Do orgulho do pioneirismo à frustração do conformismo

Saramago, Valter Hugo Mãe, Mia Couto.

Esses três escritores – um português, um angolano e outro moçambicano – tem uma coisa em comum: eles são parte de uma revolução na língua portuguesa. Sim, eu sei que Saramago já nos deixou – mas isso faz tão pouco tempo que tomei a liberdade de ignorar sua morte para me concentrar em sua obra.

Vamos à questão da revolução.

Basta ler As Intermitências da Morte ou Ensaio sobre a Cegueira para ficarmos babando nos períodos longos e virgulados de Saramago, em uma maestria que confere a cada texto um ritmo inacreditável.

O que dizer sobre a tetralogia das minúsculas – os quatro pesadíssimos livros de Valter Hugo Mãe que abole até as letras maiúsculas e os pontos de interrogação para fazer as histórias fluírem melhor?

Mia Couto? As palavras que ele inventa, por exemplo, em Terra Sonâmbula, são poesias à parte. Cada frase sua é um livro, eu diria.

Mas sabe o que isso tem a ver conosco? Nós, brasileiros, somos a raiz de toda essa revolução. Não costumamos nos dar tanto crédito, mas todos esses gênios estão fazendo hoje o que Mário de Andrade e Guimarães Rosa, para ficar apenas em dois exemplos, fizeram no começo do século passado.

Sim: apesar de não sermos os inventores do nosso idioma, fomos nós que primeiro os tiramos do ostracismo, sacudimos os seus antiquados tradicionalismos e o fizemos se curvar às histórias. Aliás, é isso que define a revolução de um idioma: fazer com que as suas regras ortogramaticais obedeçam às histórias para as quais ele foi criado, e não o contrário.

Tá… mas qual o ponto de tudo isso?

Não se trata apenas de bater no peito e arrotar o orgulho dos pioneiros. Trata-se de entender que, hoje, enquanto outros países lusófonos do mundo estão seguindo um movimento que nós iniciamos, nós estamos aqui, metamorfoseados em seguidores.

Já passou da hora de impormos ao mundo uma forma nova de contarmos histórias.

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Ricardo Almeida

Sou fundador e CEO do Clube de Autores, maior plataforma de autopublicação do Brasil e que hoje responde por 27% de todos os livros anualmente publicados no país. Premiado como empreendedor mais inovador do mundo no segmento de publishing pela London Book Fair de 2014, sou também escritor, triatleta e, acima de tudo, pai de família :)

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