Quando os grandes navegadores singraram os oceanos em busca de novos mundos, cada parada em terras desconhecidas era absorvida com uma mescla de espanto, encantamento e, claro, temor. O desconhecido é assim: evoca a ancestral ansiedade que todos temos quando o escuro fica prestes a se clarear e a revelar o ambiente.
Nesse caminho inverso que fazemos, do Novo ao Velho Mundo (e que, obviamente, transforma o novo no velho e o velho no novo, ao menos para os tripulantes dessa nau moderna), não faltaram escuros a serem clareados. O principal deles, no entanto, talvez seja a forma com que o tempo seja encarado.
Novamente, o Tempo
Há menos pressa por essas praias. Talvez tantos milênios de evolução social relativamente contínua (ao menos em comparação com as Américas, que passaram por rupturas radicais com a dominação e exterminação abrupta de grande parte dos seus povos indígenas) tenham ensinado que o excesso de pressa costuma levar a futuros menos prósperos.
Menos pressa significa um sabor diferente, mais delgado, do Tempo. Significa um Tempo que prioriza o enriquecimento da alma em detrimento do enriquecimento do bolso (principalmente quando o bolso seja o alheio, de patrões ou políticos). Perceba, meu caro autor que aqui me lê: não digo que se trabalhe pouco pelas bandas de cá do Velho Mundo – mas é inegável que o ritmo da labuta latinoamericana é muito, muito mais acelerado e intenso e essencialmente sem pausas. Nas nossas terras, são parcas as poupanças privadas ou públicas que possam socorrer o cidadão em apuros; se não trabalharmos dia e noite, morremos. A pressa é, portanto, ao menos em nosso caso, um ingrediente cultural da sobrevivência, um ingrediente que herdamos dos nossos pais, que herdaram dos nossos avós, que herdaram dos nossos bisavós. Essa herança da pressa, por outro lado, parece ter se perdido em algum momento da história de cá.
Menos pressa significa também, claro, mais tempo para se ler (e para se escrever). Os cerca de 100 milhões de leitores brasileiros lêem, em média, 5 livros por ano. Os cerca de 35 milhões de leitores ibéricos (somando-se Portugal e Espanha) lêem o dobro: 10 livros por ano. E isso é por hábito, não por questões comerciais: enquanto o preço médio do livro no Brasil gira na casa dos US$ 8, ele supera os US$ 16 tanto em Portugal quanto na Espanha. O livro é caro? Não, nem em um país e nem em outro. Sempre insisti nisso: US$ 8 ou US$ 16 é nada perto do valor real que cada livro tem, do universo de conhecimentos contido em suas páginas. Mas o fato é que, mesmo custando o dobro, lê-se também o dobro.
Nossa experiência garante que quanto mais se lê, mais se escreve. Uma coisa costuma levar à outra.
Mas menos pressa também significa uma evolução digital menor, mais lenta. O ritmo das grandes urbes brasileiras impõe que a Internet reine, que tudo possa ser feito por intermédio dela e com uma atenção ao consumidor compatível com um mercado que compete 24 horas por mais de 200 milhões de consumidores apressados.
A região metropolitana de São Paulo, para ficar em um exemplo, tem 21 milhões de habitantes – ou o equivalente a 2 “Portugais” inteiros. A região metropolitana de Lisboa, maior cidade do país, tem 2 milhões de habitantes. Madrid, maior cidade da Espanha, 6,5 milhões. E, enquanto o Brasil soma diversas cidades com mais de 1 milhão de habitantes, a Europa é, por definição, povoada pelo que nós consideraríamos pequenas vilas. Isso significa que os cidadãos não têm, exatamente, um problema grande em fazer as coisas a pé, em percorrer a burocracia cotidiana pessoalmente e, enfim, a fazer mais coisas que consideraríamos “estorvantes” fisicamente. Essa vida mais física que virtual, embora nos soe muito menos cômoda, é nítida. E também significa que a Internet é menos dominante ou onipresente que no Novo Mundo. Há uma adaptação que precisaremos costurar aqui.
Menos pressa, no entanto, não significa cidades paradas no tempo. Nem de longe. Nós, um país-continente gigantesco isolado dos vizinhos pelo idioma, costumamos ter uma presença minúscula de novos imigrantes (excluindo, obviamente, os japoneses, italianos, alemães etc. que se mudaram para o Brasil nos séculos passados). Caminhar por Lisboa significa interagir com povos de absolutamente todos os cantos do mundo o tempo todo. Esse ar cosmopolita ensina uma coisa importante: português não é o único idioma daqui. Há muitos idiomas asiáticos. Há muitos idiomas europeus. Há muitos idiomas africanos. E há muitos idiomas portugueses. Sim: o nosso próprio idioma é mais plural que costumamos crer.
Na primeira reunião que tive com uma livraria, a pergunta que me foi feita foi se o catálogo do Clube era de livros em português ou em brasileiro. Não, caro amigo autor, não se assuste achando que foi uma pergunta preconceituosa – porque não foi. Foi uma pergunta sincera e importante dadas as diferenças palpáveis – embora não impeditivas – das duas línguas. Saramago escrevia de um jeito; Guimarães Rosa, de outro. São diferenças sutis, mas importantes – como também é importante a sede de leitores de ambos os países por livros escritos por seus irmãos, paradoxalmente unidos pelo isolamento de suas línguas nativas em um planeta dominado pelo inglês, pelo espanhol, pelo mandarim.
Mas isso também significa que o plano original que tínhamos, de expandir o Clube geograficamente (primeiro um país, depois outro, depois outro) não faz necessariamente tanto sentido. A expansão talvez seja mais eficaz quando navegada por idioma (até porque há centenas de milhares de brasileiros e de portugueses vivendo na França, na Espanha, na Alemanha etc.). E, se as barreiras comerciais dentro da comunidade europeia são tão minúsculas, por que não aproveitar?
O aproveitamento de uma comunidade internacional e hiper-integrada, aliás, já entrou na essência da montagem da nova operação. Como? Esse é um tópico para a semana que vem.
A ser continuado na próxima terça-feira
Acompanhe a jornada do Clube de Autores para novos mercados, em tempo real, neste link: www.clubedeautores.com.br/jornada
Amém, estamos sempre.
Benditos de, toda família.
Da terra.
Ótimo, ser desta equipes.
Sempre com um grande, pensamento.
De levar,bons escrito, para quem.
Que saber, e nós entender, melhor.
E conhecer, e formar bom caminho.
Sempre juntos.
Estaremos, olhando além.
E ser feliz, de levar esta sabedoria.
Amor forte, do escrito.