Movimentos migratórios, sejam de pessoas ou empresas (ou ambos), sempre trazem importantes questões filosóficas.
Em um passeio qualquer pela Praça do Comércio, na Baixa Pombalina de Lisboa, nos deparamos com um exemplo perfeito da Babel contemporânea: inglês, francês, alemão, português (de Portugal, do Brasil, de Angola e de Cabo Verde), bem como incontáveis outros idiomas, cortam a geografia como se estivessem em casa.
E sim, toda a região da Baixa é um centro turístico importante, o que facilita essa profusão de idiomas. Mas aqui, em Cascais, onde vim morar, a coisa não é tão diferente. Nem aqui e nem em Paris, em Amsterdam, em Barcelona ou em qualquer grande centro europeu. O motivo é simples, óbvio: países geograficamente minúsculos com civilizações interconectadas por mais de um milênio dependem de um tipo de globalização que conhecemos pouco no nosso vasto Brasil, continentalmente imenso ao ponto de ter como barreiras linguísticas não idiomas, mas os diferentes sotaques que singram seu território.
Não costumamos dar muita atenção a isso, mas o português é, hoje, o quinto idioma mais falado do mundo, com cerca de 280 milhões de habitantes nos países lusófonos. Mas esse mesmo cálculo induz ao erro, a uma miopia importantíssima. Olhe o mapa abaixo:
Os pontos verdes mais escuros são os países em que há uma concentração de português como idioma primário. Mas perceba os pontos verde-claro, espalhados por todo o globo. Do distante Havaí à China, da Austrália ao Canadá, da Índia a toda a Europa há comunidades lusófonas. Veja o destaque do mapa europeu, abaixo:
Voltamos, então, à pergunta do post: em um mundo globalizado, faz sentido considerarmos a nossa expansão a partir da geografia? Como os lusófonos (sejam nascidos ou descendentes de países como Brasil ou Portugal) que vivem na Espanha, na França, na Holanda ou na Itália, para citar apenas alguns dos países, consomem literatura em português? Sim, claro, há os ebooks com seu potencial onipresente… mas os dados, sempre severos e inquestionáveis, continuam mostrando que a preferência do leitor é majoritariamente – e por uma margem gigante que parece inclusive crescer ano a ano – impressa.
Considerando ainda que há aqui inúmeras facilidades alfandegárias para países parte da Comunidade… a resposta para esse nosso dilema parece desconcertantemente óbvia.
A vantagem que ofereceremos aos autores brasileiros com a internacionalização do Clube não será apenas vender seus livros a leitores portugueses, da mesma forma que a vantagem que ofereceremos aos escritores portugueses não será apenas o alcance aos leitores brasileiros. A vantagem que ofereceremos será a possibilidade de autores e leitores espalhados pelo Brasil e por toda a Europa, de maneira absolutamente transnacional e linguística, se conectarem. São milhões, muitos milhões de leitores a mais – todos ávidos pelo consumo de literatura em sua língua nativa.
O primeiro passo do Clube de Autores fora das fronteiras brasileiras, portanto, é linguístico e abraçará todo o nosso idioma no território europeu.
Mas como tudo no mundo, claro, não há essa simplicidade binária em todas as decisões. Se, por um lado, há a integração do idioma, por outro há a barreira dos hábitos de consumo. Como devemos preparar a nossa plataforma para o consumo de livros na Europa? Como o leitor europeu prefere consumir literatura – tanto do ponto de vista de formato quanto de ponto de venda? Deixemos isso para a semana que vem.
A ser continuado na próxima terça-feira
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