A poesia nasceu como contestação, como conclamação, como uma maneira mais instantânea de seduzir olhos, mentes e almas e forçá-las a uma espécie de reflexão quase revolucionária sobre as muitas vezes pouco estáveis estabilidades da vida.
A poesia nasceu nas ruas e nas ruas formou suas audiências em uma cultura absolutamente oral, muito antes do livro sequer existir. Formou audiências em sentido amplo, vale dizer. Versos com palavras bem cortadas, com termos cunhados para cada ocasião, foram catapultando os pensamentos dos mais passivos espectadores para um mar de questionamentos sobre tudo.
A mais antiga das artes literárias de que se tem notícia, a poesia também sofreu imensamente nas últimas décadas. Sofreu porque – ao menos em minha opinião – ela foi transplantada das ruas para as academias, foi metamorfoseada de força transformadora em uma coisa qualquer que se deva observar de longe, uma coisa qualquer que descansa, estática, desmaiada sobre um pedestal intelectualóide estranho à própria natureza da arte.
E assim, sem o próprio espírito revolucionário que define o conceito de poesia, ela foi perdendo relevância. Poetas desapareceram. Frases esquisitas como “não adianta escrever poesia porque poesia não vende” passaram a circular em meios de escritores. Preconceitos brotaram. E tudo – ou quase tudo – passou a emitir sinais tristes do fim de uma das mais belas artes já concebidas pela humanidade.
Mas esses sinais – ainda bem – começaram a sumir.
Algo aconteceu no nosso novo mundo hiperconectado, regido pela absoluta falta de tempo e pela constante inquietude. Algo mudou a partir da circulação acelerada nas rodovias do Twitter, do Instagram, do TikTok e de todas as redes sociais que passaram a integrar as nossas vidas. Uma noção de mundo mais clara brotou a partir da constatação das injustiças sociais, raciais e políticas, das perseguições a pensamentos, das tentativas de retrocesso a um mundo cimentado na hierarquia incontestável das castas. E essa noção de mundo encontrou público: olhos e ouvidos famintos por consumir o novo, por beber contestações, por encontrar as palavras que apenas os poetas sabem cunhar para definir sentimentos que costumam ser absolutamente horizontais.
Nesse novo mundo, um novo grupo de poetas de rua surgiu e está nitidamente reconstruindo a relevância de toda uma arte que parecia perdida. Nesse novo mundo, poesia não apenas é o fio condutor das mudanças e revoluções, mas a base da própria formação de opinião. E, fechando essa introdução com um toque capitalista, nesse novo mundo – a julgar pelos números que temos aqui no Clube de Autores – poesia vende, sim. E muito.
Bom… se estamos falando sobre o futuro do mercado editorial, nada mais justo do que dialogar com um desses novos grandes poetas revolucionários, transformadores, para entender como ele julga o futuro da arte.
Entre, portanto, o meu conterrâneo baiano Nivaldo Brito, mais conhecido por Ni Brisant, autor de Tratado sobre o Coração das Coisas Ditas e de Para Brisa.
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