Não se pode escrever sem saber escrever

Há alguns anos, em uma Flip dessas tantas que participamos, acabei entrando em uma discussão com um romancista. O assunto: a língua portuguesa.

Segundo ele, o mais importante de um livro era passar a sua mensagem, a sua história, mesmo que para isso algumas regras (básicas) da nossa gramática fossem… digamos… ignoradas.

Discordei, como discordo hoje.

Não dessa prioridade em se passar uma mensagem, claro – mas do papel singular que o uso correto do português tem para cumprir esse objetivo.

Há uma diferença muito pouco sutil entre a história falada e a história escrita: a fala carrega tons e entonações que dificilmente podem ser replicadas pela escrita. Por este mesmo motivo, histórias faladas permitem mais liberdades com o nosso idioma, são mais soltas, mais musicais.

Na história escrita, tudo muda: nela, a entonação é dada pelo leitor, não pelo narrador.

A posição de uma vírgula pode quebrar todo o ritmo da frase ou mesmo alterar o seu sentido; a falta de vírgulas pode deixar o leitor com absoluta falta de ar, asfixiando a história inteira; tempos verbais errados (como usar o ‘quer que eu faço isso?’ ao invés de ‘quer que eu faça isso?’) podem assassinar a imagem do autor perante o leitor – imagem que sempre deve ser mantida no mais alto patamar pelo bem do enredo.

A história escrita depende da escrita e quanto mais mambembe, quanto mais desconectada do nosso idioma, ela for, mais difícil será cativar uma base interessante de leitores. Vejo isso no cotidiano do Clube de Autores: se tem um ponto comum da imensa maioria dos livros mais vendidos aqui é que eles passaram por uma revisão profissional antes de chegarem às prateleiras.

Para o nosso azar, temos um idioma que, embora belíssimo, é carregado de sutilezas e de minuciosas regrinhas para tudo. É difícil, muito difícil, dominar todos os detalhes do português – mas usar isso como desculpa para não se aprofundar no básico não ajuda o autor em nada. Quer viver da escrita? Estude seu idioma.

Para a nossa sorte, é relativamente fácil encontrar bons revisores a preços acessíveis. Não acredito que seja nesse quesito que se deva economizar.

Histórias bem escritas, afinal, são também histórias mais lidas, como se pode concluir por obviedade.

E bons livros tem os seus enredos bem escritos, não cuspidos de qualquer maneira em folhas em branco.

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Ricardo Almeida

Sou fundador e CEO do Clube de Autores, maior plataforma de autopublicação do Brasil e que hoje responde por 27% de todos os livros anualmente publicados no país. Premiado como empreendedor mais inovador do mundo no segmento de publishing pela London Book Fair de 2014, sou também escritor, triatleta e, acima de tudo, pai de família :)

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