A imortalidade fundamental dos livros

Há quem diga que livros são apenas um compilado de páginas encadernadas em papel ou bits. Discordo.

Sim, sei que uma história pode ser contada em um TumblR, em um post no Facebook, em um muro. Ainda assim, é diferente.

Há uma espécie de rito, de cerimônia, inclusa no ato de se publicar um livro. É como se o autor, ao efetivamente publicar uma obra, ecoasse as palavras que Michaelangelo disse para sua escultura de Moisés no instante em que a concluiu: “Levanta-te e anda!”.

Que outras palavras caberiam ali, no êxtase daquele momento, afinal?

Ao ser finalizada, a escultura não mais pertencia ao escultor: já tinha vida própria, já suscitaria olhares e suspiros de quem quer que se deparasse com ela, já assumiria um papel único no imaginário de cada um que a visitasse. O escultor continuaria esculpindo outros trabalhos, claro, até morrer dentro da brevidade que o Tempo garante a todos nós; sua obra, no entanto, seguiria encantando gerações, tão imortal quanto imutável a partir do instante em que foi por ele finalizada, revelada.

É o mesmo que ocorre com livros.

Saramago já se foi; o Ensaio sobre a Cegueira permanecesse como um clássico imperdível da literatura mundial. Chinua Achebe deixou o mundo em 2013; Things Fall Apart, que ainda carece de uma tradução para português, certamente sobreviverá por séculos como a mais hipnótica versão africana das tragédias shakespearianas. Não sei por onde anda Carlos Moreira; mas Tetralogia do Nada, publicada aqui no Clube, já causou e seguirá causando impactos no mínimo tectônicos nas mentes de seus leitores.

Livros são diferentes de outras formas de escrita por serem as lápides das próprias histórias que encerram.

Posts podem ser alterados a qualquer momento; histórias orais podem ser mudadas ao sabor do hálito do narrador; e mesmo o teatro pode ser entendido de acordo com as entonações dadas por cada diretor ou companhia. Toda e qualquer história não publicada em um livro é viva, orgânica, sujeita a ondas infinitas de refações. Não há nada de errado com isso, claro: cada arte tem o seu propósito.

Mas é que é apenas quando uma história encontra seu fim criativo em um livro, quando é efetivamente encapada, diagramada, revisada e distribuída, que seu ciclo pode ser dado como completo. É apenas nesse instante, quando suas palavras passam a ser imutáveis, que ela deixa de pertencer ao autor e passa a pertencer à humanidade.

 

E a humanidade precisa de presentes assim para evoluir um pouco mais.

Contribuamos, nós que somos autores, com os nossos livros.

 

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Ricardo Almeida

Sou fundador e CEO do Clube de Autores, maior plataforma de autopublicação do Brasil e que hoje responde por 27% de todos os livros anualmente publicados no país. Premiado como empreendedor mais inovador do mundo no segmento de publishing pela London Book Fair de 2014, sou também escritor, triatleta e, acima de tudo, pai de família :)

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