Editorial: A caminho do Cairo

No final desta semana eu embarco para a Feira do Livro de Cairo como parte de um programa especial de editores e dirigentes de start-ups do setor.

Há duas missões na bagagem.

Primeira:

A primeira, conhecer os meandros da publicação de histórias no país que foi um dos maiores berços da civilização humana e da arte de se escrever. Em uma região com alta densidade demográfica, uma desigualdade social impressionante até para os nossos padrões, que navega há séculos por tsunamis políticas e que conta há milênios com uma ancestralidade renovadamente sagrada, ancorada nas areias do norte do mais misterioso dos continentes, o Cairo é, por si só, um doutorado informal na arte que nos define aqui no Clube: a de compartilhar histórias.

Que estratégias os escritores locais usam para alcançar o tão sonhado reconhecimento em uma região tão competitiva? Como navegar por leis que, fora do liberalismo ocidental, costumam impor censuras e barreiras as mais diversas? Que estratégias funcionam para gerar influência e chegar nos leitores? O que os autores independentes – sobreviventes de uma eterna guerra cultural – podem nos ensinar?

Porque de uma coisa não tenho nenhuma dúvida: qualquer país do mundo que sobreviva a tantas revoluções e que concentre, em seu povo, tamanha capacidade de influência e mobilização em redes sociais, tem muito a nos ensinar.

E por que precisamos aprender? Porque, quando entendemos que o mundo é uma escola, conseguimos usar conhecimentos e lições dos seus quatro cantos para aprimorar as nossas próprias ferramentas, para afinar as nossas estratégias e ações e para melhorar os nossos serviços com o objetivo único de facilitar a vida do nosso personagem mais sagrado: você, autor, na busca por caminhos mais eficientes para compartilhar as suas histórias.

Mas há também um outro objetivo nessa visita: estudar a nossa entrada na África.

Segunda:

O Egito tem, hoje, o maior mercado editorial do continente africano. Tem uma infraestrutura gráfica interessante e uma logística capaz de lidar com as peculiaridades de um continente muito diferente da Europa, para dizer o mínimo. Tem público – um público que também se espalhou (e se espalha constantemente) pela Europa e pelas Américas nas sucessivas ondas migratórias que definem os nossos tempos.

O caro colega autor pode perguntar: mas por que mapear a África quando ainda estamos por começar na Europa?

Simples. Nossos primeiros passos aqui no Velho Mundo já foram dados: já temos a infraestrutura, já estamos legal e fiscalmente adequados, já temos a logística completa. Ainda não começamos a distribuição dos livros por aqui – mas, como comentei no post passado, é uma questão de dias. E, enquanto isso não acontece e enquanto nosso time de tecnologia corre nessa direção, há uma obrigatoriedade estratégica em se olhar um pouco além da nossa posição atual.

Porque há um público imenso, também para os escritores brasileiros, do outro lado do Mediterrâneo (ou do Atlântico, dependendo de onde você estiver). Há mais de 70 milhões de pessoas falando português no continente africano – e não há uma única plataforma como a nossa lá, que os permita publicar e comprar livros independentes dos quatro cantos do mundo.

Teremos sucesso nessas duas missões?

Não tenho muitas dúvidas de que o primeiro objetivo dessa ida à Feira do Livro do Cairo, por mais subjetivo que seja, será cumprido: bastará ir de olhos e ouvidos abertos para trazer conhecimentos diferentes que comporão a nossa plataforma. Já fizemos sondagens assim antes pelo mundo e, sem elas, dificilmente estaríamos onde estamos hoje.

Mas tenho incalculáveis dúvidas sobre o segundo objetivo, o de buscar uma base africana para o Clube. Talvez seja ainda cedo; talvez ainda não haja espaço para autopublicação nos moldes como operamos; talvez a legislação seja espinhosa demais; talvez a exportação e importação de livros entre países africanos seja tão complicada e impossível quanto entre países latino-americanos. Talvez. Talvez. Talvez.

Muitas respostas ainda precisam chegar para tomarmos qualquer decisão nesse sentido. No entanto, uma coisa é certa: sem a vontade de caminhar, não se dá passo algum em nenhuma direção.

E nenhuma companhia cresce ou mesmo sobrevive parada, estática, imóvel.

Movamo-nos. E que venham, portanto, as descobertas.

– Ricardo Almeida.

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Ricardo Almeida

Sou fundador e CEO do Clube de Autores, maior plataforma de autopublicação do Brasil e que hoje responde por 27% de todos os livros anualmente publicados no país. Premiado como empreendedor mais inovador do mundo no segmento de publishing pela London Book Fair de 2014, sou também escritor, triatleta e, acima de tudo, pai de família :)

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