Aprendi uma coisa importante ao lidar tanto com escritores: no final das contas, todos nós somos contadores de história. Reformulo: a única coisa que nos diferencia de um macaco, ao menos mentalmente falando, é a nossa capacidade de contar histórias aos nossos pares – seja relatando fatos verídicos ou romanceando-os para que se tornem mais sedutores.
Isso chega a ser óbvio, aliás. O que fazemos ao relatar nosso dia para a mulher ou o marido quando chegamos em casa? Contamos histórias do passado recente. O que fazemos quando estamos vendendo um serviço ou um produto? Contamos uma história que permita ao nosso interlocutor enxergar que nós somos o caminho para a realização de algum sonho seu, qualquer que seja.
O que fazemos quando estamos batendo papos com amigos? Trocamos histórias.
Quando queremos seduzir alguém? Criamos histórias.
Quando queremos nos livrar de problemas inesperados? Inventamos histórias.
Em cada um desses casos, a nossa chance de sucesso será maior se a nossa capacidade de contar uma boa história for grande, se soubermos prender a atenção, se dominarmos a arte de articular pensamentos e interpretar olhares, gerando mais expectativa a cada palavra cantada.
E isso também significa que buscar inspirações nos grandes contadores de história do mundo – os Saramagos e Kafkas, os Michaelangelos e Rodins, os Da Vincis e Portinaris – é quase uma obrigação para uma espécie de que diferencia das outras por saber relatar bem o que imagina.
Cultura, no seu sentido mais clássico, sempre continuará sendo a melhor ferramenta de sobrevivência da raça humana.
Ou, como bem colocou um dos maiores gênios da humanidade, o recém falecido Umberto Eco: “Quem não lê, aos 70 anos terá vivido só uma vida. Quem lê, terá vivido 5 mil anos. A leitura é uma imortalidade de trás para frente”