Quase sempre que nos deparamos com cases, dados e relatos sobre o mercado editorial, recebemos informações do ocidente. Estados Unidos, América Latina, Europa etc. acabam desenhando uma espécie de mapa dos territórios mais conhecidos para nós, brasileiros, que acabamos consequentemente nos guiando pelas suas tendências.
Mas, além da produção de aparelhos mais sofisticados, o que exatamente está acontecendo na China, Coreia, Russia, em toda a península arábica e em outros territórios que costumam ficar mais distantes dos nossos olhos e mentes?
Vamos ao caso da Russia, apresentado aqui na Feira do Livro de Londres, e que deve chegar a 5% do total de vendas de ebooks em todo o mundo. Via Amazon? Google? Nada disso: o mercado de lá é tão peculiar que uma loja chamada LitRes.ru tem mais de 40% de participação, deixando os gigantes parecendo anões.
Como entender o site será difícil – ele é apenas em russo – cabe destacar que eles se baseiam em uma app feita para leitura de ebooks e audiobooks aparentemente idêntico a muitos outros. Aparentemente. Mas o diferencial está na ferramenta de recomendação social que eles usam e que inclui “alimentar” os seus algoritmos com dados fresquinhos vindos de – acredite se quiser – pirataria.
Lá, pirataria é um problema mais crítico do que em muitos países do mundo, incluindo o Brasil. E apenas esperar que o governo resolva isso não adianta: assim como no Brasil, o governo é muito, MUITO lento e ineficiente. O que eles fizeram, portanto, foi desenvolver ferramentas de detecção dos títulos mais pirateados nos principais sites ilegais e utilizar isso, de maneira dinâmica, como ferramenta de marketing, dando mais destaque a livros que costumam aparecer mais no “mundo ilegal”.
E por que o usuário trocaria um download pirata gratuito por uma compra paga? A resposta deles foi simples (e comprovada pelo sucesso nas vendas): a qualidade da oferta. Se, por um lado, nunca se conseguirá competir por preço com livros piratas (e gratuitos), por outro se consegue trabalhar uma melhor experiência de leitura via ereader, a certeza da qualidade do arquivo, da manutenção de uma biblioteca organizada de títulos, de recomendações, anotações estruturadas etc.
Em outras palavras: a avaliação de pirataria é feita para detectar o que o público mais deseja; a partir daí, eles geram destaques no site às mesmas obras e ressaltam ferramentas gratuitas que sites piratas nunca conseguirão oferecer. Ao invés de brigar por download de arquivos, brigam pela experiência da leitura.
Uma aula para nós, brasileiros, que também temos problemas semelhantes mas que não conseguimos nos basear em exemplos vindos de países mais desenvolvidos em que a pirataria, muito embora exista, gira em números substancialmente menores e mais “calmos” que os nossos.
Para o Clube, isso é aponta para um caminho claro de oferecer experiências de leitura superiores, principalmente no mercado de ebooks. Isso já começa a ser feito com o Pensática, claro – mas ainda há um longo caminho.
E para os autores? Muitos daqui do Clube já oferecem, para os compradores dos livros, conteúdo complementar gratuito (de aulas online a convites para eventos). E essa oferta de fato gera mais vendas e mais recomendações, praticamente iniciando toda uma cadeia de valor. São experiências que devem ser observadas mais de perto e, de alguma maneira, adaptada para a realidade de cada um dos títulos produzidos.
A pergunta que fica é clara: o que você, autor, pode oferecer ao seu leitor do ponto de vista de experiência que vá além de um arquivo ou de páginas impressas? Ganha quem conseguir responder melhor a essa pergunta.
Uma coisa podemos garantir: nós, aqui no Clube, faremos de tudo para responder junto.