Por que expandir era preciso?
Uma coisa já estava clara: a julgar pelo movimento de essencialmente todas as grandes plataformas de autopublicação do mundo, o crescimento da nossa operação como um todo dependia de um movimento de expansão internacional.
Estar em mais países, ao alcance de mais públicos, garante a todos uma ampliação poderosa de mercado. Se você já leu qualquer livro de qualquer autor estrangeiro (traduzido ou no idioma original), já sabe que a literatura é, sobretudo, global. E se acompanha velocidade da evolução da tecnologia sabe também que a possibilidade do seu livro, escrito em português, ser traduzido automaticamente (e com qualidade) para dezenas e dezenas de idiomas, entregando a você leitores dos cantos mais espalhados do mundo, é uma questão de tempo. Há mercado para todos os autores em todo o mundo – desde que a tecnologia os dê o tão fundamental acesso.
Do lado de cá, portanto, nossa missão primária de conectar autores a leitores depende de termos bases fincadas mundo afora para conseguir escoar literatura por meio de canais de venda em todos os pontos do mundo.
O que levamos em consideração para fazer a nossa escolha de rota?
Somos, confesso, uma empresa esquisita.
Cremos, com cada gota de nosso sangue, que não há nenhuma missão mais sagrada do que contar histórias. Acreditamos que é isso, que é essa capacidade de compartilhar experiências e conhecimentos, que nos difere dos outros animais. E acreditamos que é também isso que nos salvará das trevas que, por vezes, acreditamos estar escorregando.
Nada é mais sagrado que contar uma história.
No entanto, por mais fanáticos que sejamos quanto a isso, não nos deixamos guiar por nenhum tipo de fé cega. Guiamo-nos pela matemática, pelos números, pela lógica.
América Latina?
E a lógica inicial apontava nossas bússolas para a América Latina. Por serem nossos vizinhos e compartilharem conosco muitas das mesmas agruras que caracterizam nosso continente, seria relativamente simples criar uma conexão com países como Argentina, Colômbia, Peru etc. Certo?
Talvez. Mas há mais elementos necessários para se implantar uma plataforma de autopublicação – coisa que descobrimos a duras penas quando, em 2009, muito antes do mercado estar pronto, lançamos o Clube no Brasil.
É preciso ter um ecossistema gráfico tecnologicamente maduro – o livro impresso, afinal, perfaz a imensa maioria das vendas de livros em todo o mundo (e não há nenhum sinal de que isso deva mudar no curto, médio ou mesmo longo prazo). É preciso ter uma infraestrutura de comércio eletrônico já consolidada, com usuários plenamente habituados a comprar pela Internet. É preciso ter uma rede de canais de distribuição ao alcance de start-ups. É preciso ter uma base de leitores e de volume de livros lidos por leitor razoável. E é preciso, sobretudo, ter um ambiente de negócios calmo, minimamente previsível, com uma economia estável, um mapa jurídico que preze por regras claras para todos e uma integração suavemente lógica com outros países.
Por um conjunto de motivos dentro dessas necessidades que listamos acima – muito embora eu pessoalmente acredite que cada um dos países latinoamericanos guarde um tesouro literário indescritível – nenhum deles se mostrou acessível o suficiente para o nosso momento. Há preciosidades inenarráveis a serem autopublicadas (e, portanto, descobertas) em países como Colômbia, México, Peru, Argentina, Chile e outros… mas os seus mares são ainda turbulentos o bastante para exigir frotas mais robustas que a nossa, ao menos nesse momento.
A América Latina ficaria para o futuro.
Do outro lado do Atlântico, no entanto, o cenário parecia ser diferente.
O norte
A Europa como um todo não tem, verdade seja dita, o mesmo apetite para o aculturamento digital que o Brasil. Somos – e nunca devemos nos esquecer disso – um dos povos mais ágeis para adotar tecnologias que nos facilitem a vida.
Mas, dito isso, há no Velho Mundo um conjunto de vantagens quase perfeito. Há um ecossistema maduro de gráficas capazes de imprimir livros 100% sob demanda. Há canais de distribuição ao alcance. Há um hábito de leitura dos habitantes muito maior – cerca do dobro – que no Brasil. E há essa incrível vantagem que é a Comunidade Europeia, permitindo que se consiga operar em diversos países com uma praticidade invejável.
Foi para lá que boa parte de nossas pesquisas, contatos e sondagens apontou.
O colega autor que aqui me lê há de se perguntar porque não miramos nossas naus para os Estados Unidos, o mais tecnologicamente evoluído dos mercados do mundo e que conta com centenas de milhões de habitantes, taxas igualmente invejáveis de leitura e um ambiente de negócios extremamente facilitado pela burocracia governamental. Era uma possibilidade, sem dúvidas. Foi para lá que outra boa parte de nossas pesquisas, contatos e sondagens apontou.
Mas por uma série de motivos além dos que podem ser escritos aqui, neste post, acabamos nos entregando aos cantos das Tájides de Camões.
Nossas naus rumariam para o norte, onde lançaríamos nossas âncoras às margens do Tejo para ter como primeira base ultramarinha do Clube de Autores Portugal, nosso país irmão e pai do nosso tão amado idioma.
Destino escolhido, iniciamos nosso próximo desafio: planejar a jornada. Porque claro: seria de uma imperdoável ingenuidade acreditar que basta abrir um site em um outro país para se ter sucesso.
Afinal, se navegar é preciso, há também que se cuidar para ter em mãos todos os melhores tripulantes, instrumentos e planos para que se chegue ao porto certo da melhor maneira possível.
Foi o que fizemos a seguir.
A ser continuado na próxima terça-feira
Acompanhe a jornada do Clube de Autores para novos mercados, em tempo real, neste link: www.clubedeautores.com.br/jornada