celebração ao casamento.
Poetas brasileiros famosos
O Brasil é um terreno fértil, riquíssimo no campo das poesias. Seria impossível citar os poetas mais relevantes da nossa literatura. Mas acreditamos que devemos falar de alguns, e seus respectivos textos mais famosos.
Adélia Prado
Natural de Divinópolis, Minas Gerais, Adélia Prado lançou seu primeiro livro em 1976, chamado “Bagagem”, sendo seu livro mais reconhecido. Abaixo, leia o poema “Momento”:
Enquanto eu fiquei alegre,
permaneceram um bule azul com um descascado no bico,
uma garrafa de pimenta pelo meio,
um latido e um céu limpidíssimo
com recém-feitas estrelas.
Resistiram nos seu lugares, em seus ofícios,
constituindo o mundo pra mim, anteparo
para o que foi um acometimento:
súbito é bom ter um corpo pra rir
e sacudir a cabeça. A vida é mais tempo
alegre do que triste. Melhor é ser.
Carlos Drummond de Andrade
Drummond, também mineiro, nasceu em Itabira, em 1902. É considerado por muitos o mais influente poeta do século XX. Um dos poemas mais conhecidos da história da nossa literatura é dele: “No meio do caminho”. Confira:
“No meio do caminho tinha uma pedra
Tinha uma pedra no meio do caminho
Tinha uma pedra
No meio do caminho tinha uma pedra.
Nunca me esquecerei desse acontecimento
Na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
Tinha uma pedra
Tinha uma pedra no meio do caminho
No meio do caminho tinha uma pedra.”
Cecília Meireles
Agora, saímos de Minas Gerais e damos espaço para uma escritora carioca. Cecília Meireles nasceu em 1901, na capital do Rio de Janeiro. Considerada a maior poeta de todos os tempos, é referência na nossa literatura.
Leia abaixo “Serenata”, um dos seus principais textos:
Permita que eu feche os meus olhos,
pois é muito longe e tão tarde!
Pensei que era apenas demora,
e cantando pus-me a esperar-te.
Permita que agora emudeça:
que me conforme em ser sozinha.
Há uma doce luz no silêncio, e a dor é de origem divina.
Permita que eu volte o meu rosto para um céu maior que este mundo,
e aprenda a ser dócil no sonho como as estrelas no seu rumo.
O que achou do texto de hoje? Aprendeu mais sobre o gênero lírico? Comente abaixo, queremos saber a sua opinião.
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