Os nossos tempos são recheados de verdades absolutas.
“O brasileiro não lê” é uma delas – quando, na realidade, lê-se mais no Brasil do que em qualquer país da América Latina.
“Livro no Brasil é caro” – quando, na prática, um livro custa menos que uma ida ao cinema ou que 2 Big Macs. Considerando o valor que carrega, dificilmente isso pode ser considerado caro.
“Há mais livrarias em Buenos Aires do que em todo o país” – frase que eu ouvi durante toda a minha infância, que ainda ouço hoje e que nunca, em nenhum momento da história, foi sequer remotamente perto da verdade.
“Os jovens de hoje não lêem”, uma das frases preferidas dos mais velhos e que também não refletem nada da realidade, bastando que se varra com os olhos parques, transportes coletivos e praças para se deparar com adolescentes de hoje lendo muito, mas muito mais do que adolescentes das décadas passadas.
Essas verdades todas – que, de verdade, nada têm – costumam fazer um mal imenso ao nosso mercado. Porque a crença na não-leitura invariavelmente esbarra em uma má vontade generalizada dos próprios atores desse mercado em investir mais e em abrir de maneira mais intensa as portas da literatura.
Bom… se essas verdades não são, então, verdadeiras… no que devemos acreditar? Quem é o leitor brasileiro? O quanto exatamente ele lê? O que ele gosta ou desgosta?
Há, enfim, mercado para as dezenas de milhares de escritores independentes que fazem do Clube de Autores a casa dos seus mais de 80 mil livros aqui publicados?
Quando escreve uma história, é natural que o foco do autor esteja absolutamente abduzido por ela. Não se consegue criar um mundo – que é o que costuma habitar esse espaço de páginas entre capa e contracapa – de outra maneira.
Mas o autor moderno já entendeu que publicar seu livro vai muito além de escrever: ele precisa encontrar seu público, cativar interesses, construir engajamento e, enfim, agir como seu próprio empresário, seu próprio marketeiro. Ele precisa, talvez no instante em que terminar a sua história, deixar de encará-la com o romantismo dos escritores e passar a enxergá-la com a frieza das pessoas de negócios.
Os autores que conseguem fazer isso – algo que vemos diariamente aqui no Clube – costumam esbanjar números impressionantes de vendas e dar passos decisivos rumo à construção do sonho de viver de livro.
Ao longo do caminho, no entanto, esses mesmos autores – bem como quase todos os demais – percebem que uma das dificuldades é ter acesso a números e dados que construam, com clareza, esse personagem exótico chamado “mercado”. E voltamos, aqui, a todas as questões que abriram essa introdução. O brasileiro lê ou não lê? Como o hábito de leitura está se desenvolvendo no país? Que espaço há para novos autores? Que e como são esses leitores – tanto os mais antigos quanto os mais novos? Quais as suas preferências?
Poderíamos responder a muitas dessas perguntas usando os próprios dados do Clube de Autores, claro. Mas, mesmo com números que talvez até sejam suficientes para arriscar respostas, ainda seríamos parciais demais por englobar apenas um lado do mercado editorial – o de autores independentes.
Melhor mesmo é buscar respostas de quem realmente as têm construídas, estruturadas com método e consistência.
Entra em cena, portanto, a entrevistada de hoje: Zoara Failla, coordenadora do Instituto Pro-Livro e da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, talvez a única que consistentemente descreva o nosso mercado e as formas que ele tem mudado.
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