cronicas-de-quarentena

Crônicas de Quarentena [Resultado]

Algumas semanas atrás, lançamos um desafio aqui no Clube: contar, em formato crônica, um pouquinho sobre a quarentena. Todos poderiam participar – autores que já publicaram livros por aqui e também os simpatizantes.

Foram 356 crônicas de escritores que já têm obras lançadas pelo Clube de Autores e 477 de autores novinhos em folha que, esperamos, aventurem-se pelo universo da publicação independente em breve.

O desafio veio para confirmar o que já sabíamos: escrever é um remédio para a alma e alivia até mesmo os sentimentos mais confusos em tempos tão incertos.

Estamos muito felizes com o resultado :)
E sim, atrasamos um pouquinho o prazo de divulgação, mas a culpa é de todos os participantes. Quem mandou escreverem textos tão incríveis, dificultando tanto a nossa escolha?

ATUALIZAÇÃO: as especificações para a escrita do texto não foram consideradas neste desafio. Por se tratar de um momento atípico, decidimos avaliar todas as histórias enviadas.

Agradecemos a todos que se empenharam em deixar suas crônicas dentro das regras estabelecidas! Nos próximos concursos, não serão avaliados conteúdos fora do formato pré-estabelecido :)

Para compensar a mudança decidimos adicionar mais uma crônica às finalistas! (essa de acordo com as regras).

Agora sim, o resultado:

As três crônicas em destaque neste desafio estão publicadas abaixo – também serão compartilhadas no Instagram do Clube em breve! E fiquem atentos, teremos mais novidades sobre este desafio nos próximos dias!

É preciso vigiar de perto esses senhores desobedientes

Por Rafael Sette Câmara 

Meus pais e avós me criaram cheio de sonhos de conhecer o mundo, mas agora luto para convencê-los de que é preciso ficar em casa. Em meio a uma pandemia global que não se via há gerações, me pego tentando persuadir gente com várias décadas de vida de que essa não é uma crise qualquer – é um acontecimento que vai definir o mundo pelos próximos 50 anos. E que oferece um número ilimitado de riscos, principalmente para certos grupos.

Absolutamente neurótico. É assim que estou antes de completar uma semana de confinamento. Meu problema não é medo de pegar COVID-19, a doença transmitida pelo novo coronavírus. É pegar, nem sentir isso e acabar transmitindo para pessoas do grupo de risco, em especial aquelas que amo.

A preocupação é tanta que pensei duas vezes antes de visitar os meus avós, algo que normalmente faço dia sim, outro também. Fui no começo da semana, mas para isso medi (várias vezes) minha temperatura, permaneci distante durante a visita, evitando abraços e beijos, lavei as mãos uma dezena de vezes e limpei cuidadosamente todas as superfícies em que toquei – tão preocupado em apagar digitais quanto um serial killer após um dia de trabalho.

Enquanto eu dominava o medo de contaminação e pensava, passo a passo, nos cuidados necessários para estar ali, descobri que minha avó tinha ido, menos de 24 horas antes, num hospital lotado – e para fazer um exame de rotina que nós já tínhamos concordado adiar. Foi sozinha porque sabia que se avisasse a família não iria jamais, como ela mesma admitiu. Dei uma bronca daquelas e coloquei todos de quarentena, com álcool em gel suficiente e orientações de cuidados mil. Ufa!

Corta para o dia seguinte, quando dei uma última saída rápida de casa, atento para evitar aglomerações e coçando a alma para não coçar o rosto. Enquanto eu deixava o medo de contaminação me dominar, vi um grupo de octogenários batendo um papo animado num café no centro de Belo Horizonte, perfeitas ilhas numa cidade fantasma. Não eram os únicos, como descobri pela minha avó dias depois – a mesma que fez peraltice na segunda, mas que na sexta, já convencida da gravidade do problema, resolveu dedurar meu pai: “Ele estava no bar ontem. Ligou aqui e me contou”.

Não esperei nem a notícia descer: mandei dezenas de mensagens, com argumentos que variavam entre as taxas de mortalidade, a crise sanitária na Itália, as comorbidades e o risco de infectar outros. Também apelei para a chantagem emocional, confesso, embora tenha preferido guardar na manga algumas cartas desse tipo (ouviu, pai?).

Ele jurou que ia se comportar, mas daí a agir assim é outra história, né? É preciso vigiar de perto esses senhores desobedientes…

-Bar, pai? Com o prefeito fechando a cidade toda, com o mundo de ponta cabeça, você vai num bar? NUM BAR?

-Fui por isso, pra me despedir. Amanhã, com tudo fechado, é que não vou mesmo.

Bufando de raiva, contei a história em grupos de amigos – e ganhei atenção imediata. “Meu pai também tava num bar ontem, se despedindo”, disse um. “O meu se despede do bar o tempo todo, não tá nem aí. Vai jogar no bicho, tomar cerveja, bater papo com os amigos”, disse outra. “E os meus, que vão se encontrar com os amigos e fazem até roda de chimarrão”, diz um relato que vem do sul. “Acho que consegui assustar minha mãe. Compartilhei com ela uma fake news de que o governo vai suspender a aposentadoria dos idosos que não ficarem em casa”, falou uma terceira, admitindo uma tática, digamos, pouco ortodoxa.

Enquanto isso, outros relatos que chegam do sul deixam minha namorada apavorada:

-Pai, tu vai na feirinha amanhã? – pergunta ela.

-Vou cedo – responde meu sogro.

-Pai, pelo amor de Deus, para com isso. Tu vai se arriscar pra comprar queijo, é isso?

-Não, claro que não. Mel e bolachinhas. Queijo ainda tem aqui.

Em comum entre esses pais e mães estão exatamente os tais fatores de risco da COVID-19: idade na casa dos 60 ou acima disso, hipertensão, diabetes e hábitos pouco saudáveis, seja com ou sem pandemia.

Depois do desabafo, amigos passaram a me mandar textos, memes, áudios e vídeos sobre o assunto, uma onda de conexão, empatia e, por que não, humor – acho que vou criar um grupo no WhastApp: Filhos e Netos Preocupados Tomam Providências com Progenitores Sem Juízo

Só hoje já recebi o texto de um site português relatando que a coisa por lá está no mesmo nível, com idosos levando filhos à beira de um ataque de nervos; o áudio de um homem dizendo que o Rio de Janeiro parece uma cena de walking velho, só com idosos nas ruas; um meme com a velha surda dA Praça É Nossa trocando “evitar aglomeração” por “ir no atacadão”; um vídeo gravado em Santa Maria (RS) que mostra a prefeitura retirando bancos de um calçadão enquanto uma mulher comenta que é “absurdo ter que fazer isso pros idosos ficarem em casa”; a notícia de que a prefeitura de Três Rios (RJ) removeu de uma praça mesas de concreto onde eles costumam jogar cartas. E relatos mil de filhos desesperados porque não conseguem manter seus pais e avós quietinhos em casa.

Aprendi há tempos que o suceder de décadas inverte papéis. Nossos criadores, aqueles que cuidaram da gente e que até hoje são nosso porto seguro, repentinamente passam a demandar os mesmos cuidados – e devolver a dor de cabeça que demos um dia.

Mas me arrisco a dizer que poucas vezes a humanidade viu uma inversão de papéis coletiva deste tamanho, se é que algo dessas proporções já aconteceu antes.

– Mas tá todo mundo saindo, minha filha. É só um bingo na casa de fulano. Toda a turma vai, meu filho. Não é bar, não tem vírus desconhecido, só vamos nos encontrar na casa de um amigo.

– VOCÊ NÃO É TODO MUNDO. Eu não sou filho de todo mundo! Não sou filho da turma toda! Então se todo mundo pular da ponte você vai também, é? Você não tem casa não? Agora só vive na rua! Tem mais sorte que juízo, hein?

Pais, mães e avós, vocês nos pediram, com razão, que ficássemos em casa estudando pro vestibular, nos preparando para o futuro. Puxavam nossas orelhas deixando claro que seria um sacrifício passageiro e que tudo valeria a pena, que logo estaríamos no mundo. E que não é preciso ter pressa com o seguir natural da vida.

Agora é nossa vez: façam favor! Não é hora de caçar confusão! Fiquem quietinhos em casa, que na vida tem tempo pra tudo. E entendam, se brigamos é para o bem de vocês, vocês ainda vão nos agradecer. O que mais tememos é que essa brincadeira acabe em choro.

Eu, minha pequerrucha e o Presidente

Por: Paulo Luís Ferreira
Disse o presidente que, se ele pegasse essa gripezinha, esse resfriadinho, de nome coronavírus que, os “mal informados”, como a imprensa e a OMS, estão chamando de pandemia, ele em si, não teria problemas, pois como um inveterado atleta do exército brasileiro que, provavelmente, além de seu tão decantado paraquedismo, deve ter feito muito levantamento de fuzil, não seria atingido.

Então fiquei eu a pensar com meus botões, e recorri ao meu HD de memórias: que esportes fiz eu em minha minguada vida de atleta? Fazendo um esforço descomunal, deduzi que eu estou perdido, visto minhas reminiscências de infância só terem acesso aos meus intensos campeonatos de bola de gude e empinador de pipa; e os famosos tiros de cuspe à distância. Pois nem as cotidianas peladas da garotada eu não participava, porque eu era o afamado perna-de-pau do bairro, e no gol eu não jogava nem a pau.

A propósito, que boa lembrança me veio: quem dera ainda ter aquela potência na boca, para dá uma bela cusparada certeira, para acertar em algum alvo contemporâneo, bem na cara do energúmeno, e depois sair correndo. Coisa de criancice que ainda mora em mim, eu acho. Então disse para mim mesmo: maldito presidente, o que fez você de minha vida? Você tirou minha razão de viver, porque dessa eu não escapo, de acordo com seu diagnóstico de que, já que vamos morrer mesmo, pra quê esse negócio de quarentena, vamos pra rua gente, vamos cair na gandaia! É o que ele tem dito. E agora que faço eu? Se até os botecos estão fechados, não dando nem para fazer o disputadíssimo e animado jogo de palitos ou porrinha, como é conhecido aqui por minha turma.

Depois que ouvi os eloquentes conselhos do presidente. – Mesmo que contradizendo sua vontade. – Minha primeira providência foi entrar em quarentena. Ainda bem que, com o passar dos dias dessa minha existência que, segundo o grandíssimo, estou fadado a me despedir dela precocemente, por não ser um afeito aos exercícios, adquiri a prazerosa mania de ler e rabiscar historietas. Mas agora estou convivendo com o descalabro de viver prostado à frente da TV, a ponto de estar intoxicado pelas overdoses de notícias; e o encharcamento do palavreado: coronavírus, COVID-19, quarentena, OMS, confinamento, contaminação, álcool em gel, e outros tantos maneirismos e jargões médicos e jornalísticos. Sem falar das ânsias de vômitos, quando sou pego em flagrante a ouvir os fatídicos comentários do presidente.

Não bastasse a deturpada apropriação da fala do diretor da OMS, Tedros Ghebreyesus, sobre a população mais desassistida. Hoje, logo após ver a fake news postada pelo presidente, – numa consonância impressionante – com um sacripanta mostrando o desabastecimento no entreposto de abastecimento de Contagem em Minas, fui ao mercado fazer umas comprinhas. Na saída fui abordado por uma repórter de TV. Ora vejam só, tinha que acontecer uma calamidade dessas, para eu ter meus 15 segundos de fama. E a repórter veio logo com essa pergunta de chofre: O senhor não tem medo de morrer? Eu? De morrer? Medo? Por quê? – respondi eu com o corpo começando a gelar – E como fiquei mudo à repórter desistiu da entrevista.

Mas, enfim, chegou à onda salvadora: o panelaço logo no começo da noite para saldar as falas do presidente. Agora é todo dia. Oito em ponto, todos vão à janela. Batem panelas, gritam foras ao presidente. Aqui em casa tornou-se uma festa. Eu e minha pequerrucha de 4 anos. Estamos nos tornando quase uma dupla sertaneja: Panela e Papeiro. Aliás, pensando bem, esse negócio de bater panela bem que serve como um pouco de exercício, pelo menos para as mãos. E por que não para o corpo, porque eu e minha pequena aproveitamos para fazer um rebolado dançante, enquanto batemos. Eu bem que já estava disposto a seguir à risca o exemplo do presidente, fazer exercício.

Quando não tem panelaço já é motivo de acabrunhamento para mim e minha pimpolha. Papai hoje o presidente não vai falar não! Vai sim filha, aguarde um pouquinho ele deve está conferindo as informações com o homem do churrasco sobre a teoria de que às aglomerações de poucas pessoas pode, mas de muitas pessoas não pode. Então a partir daí ele toma novas atitudes sobre a quarentena. Ah, manda ele vim logo que eu tô com sono… – diz ela cheia de dengo. Mas não demorou muito e logo começou nosso bate-bate: panelaço e papeiraço. Pronto. Por hoje acabou o batecum de panelas, vamos pra cozinha fazer o suflê de chuchu enquanto esperamos a mamãe, né? Onde tá a mamãe? No hospital, trabalhando, ué!… Vamos cortar o chuchu?… Você bate o ovo no papeiro… Tá booom!… Fala meu chuchuzinho animada com a nova função.

Decidi levar a sério a história da quarentena.

Por: Marcos Siqueira

Decidi levar a sério a história da quarentena. Se bem que, talvez quarentena não seja o nome ideal para isso, já que não estou contaminado e nem tenho suspeita de portar o tal vírus. Penso que o nome ideal poderia ser con-fi-na-men-to. Estou confinado em meu próprio lar e, enquanto limpo detalhadamente o ventilador empoeirado, recebo uma mensagem de um grande amigo.

– Tô passando aí com uma garrafa de Jack – escreveu ele, inserindo vários emoticons após a frase.
– Não venha! – foi a minha resposta. Estava desmontando pela segunda vez o tal ventilador, recém-limpo e recém-montado, após perceber que esquecera de colocar outra peça por dentro, quando o interfone interrompe o sossego de minha clausura.
– Sim.
– O Fulano está aqui, posso deixar subir? – Deixa eu falar com ele pelo interfone, por favor.
– E aí? – ouço do outro lado.
– Falei para você não vir – respondi, amavelmente.
– Trouxe o Jack – disse-me ele, tal qual Satanás induzindo nosso Senhor a se jogar do pináculo de tempo. Pensei por um momento e disse:
– Tá. Vai ali, na frente de minha varanda. Quero ver se você trouxe mesmo a bebida.

Desliguei o interfone, fui ao meu quarto e peguei a capa do violão embaixo da cama. Abri, retirei a carabina de pressão e a caixa de chumbos. Coloquei alguns no bolso da bermuda e me dirigi a varanda.
– Ei! Você não vai atirar com essa merda, vai? – ouvi, lá de baixo, enquanto mirava na garrafa, que ele segurava à mostra em frente ao peito.

Eu estava no segundo andar e a posição de tiro era simplesmente perfeita, porém sempre fui ruim de mira e achei que provavelmente iria errar. Pois qual não foi minha surpresa ao escutar o som metálico do chumbo, ricocheteando no Jack Daniels, seguido da voz de Fulano, praguejando alto enquanto corria para fora de meu campo de visão. Recarreguei a arma e aguardei.

Lembre-me então que, provavelmente, o carro dele estaria estacionado atrás do bloco e corri para a janela da cozinha. Lá estava ele, se afastando rápido. Voltei a varanda e descarreguei a carabina na bananeira, bem em frente, não sem antes passar pela dispensa e verificar que ainda havia duas garrafas de 375 ml de Jack cheias, e uma com quase metade, que eu pagara uma bagatela no Super Adega. Arrumei a bagunça e ouvi o toque de uma nova mensagem no whatsapp:

– É bom que o coronavírus te mate, seu filhodaputa, porque se não matar, eu farei o serviço – era a mensagem que vinha, abaixo da foto dele, bebendo uísque no gargalo.

Se beber é batata

Por: Eloy de Oliveira

Um conhecido alcoólatra me disse certa vez: – Não beba quando estiver de boa, só porque está de boa. Essa é a senha para se tornar alcoólatra. Comigo foi assim. A tese dele se baseava em uma reportagem que leu, na qual se dizia que todo mundo pode se tornar alcoólatra se tiver o gene do alcoolismo. – Se tiver e beber, é batata, sentenciou. 

Esse papo surgiu em uma conversa trivial. Nunca me afetou, porque não tenho histórico familiar de alcoolismo, mas voltou à cabeça quando fui colocar uma dose de uísque. Nesses dias de quarentena, me pareceu uma boa forma de distração. Mas, de repente, comecei a achar que havia algum sentido: – Se tiver e beber, é batata. Eu não sabia se tinha.

Esses tempos de quarentena se prestam muito a esse desserviço com a nossa saúde. São muitas informações ao mesmo tempo e acabamos absorvendo de forma errada muitas vezes, ou porque não prestamos muito a atenção ou porque nos vemos equivocadamente nos sintomas. E não precisa ser hipocondríaco para cair nesses enganos inusitados.

Tenho outro conhecido que já teve todos os sintomas do coronavírus e já sarou umas quatro vezes. Basta ouvir na televisão que, se sentir isto ou aquilo, pode ser a doença que ele já absorve. Nunca foi hipocondríaco, mas deu de tomar remédios por conta em função da ansiedade. Deixou de ver tevê por isso. Só que assistiu “Pandemia” no Netflix. Não tem jeito.

A situação traz muitas confusões para todo mundo. Uma conhecida minha ficou com tanto medo que protagonizou uma cena hilária no banheiro do trabalho. Após fazer xixi, deu descarga usando papel higiênico, lavou as mãos com muita água e sabão e não se tocou mais para não se contaminar. Na hora de sair, não sabia como abrir a porta.

A primeira tentativa foi com o cotovelo. Era um trinco apenas. Ele não virara sem segurar. Tentou então com o sovaco, apertando no vão do braço, logo abaixo. A manobra quase deu certo. Não foi ao final porque manchou a manga da blusa com restos de mãos sujas usadas antes. Ela torceu o nariz e foi olhar de perto o trinco, já que é míope.

Inadvertidamente, uma colega de trabalho forçou a entrada pelo lado de fora, o gesto abriu o trinco de vez e a porta foi empurrada para dentro. Como estava muito perto da maçaneta, de boca aberta observando a sujeira e não esperava que tentassem entrar, essa conhecida acabou tendo a maçaneta nojenta enfiada entre os lábios.

O namorado da minha vizinha, um sujeito que não é dado a muitas cerimônias, criou um grande embaraço também. Ela recomendou que ele tirasse os sapatos e as roupas e deixasse na entrada da casa para não contaminar dentro. O sujeito chegou sem fazer barulho, ficou nu na porta da casa e foi forçar a maçaneta para entrar, como de costume.

O problema é que a namorada estava vendo o noticiário, onde falavam da onda de assaltos que tem acontecido por conta do isolamento social. Envolvida com as informações, ela se assustou, abriu a porta sem acender a luz e encheu o namorado de pauladas com um pedaço de madeira que arranjou. Ele saiu pelado para a rua, gritando desesperado que era ele.

A frase do meu conhecido me perturbou, mas acabei esquecendo dela enquanto fui lembrando de todas essas maluquices que estão acontecendo por conta do coronavírus. Quando me dei conta de que, se tiver o gene e beber, é batata, já estava na quinta ou sexta dose. Então já havia uma confusão de pensamentos. A frase, o uísque, a pandemia.

Adormeci na área de luz de casa, esparramado como se fosse um saco de batatas. Não sei quanto tempo se passou. Os meus pensamentos embaralhados passaram dos episódios malucos para uma ficção futurista. De repente senti uma massa mole cobrindo o meu rosto. Seria uma legião de coronavírus? Não, não era. Era cocô de uma pomba desgraçada.

E você, já escolheu sua favorita? Conta pra gente nos comentários o que achou =)

Ricardo Almeida

Sou fundador e CEO do Clube de Autores, maior plataforma de autopublicação do Brasil e que hoje responde por 27% de todos os livros anualmente publicados no país. Premiado como empreendedor mais inovador do mundo no segmento de publishing pela London Book Fair de 2014, sou também escritor, triatleta e, acima de tudo, pai de família :)

90 comentários em “Crônicas de Quarentena [Resultado]

  1. Ótimas crônicas, mas para mim o Rafael Sette Câmara com os senhores desobedientes foi a melhor pois me identifiquei, muito boa.

    1. Todas são muito boas , gostei muito do Paulo Luis Ferreira: Eu, minha pequerrucha e o Presidente , sinto a mesma repugnância nos discursos do presidente

  2. Na minha opinião as regras são feitas para serem cumpridas. Simples assim.
    Caso contrário, também não podemos reclamar dos governantes quando modificam as leis para ajeitar algum apaniguado. Mas Brasil é Brasil. É normal o velho jeitinho.
    Desculpem-me se incomodo com o comentário.

  3. Caros organizadores, fiquei sabendo do resultado “Crônicas de Quarentena” por meio de um amigo que também participou. Eu não recebi o e-mail de comunicação do resultado. Será que houve algum problema com minha inscrição?
    Meus dados para verificação:
    Nome: Adriana
    Sobrenome: Pastorelloo Buim Arena

    1. Oi Adriana. Checa na sua caixa anti-spam? Os emails efetivamente saíram daqui mas, de toda forma, estamos colocando todos os comunicados gerais abertos aqui no blog.

  4. A diferença de opinião, o livre pensamento e o politicamente chato, tornaram-se desculpas para todo tipo de intransigência e “pulo fora da curva”. Se a opinião é livre, deve-me consternar, a “melosidade” e falta de compromisso.

  5. Bem! gosto é gosto. Parece que em todo concurso desse tipo o que predomina é o “mi-mi-mi”, o “chororô”. Não sei o motivo de promover tais eventos, se a maioria vai discordar e se chatear. Todos e ninguém têm razão.

    1. Olá, Rubens. Tudo bem?
      A discussão e a divergência de opiniões é sempre bem-vinda. Afinal, somente assim conseguimos conhecer outras formas de ver uma mesma questão.
      Entendemos a problemática levantada pelos participantes que não concordaram com a flexibilização para este desafio e, desta forma, evoluímos. É claro que sempre haverão respostas positivas e negativas e nem sempre será possível agradar a todos, mas a promoção do diálogo é o que realmente importa!

      Além disso, acreditamos que os benefícios do concurso superam as desvantagens. Você não acha? :)

  6. Gostei de todas inclusive a do Dalmo C Galvão uns comentários acima, mas especialmente a primeira achei incrível. Gostaria de ler todas e como será publicado um livro, aguardo ansiosa. Parabéns pela iniciativa e parabéns a todos os participantes!

    1. As crônicas estão maravilhosamente divertidas, estão todos de parabéns. Amei todas, principalmente a “Eu, minha pequerrucha e o presidente”.

  7. Olá, pessoal: alguém foi comunicado de que as regras do desafio seriam deixadas de lado? Porque eu não fui. Discordo totalmente de que as regras tenham sido desrespeitadas pelos próprios organizadores. Isso é uma competição, e competições devem seguir regras. Não importo que minha crônica não tenha sido escolhida, mesmo que tenha seguido as regras, era o justo. Mas escolher crônicas que não respeitaram as regras é falta de respeito, deem a explicação que quiserem. Não fomos ouvidos sobre isso. O CLUBE nos informou de que havia recebido mais de 300 crônicas, impossível não haver nenhuma que pudesse ser escolhida seguindo as regras por ele criadas dentre tantas. Será possível que só podem vencer quem burlar as regras? Me desculpe, CULBEDOSAUTORES, mas pisou na bola, e muito feio. Além do mais, só recebi o e-mail do resultado final hoje, cisa estranha, já que recebo e-mails do CLUBE o tempo todo.

    1. Adorei as crônicas, li com prazer e me divertiram! Parabéns aos idealizadores. Se beber é batata é a minha escolhida!

  8. prezados Companheiros a iniciativa é por demais digna de elogios, e, envolver indivíduos os mais díspares nessa cadeia de pensamentos foi algo de excepcional; quantos talentos ficaram ‘no limbo’ em razão de julgamentos subjetivos e até preconceituosos; eu me alinho com o companheiro Mauro B. Camillo, mas que fazer (?) se as ocorrências são, por si só, extensas; finalizando, queiram, concordem ou não, a preocupação é flagrante e a omissão preocupante; com tantas experiências a serem ainda expostas imagino que somente uma antologia seria suficiente e com muitos volumes; PARABÉNS !!!!!!!1

  9. Caramba! Estou com o coração disparado
    Fui classificada Sabia que uma coisa boa ia me acontecer antes dos oitenta
    Obrigada amigos!
    Parabéns a todos participantes
    Valeu!
    PS Fico com a do moço do whisky
    É bem louca Faz meu genero

  10. Peço mil desculpas por ter esquecido totalmente esse evento. Em tempos de quarentena, quem já tem muito mais que isso também tem tantas outras viagens que esquece alguns caminhos. Não lembro nem se consegui escrever uma cronica que havia preparado. Se puderem me informar ficarei muito grato. Se foi selecionada para a coletante espero que me informem também.

  11. Que pena! Não participei: problemas de saúde (pneumonia). Quando melhorei, meus filhos estão trabalhando (home office) e u fiquei sem acesso à informática.
    Agradeço o convite.

    1. Pois bem, fico feliz em leer todas, que sao super diferentes com humor e informacao. Escolher, fico com Rafael, sem ofender os demais participantes, aqui expuestas que sao as 4, parabens.
      Todos os outros que participaram, meus parabens, por ser escritores e tiveram a confianza de participar.Infelizmente nao enviei, fico triste comigo mesmo, mas feliz por todos, Clube de Autores.

  12. Caros organizadores, fiquei sabendo do resultado “Crônicas de Quarentena” por meio de um amigo que também participou. Eu não recebi o e-mail de comunicação do resultado. Será que houve algum problema com minha inscrição?

  13. Caramba! A minha crônica está entre as três e so fiquei sabendo agora! Um amigo que viu e me avisou (não aquele do Jack Daniels).

    Pessoal, vocês enviaram e-mail avisando?

    Obrigado Clube dos Autores! Qual o Instagram de vocês?

  14. Boa noite,
    Li as crônicas e as achei bastante interessantes, no entanto a primeira está totalmente fora das regras do concurso e é lamentável a sua inclusão entre as três selecionadas, pois isso caracteriza “rasgar o Regulamento”, e certamente quem, como eu, que se preocupou com as regras, saiu prejudicado, mas como já disse um colega, “é Brasil”.
    Fica o recado, se continuarem assim certamente irão perder credibilidade e, quem sabe, até mesmo o afastamento de muita gente boa.
    Como outras pessoas já tocaram no assunto, e a maioria preferiu um “deixa pra lá”, e como “isso é Brasil”, já está pra lá, e caberia aos senhores, não uma resposta individual, apenas para aqueles que questionam o fato, mas uma posição mais formal, destacada, informando o acontecido e com um razoável pedido de desculpas, pois caso contrário, pelo menos de minha parte, também vou “deixar para lá”.
    E um até breve, quem sabe?

    1. Olá! Tudo bem?

      Entendemos que, neste momento, seria adequado ler todos os textos enviados. Estamos cientes de que essa escolha desagradou alguns participantes e, para sermos juntos, incluímos mais uma crônica entre as finalistas – esta também seguindo os critérios estabelecidos. Nos desafios anteriores (e nos futuros) as regras são seguidas a risca durante a avaliação! :)

      Esperamos que você continue participando com a gente!

  15. Olá pessoal!
    Fiquei estarrecida com o tamanho das “Crônicas”
    Eu ali espremendo a minha crônica com o título “Quarentena” Com espaço limitado , fui desclassificada por motivos ainda a esclarecer!.
    Tive um grande trabalho de tentar enviar o dinheiro do livro , mas vinha mensagem que estava bloquiado para esse tipo de transação!
    Tbém me posicionei com a Editora e até agora não obtive resposta! liguei várias vzs na Editora tbém …j Desculpe o desabafo .Célia Guímaro.

    1. Olá!
      Conforme explicamos no texto, todas as crônicas foram avaliadas por motivos excepcionais.
      Certamente sua crônica foi lida com muito carinho. Infelizmente são muitos inscritos e não podemos passar um feedback individual :(

      Quanto às questões da editora, como podemos ajudá-la?

  16. Fiquei feliz com a notícias de ter sido selecionado.
    Ansioso por ler as demais crônicas e ver o livro completo.
    Parabéns pela iniciativa.

  17. Vocês não imaginem o tamanho do meu contentamento ao ver minha crônica como uma das classificadas. Estou que é um contentamento só. Está entre os contemplados entre mais de 800 concorrentes é de deixar qualquer um meio abestalhado mesmo. Mas os meus parabéns são para todos os participantes, pois o que vale mesmo é estarmos junto nessa empreitada que, apesar de laboriosa, é por demais prazerosa essa brincadeira que é escrever.
    Ps. Uma ressalva para o lapso da edição, o título da crônica ficou junto com o corpo do texto, O que ficou bem esquisito. (Eu, minha pequerrucha e o Presidente Disse o presidente que,)

  18. Parabéns aos vencedores! Concordo 100% com a revisão cega, isto é, sem saberem quem são os autores, inclusive seus sexos. Por que será que é preciso sempre contemplar alguém de determinado sexo, se esse não é o critério de escolha neste concurso?

    Alguém questionou o tamanho dos textos: o primeiro da lista acima *não está de acordo com as regras do concurso*; os dois outros estão. Assim, fica a pergunta: o júri deveria ou não seguir uma regra estabelecida aos candidatos? Creio ser uma questão de transparência… Desculpe-me o autor dessa crônica, mas as que ultrapassam o limite estabelecido sequer deveriam ter entrado no julgamento.

    Também gostaria de saber como foi escolhida essa quantidade de crônicas para um livro e quem são os contemplados.
    Muito obrigada, parabéns pela iniciativa.

    Lucia Rino

  19. Olá,
    Gostei de todas, mas a primeira, de Raphael Sette, foi uma leitura especialmente agradável.
    Parabéns a todos.
    Infelizmente, tenho que concordar que a mudança das regras deveria ser comunicada a todos, pois muitos devem ter se preocupado com possível desclassificação. Certo, confesso que fiquei.
    Claro que esse fato não afeta o mérito dos autores e da iniciativa!

    1. Oi Ademar! Como foram 833 crônicas, infelizmente não conseguiremos dar um retorno a cada um dos autores :(

  20. Saudações, literatos e literais!
    Como bem observado pelo Renato Alves, em post acima, e muito bem justificado pelo Clube de Autores, na resposta a ele, já que as “regras de confinamento” dos textos em até 800 palavras foram flexibilizadas, bem que o CDA poderia flexibilizar um pouco mais e publicar mais algumas crônicas além das 3 escolhidas (sugiro mais umas 7), para a nossa leitura e deleite. 8-))
    p.s. penso que um concurso “Microcontos de Quarentena” poderia ser a próxima empreitada ;-)

    1. Oi, Caroline!
      Quando avaliamos as crônicas ocultamos o nome dos escritores para sermos mais justos :)
      Com certeza tivemos crônicas incríveis escritas por mulheres também! Fique de olho aqui no blog e, em breve, teremos novidades.

    2. Oi, Caroline. Nenhuma mulher, não! Pelo menos eu e você estamos aqui para provar.
      Abraço,
      Gloria da Costa

    3. Muito estranho isso! Minha crônica foi escolhida no curso de escrita criativa, da Ana Holanda! Foi muito legal ver meu texto lá! Quem quiser conferir basta acessar @aksampaio no Instagram.

  21. Olá, também tenho dúvida se receberam a minha. Poderiam me informar? Parabéns aos escolhidos. Haverá livro? Se sim, saberemos logo? Grata, Vânia

  22. Só uma pergunta: Tinha ou não limite de toques, de linhas? Parece que sim, não? Pois que o que percebo é que os vencedores escreveram à vontade. Qula foi o critério? Até porque eu fiquei atento ao critério. Poderia ter desenvolvido mais o tema que escolhi. O critério foi mudado com o processo em andamento? Grato.

  23. Bom Diah! Escolhas são escolhas; julgamentos pessoais. Três exemplos de um todo que deve estar riquíssimo de ideias e ideais. Prefiro a terceira, por ser mais irreal. Quem em sã consciência iria atirar em alguém com um a garrafa de Jack? Poderia quebrar a garrafa. Rsss. Meus respeito aos escolhidos. Qualquer uma delas é melhor que a minha. Meus agradecimento pela iniciativa. Afetuoso abraço virtual a todos.

    1. Boa tarde primeiramente, espero que todos estejam muito bem.
      Parabéns aos selecionados e adorei a iniciativa de vocês, pois percebe-se que muitas pessoas querem ser lidas, querem expor as suas criatividades, suas estrelas brilhantes que cada um tem dentro de si.
      Foi uma oportunidade maravilhosa e só tenho a agradecer essa importante iniciativa que vocês tiveram.
      Espero um dia poder escrever um livro muito bom, mas preciso de mais empenho e mais criatividade com as palavras.
      Quem sabe da próxima vez o meu texto seja escolhido…..kkkk brincadeiras a parte, parabéns a todos…
      Deus nos abençoe sempre e sucesso a todos …. Deus seja louvado!!!!

  24. Traduzindo Saudade
    Ela entrou no meu carro depois de ter feito uma trilha por um dos lugares mais bonitos do Rio – as praias escondidas entre Grumari e Barra de Guaratiba. Agora ficou famosa uma pedra que nas fotografias parece ser a beira de um abismo, onde todos fazem post como se estivessem pondo em risco a vida numa pose fantástica de herói. Mas a foto não traduz a verdade, é apenas uma ilusão provocada pelo ângulo focado a não revelar que bem pertinho tem uma plataforma natural que impediria a queda para a morte.
    Mas depois daquela caminhada numa natureza tão viva, para que falar de morte. Fomos conversando sobre a vida em geral, já que ela não era o tipo comum de passageira que vai viajando o tempo todo sem levantar os olhos do celular. Ela era o tipo incomum, diria melhor se falasse o tipo extraordinário, mas durante a corrida vim a perceber que o seu nome já a traduzia melhor – Bárbara. Algumas barbaridades, além dela conversar pessoalmente com um desconhecido, em vez de ficar na internet em conversas virtuais com um monte de conhecidos, foi o fato dela estar indo para o Teatro Municipal ver a ópera Tristão e Isolda em plena tarde de um domingo de sol.
    Por ter feito o personagem do Arthur Azevedo na peça dos Irmãos Brothers que mostrava o Rio do Bota-abaixo de Pereira Passos e da Revolta da Vacina coincidindo com a época da construção deste belo teatro, falei sobre a ideia principal para a construção deste palco: Arthur queria dar uma nova fala aos textos, não queria que os atores encenassem com o sotaque e até os vocábulos diferentes e próprios da língua portuguesa falada em Portugal, mas sim do jeito brasileiro.
    A viagem tinha uma primeira parada na sua casa em Vila Valqueire para ela trocar a roupa suada da caminhada e depois seguir até o Centro, mas precisamente a Cinelândia. A ópera conta uma história triste, agora era a vez dela dar sua contribuição ao papo que fazia aquele longo trajeto parecer mais curto. Apesar de eu ser uma amante da filologia, nunca investiguei se o nome Tristão tem alguma influência para servir também como aumentativo para o adjetivo – triste e então quase bati no carro da frente porque fiquei olhando seus dentes branquinhos revelarem aquela moça linda rindo de si mesma.
    Nas quase duas horas de percurso, passando por uma orla lotada de casais passeando de mãos dadas, pais ajudando filhos nas primeiras pedaladas e tanta atividade típica da pista que fecha aos domingos, ocorreu outro exemplo de Bárbara ser a tradução ideal dela mesma: Afinal, o que você faz quando não está deixando um passeio na mata selvagem para ir a uma ópera no Municipal? Sou atendente do nine eleven.
    Isso mesmo, 911 é o S.O.S. dos Estados Unidos e ela, talvez por ter a barbaridade de falar 9 línguas com fluência, trabalhava lá, desde os atentados que ocorreram nesta data (a data tem o número inicial referente ao mês, setembro – 9, seguido do dia – 11). Fiquei tão chocado que passei um bom tempo em silêncio. Só quando estava a atravessar a Avenida Rio Branco quebrei o gelo que não derretia nem com o calor lá de fora, com a pergunta sobre o que havia lhe marcado mais profundamente naquele serviço. Agora vem um tempo ainda maior de silêncio que mesmo optando pelo estilo do português ganhador do Nobel de Literatura, com um texto que parece sofrer uma invasão do Covid 19, acabando com a respiração, vai pelo vidro atravessar um cenário de prédios altos, o Balança Mais Não Cai, a entrada do Sambódromo, o prédio do Banco Central, as barracas da Uruguaiana e eu começava a achar que era melhor fechar os vidros porque vinha um cheiro forte do churrasco da esquina e o sinal nada de abrir, enquanto no rádio Roberto Carlos, um amor que eu tive e vi pelo espelho na distância se perder, finalmente ficou verde, comecei a dividir o olhar desfocado da Candelária onde mataram onze crianças numa chacina cruel com a imagem dela no retrovisor, seu olhar fixo sem piscar os olhos e nem mexer as sobrancelhas, mas se o amor que eu perdi eu novamente encontrar, ai Roberto vou ter que diminuir seu volume porque esta música não tem nada a ver com este momento da crônica, nesta confusão que faço do momento que antecede uma revelação que pode explicar o título da crônica em duas línguas e, Roberto: dois mais dois dá sempre quatro, então, encostei perto do teatro, já desistindo de ouvir sua voz, naquele português quase sem sotaque daquela americana, falado como os atores brasileiros do palco que Arthur Azevedo idealizou, mas com um certo estilo de Saramago um português bem conhecido pelo seu estilo da sua pontuação, para contar sobre uma menina que chegou a pedir ajuda pelo 911 enquanto os sequestradores faziam um sorteio para saber qual seria o próximo a estuprá-la e no dia seguinte ela viu a reportagem sobre o encontro do corpo desta moça na mesma mata que foi registrado como local do telefonema que ela havia atendido.
    Esse domingo que conheci Bárbara foi véspera de sua volta para o país do nine eleven de seu trabalho, onde estou agora sentindo saudades – Homesick. Hoje, depois de um passageiro extraordinário, vi uma entrevista do Tom Hanks que estava até poucos dias sofrendo a falta de ar por conta do Corona vírus, ao ser perguntado qual sua palavra favorita, ele disse: homesick. Acho saudade a palavra mais difícil de traduzir da língua portuguesa. Se fosse perguntado qual a mais bonita na língua inglesa diria Wonderful. Bárbara foi wonderful e seu nome chegou a traduzir bem o que senti ao conhecê-la. Já o que vivi quando transportei o tal cara extraordinário, enquanto escrevia e esperava o aplicativo me requisitar, não posso nem falar se o seu nome o traduzia barbaramente, pois seu capacete não permitia nem que ele falasse tanto como a Bárbara, nem que ficasse na internet como todo tipo comum. Ele vestia uma roupa de astronauta e parecia dormir naquele trajeto de quase uma hora para chegar no cemitério onde trabalhava como coveiro.
    Esta saudade que sinto em quarentena não está tão longe de ser homesick, doente do lar, ao relacionar este sentimento tristão com o que nunca mais poderemos viver. Mas morte aqui não, pois a vida é bárbara e logo logo será um alegrão, ver a praia lotada e cheia de gente no seu calçadão, todos a andar de bicicleta, patins ou a pé na contra-mão, uma Rio Branco cheirando a churrasco a ser comido sem a preocupação, abraçar a mãe e o mais velho irmão, o ar entrando farto em cada respiração e a certeza que esta saudade não tem melhor tradução.

  25. Longe de mim querer ser chato, longe de mim… Eu sou uma pessoa que odeia fazer intriga, vocês sabem. Então vou falar bem baixinho, pra ficar só entre a gente, tá? Vamos lá: ao ler a crônica vencedora, percebi que ela é bastante longa. E o regulamento do desafio era bem claro quando dizia que o texto deveria ter entre 400 a 800 palavras. Então, tomei a liberdade de copiar e colar a crônica vencedora em alguns contadores de palavras disponíveis on line, e constatei que ela possui mais de 1.100 palavras. Por favor, não espalhem por aí que eu fiz isso! Alguém pode ficar chateado comigo. Mas realmente a crônica é muito boa. :)

    1. Oi, Renato!
      Excelente observação =)

      A especificação também dizia que era necessário incluir o termo “quarentena” no texto e ter título – mas a grande maioria das crônicas descumpriu pelo menos uma das três regras. E, já deixamos passar o título e a palavra, é justo também absolvermos o tamanho do texto, né? Por isso, fizemos questão de ler todos os conteúdos enviados, independente de estarem ou não dentro dos critérios estabelecidos! :)

      Abraço!

    2. Boa noite, Renato! Você está certo no seu ponto de vista, pois regras são regras! Não se intimide! Na minha crônica, tive muito cuidado para inserir no contexto a palavra “quarentena” no parágrafo certo, de resumi-la e retirar alguns trechos menos importantes para estar com até 800 palavras, e, no final, não enviar de maneira alguma sem o título. Mas aqui é Brasil, né!? As duas primeiras crônicas já traduzem isso ao se referir ao nosso presidente… Sigamos com fé!

    3. Oi, Adriano!
      Agradecemos seu cuidado e preocupação em atender às especificações do desafio. Você, sem dúvidas, facilitou muito nosso trabalho durante a leitura.
      Abrimos mão das “regras” porque vivemos em um momento atípico – e gostaríamos de ler e compartilhar todos os conteúdos enviados.
      Fique tranquilo! Para os próximos desafios não serão avaliados textos fora fo escopo.

      Novamente agradecemos pela preocupação e por expressar sua opinião. É importante para continuarmos evoluindo :)

  26. Excelentes crônicas!
    _Sobre a primeira, achei interessante a visão de que o processo se inverteu, e que hoje nós somos os responsáveis e eles os “sem juízo”. Bacana também a referência aos bares.
    _Da segunda, só tenho a dizer que esse presidente é uma comédia, que os exercícios físicos se não foram, hoje serão fundamentais, e me identifiquei com a relação pai e filha, já que a minha tem 10 meses e essa quarentena só me fez ainda mais presente.
    _E sobre a derradeira, achei engraçado o posição do autor com arma, tiro e tudo: se for pra manter distância vale tudo, no isolamento de quem está com o uísque prometendo a revanche após o susto.
    Um abraço e parabéns!
    Aguardando ansiosamente pelo livro!

  27. Parabéns pela iniciativa do desafio e pelas escolhas. As crônicas são ótimas. Eu me identifiquei tanto com a “É preciso vigiar de perto esses senhores desobedientes” que eu mesmo a poderia haver escrito.
    Meus velhinhos amados estão me enlouquecendo!!!

  28. Olá pessoal queridos.
    Me identifiquei muito com a primeira: É preciso vigiar de perto esses senhores desobedientes (Por Rafael Sette Câmara), pensando no meu filho que ficou responsável pelos avós paternos de 85 e 91 anos (os demais são de risco também), que não obedecem, todos os dias falta algo (que não) e sem falar para ninguém sorrateiramente, um ou outro sai para o mercado na esquina.
    Parabéns Rafael e demais ganhadores e enfim para todos que participaram e como eu dedicou o seu tempo com uma história.

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