Preço, indiscutivelmente, é um dos elementos mais importantes para o consumidor na hora da compra. Um preço – qualquer que seja ele – sintetiza o quanto o criador atribui de valor “junto” à sua obra, o quanto ele acredita que o consumidor está disposto a pagar por ela e, na outra ponta, dá a esse mesmo consumidor uma espécie de pista sobre o valor real daquilo que ele está adquirindo.
Confuso? Talvez. Mas isso porque a nossa realidade nos habituou, como consumidores, a acreditar que a máxima do “quanto mais barato, melhor” é sagrada, aplicada a toda e qualquer situação. Mas há um problema aí.
Se um livro for muito, muito barato, ele dificilmente renderá algum valor ao autor e terá o preço essencialmente utilizado para pagar os custos. Se o autor não receber um valor justo pelo seu livro, como garantir sua sobrevivência? Como sequer falar em sustentabilidade de uma carreira sem a essencial contrapartida financeira?
Não que se deva radicalizar: não estou dizendo que o caro vende mais que o barato. Mas estou, sim, dizendo que há um meio termo entre o excessivamente barato e o excessivamente caro. Um meio termo que consiga gerar receita para o autor mas que não assuste o leitor. Um meio termo que defina a obra como relevante, que ressalte o seu valor intrínseco, mas que seja ao mesmo tempo alcançável. Um meio termo que explique, por exemplo, porque os livros 20% mais caros daqui do Clube são responsáveis por 80% das vendas, com os perdões dos arredondamentos dados.
“Mas como fazer isso em um país como o Brasil, onde livro é tão caro”, você pode perguntar? A resposta parte de jogar fora todas as “verdades” (entre muitas aspas) que, de tanto ouvirmos, cimentamos como indiscutíveis.
No primeiro semestre de 2022, o preço médio de um livro no Brasil ficou em R$ 44,66.
Comparemos.
O preço médio de um ingresso de cinema chega a R$ 42. O preço médio de uma pizza varia de R$ 30 a R$ 164. O preço de um Big Mac é R$ 22,90. Convenhamos: só acredita que um livro – um livro – que custa menos que 2 Big Macs seja caro quem efetivamente não gosta tanto de ler. Nesse caso, qualquer preço – até mesmo R$ 10 – seria considerado caro.
Comparemos com outros países então.
Na Espanha, o preço médio do livro é de R$ 96. No México, R$ 43. Na Colômbia, R$ 29. No Reino Unido, R$ 51. Nos EUA, R$ 85.
Mesmo levando em conta as tantas diferenças sociais entre todos os países – algo impossível de se converter em uma espécie de fórmula matemática – fica claro que o Brasil está em uma espécie de meião do ranking de preços.
E esse meião funciona. Em média, o leitor brasileiro lê 5 livros por ano; o mexicano, 3; o colombiano, 2; o inglês, 10; espanhol, 13; e o americano, 12.
Estamos na média, portanto, tanto em preço de livro quanto em hábito de leitura. O que isso significa? Que não somos alienígenas e que não somos, ao contrário do que se prega nas ruas, um povo com aversão à leitura causada por preços irrealmente díspares dos praticados mundo afora.
Estabelecido isso, voltemos à questão de como trabalhar a questão do preço e de como estipular o preço do seu livro. Quem falará sobre isso não serei eu, claro. Falaremos com quem entende do assunto: Carlos Schmiedel.
Carlos Schmiedel é CEO e fundador da Predify, mentor dos programas de startups do Sebrae e Founder Institute, tecnólogo em Processos Gerenciais e mestrando do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da Universidade Federal de São Carlos, onde desenvolve pesquisa sobre precificação ética em algoritmos de Inteligência Artificial. Também é mentor e coordenador de mercado do MBA em Innovation & Lean Startup da UFSCar.
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