Sempre tive dificuldades em entender a tristeza profunda com a vida – aquela que faz as pessoas se sentirem dormentes, estéreis de felicidade, mergulhadas na mais completa falta de expectativas.
Não duvido da existência da depressão, claro: apenas tenho dificuldades em entender. O motivo?
Olho em torno de mim para a minha pequena estante de livros. Há, nela, oportunidades singulares de se mergulhar nos mais diversos tempos, de se compartilhar com personagens incríveis as mais diversas aventuras traçadas pelas mão dos mais geniais artistas.
Nessas oportunidades – em cada uma delas – há também o sempre bem-vindo efeito colateral de colhermos das histórias maravilhosas um pouco de autconhecimento, de entendimento sobre nós mesmos, de percepções sobre a vida.
E o que podemos fazer com isso? Viver as nossas vidas, claro. Escrever as nossas histórias como quisermos, livres dos tacanhos pensamentos alheios ou das sempre ridículas convenções sociais que caçam padrões até onde os padrões devem inexistir.
Como encaixar tristeza nisso? Se podemos viver tantas histórias de tantas pessoas em tantos diferentes tempos, se podemos aprender com um universo inteiro de sabedoria coletiva para escrever a nossa própria narrativa, porque não apenas sorrir e seguir?
Estou certo que há alguma resposta para isso – algo talvez mais químico ou biológico que psicológico que a minha própria ignorância não permite alcançar.
Mas, enquanto essa ignorância sobre a tristeza se alimentar de livros e escolhas próprias calcadas na sabedoria da literatura, confesso que me esforçarei ao máximo para mantê-la.
Nesse caso, ao invés de procurar alguma luz que me aponte o caminho da escuridão, apenas abrirei um livro qualquer e farei o que mais amo na vida: começarei a ler.