Feira do livro de Guadalajara: a primeira impressão

Estamos tão habituados a ouvir misérias sobre o mercado editorial que, aos poucos, vamos nos resignando e nos entregando à crença de que tudo vai mal no mundo do livro.

Não é verdade.

E não estou falando aqui apenas da nossa história, a história do Clube, que teve um 2018 espetacular. Mesmo o mercado tradicional não está assim tão mal quanto parece – ao menos não fora das nossas fronteiras.

Essa foi a nossa primeira impressão ao perambular pelos lotados corredores da FIL – Feira Internacional de Livros de Guadalajara, no México, segundo maior evento do gênero no mundo (perdendo apenas para Frankfurt).

As Saraivas e Culturas daqui – as imensas livrarias Gandhi e Porrúa que, assim como suas contrapartes brasileiras, dominam o mercado local – não estão lamuriando suas dificuldades. Ao contrário: empolgados, parecem caçar novas fronteiras de crescimento para um país que só agora parece estar entregando papel e tinta à sua inigualável tradição de narrativas orais.

Não há também o isolacionismo cultural ao qual nos acostumamos no Brasil, em grande parte pelas barreiras de idioma. Estandes da Argentina, Chile, Peru e tantos outros parecem se entrelaçar, criando uma teia de literatura latina composta tanto pelos best-sellers locais como García Marquez e Vargas Llosa quanto por autores novos, independentes, que estão ainda no chegando ao auge de suas produções literárias.

Sim, há o estande brasileiro também – mas este parece triste, só, perdido entre uma prateleira do Maurício de Sousa e alguns kits de livros com brinquedos de dinossauros. Não nego uma certa decepção que nós, terra de gênios que vão de Machado de Assis a Guimarães Rosa, de Rachel de Queiroz a Manoel de Barros, exibamos como único exemplo de nossa literatura os quadrinhos da Turma da Mônica.

A primeira impressão da FILGuadalajara, portanto? A de que o pessimismo editorial brasileiro é algo específico do mercado tradicional brasileiro, o que domina as burocracias e as engenharias envelhecidas que em nada retratam o cotidiano dos novos autores e dos novos leitores.

Nós, independentes, parecemos imersos em uma realidade tão diversa que se aproxima da distopia: temos muitas histórias para contar, temos meios para fazê-las chegarem aos nossos públicos e temos público disposto a lê-las.

E fora das nossas fronteiras esse otimismo literário parece ser onipresente: o mundo inteiro está disposto a mergulhar em novas fronteiras literárias, a descobrir novos mundos e novas possibilidades.

Não é apenas no Brasil que a vez dos independentes chegou: é no mundo inteiro.

Aposentemos, pois, o velho, o tradicional, o antigo e o antiquado. O mundo já os está deixando para trás.

Agora é a nossa hora.

Ricardo Almeida

Sou fundador e CEO do Clube de Autores, maior plataforma de autopublicação do Brasil e que hoje responde por 27% de todos os livros anualmente publicados no país. Premiado como empreendedor mais inovador do mundo no segmento de publishing pela London Book Fair de 2014, sou também escritor, triatleta e, acima de tudo, pai de família :)

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *