A história, dizem, é sempre contada a partir da ótica dos vencedores. E isso até tem – ou ao menos tinha – algum fundo de verdade.
Eram sempre os vencedores, afinal, os sobreviventes que, inebriados de entusiasmo, recheados pelas pilhagens aos inimigos e investidos de um poder até então inexistente, que dirigiam não apenas os rumos das civilizações, mas também o próprio passado.
Assim, a conquista da cidade de Lisboa aos muçulmanos pelo primeiro rei de Portugal, Dom Afonso Henriques, em 1147, é sempre contada pela ótica dos vencedores cristãos, retratados como bravos e honrados guerreiros que expulsaram bárbaros infiéis de uma terra que não lhes pertencia. Uma versão, claro, que ignora que esses ditos bárbaros estavam há alguns séculos por toda a península ibérica e que superavam – em muito – os cristãos de então em quesitos como educação, artes, ciências e tolerância religiosa.
O mesmo se pode falar sobre a imensa maioria das personalidades e dos fatos históricos que nos foram ensinados. Como saber, com algum grau de segurança, o que realmente aconteceu nas guerras, nas revoluções, nos levantes que, somados, deram corpo e forma à nossa civilização atual?
Como confiar em versões romantizadas de personalidades que, por força dos poderosos de diferentes épocas, foram retratados ora como demônios, ora como heróis? O que realmente aconteceu nos tempos de César, de Napoleão, de Zumbi, de Tiradentes?
Quando a história é singular, feita de versões idealizadas para suprir determinados propósitos políticos e sociais, ela deixa de ter qualquer vínculo com a realidade. O que muda isso?
Essa é revolução de publicações independentes.
Porque a partir do momento em que todas as pessoas são livres para fazerem as suas próprias pesquisas históricas e tecer os seus próprios registros de diferentes épocas, agrega-se uma pluralidade fundamental para contrabalancear versões oficiais e nos deixar mais próximos da verdade.
Ao invés de uma única versão sobre César, sobre Napoleão, sobre Zumbi dos Palmares ou sobre Tiradentes, para ficar nesses parcos exemplos que citei há pouco, passamos a ter uma infinidade de versões.
Outro problema surge daí? Sem dúvidas: se tantas versões de fatos e personagens são conflitantes, e se todas alegam ser as reais, como saber em qual confiar? Bom… a verdade é que talvez jamais saibamos ou consigamos chegar nos fatos crus da história da humanidade. Todos os escritores, afinal, são humanos – e todos os humanos têm seus próprios ideais, suas próprias crenças que, por vezes, ainda que inconscientemente, insistem em forçar interpretações mais particulares dos fatos e dos rastros de documentos.
Mas essa mesma pluralidade de versões traz uma realidade absolutamente nova para a nossa civilização: a possibilidade de qualquer um de nós mergulharmos em um tema, nadarmos por suas distintas versões e histórias, e costurarmos alguma versão que nos pareça mais fidedigna. Essa pluralidade literária, em outras palavras, nos permite usar as histórias da História para pensar, e não apenas para aceitar.
Para pensar em um mundo muito mais complexo, muito mais acinzentado e muito menos binário. Para fugir de extremismos e fundamentalismos que cismam em querer impor suas impressões do passado como forma de conduzir um futuro mais conveniente. Para entender que vivemos em um mundo cujo passado não se desenha em uma linha, mas sim em uma infinidade de paralelos que, de alguma forma, desembocam na nossa sociedade.
Essa é uma das maiores belezas da publicação independente: essa revolução do ato de se registrar a história da humanidade.
No episódio de hoje…
E com quem falaremos hoje sobre isso? Com a escritora brasileira radicada na Itália, Sara Messias, autora de do romance histórico Aqualtune, um sonho chamado liberdade – livro que desvenda acontecimentos que a história oficial insiste em turvar.
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muito bom
excelente conteúdo, parabéns