Sejamos otimistas quanto ao mercado editorial brasileiro

Nós, aqui no Clube, nos acostumamos a ser uma espécie de “voz discordante” de muito do que o mercado editorial fala sobre si mesmo.

Ainda bem, aliás: nosso mercado costuma ser feito por mentes velhas com uma resistência quase ideológica a qualquer forma de inovação. O resultado: um abismo entre a forma que o mercado se comporta e a demanda do leitor.

Segundo o mercado, o brasileiro não lê praticamente nada e o Brasil tende a mergulhar nas trevas da ignorância. Pior: como basta repetir algo incontáveis vezes para se criar uma percepção de verdade, a estridência verbal dos velhos editores, vítimas de suas próprias metodologias de trabalho baseadas em muita fumaça e pouca transparência, acabou consolidando na mentalidade popular a incontestável imagem de que o brasileiro não lê praticamente nada.

Ignore essas verdades, por um minuto, e olhe ao redor. Hoje é praticamente impossível não testemunhar alguém lendo um livro em um ônibus, metrô ou parque.

Os jovens, até então injustamente interpretados como uma massa ignorante e praticamente acéfala, nunca leram tanto. Em que outra geração, afinal, se viu adolescentes ávidos por séries de livros como Harry Potter, cada um deles composto de centenas e centenas de páginas? Sim: intelectualóides de plantão podem argumentar que Harry Potter não é exatamente Schoppenhauer – mas não é óbvio que essa consolidação de hábito de leitura em faixas etárias menores só tende a trazer benefícios no médio e longo prazo, criando gerações muito mais cultas do que as que pertencemos?

Nesse ponto, insistimos: nunca se leu tanto no Brasil quanto hoje. O número exato? Segundo o Instituto Pro-Livro, 56% dos brasileiros foram considerados leitores em 2016 (versus 55% em 2007 e 50% em 2001). Crescimento pequeno? De forma alguma, principalmente considerando o tamanho da população brasileira.

Vou além: esse crescimento estatístico é apenas a ponta de um iceberg formado por uma massa gigante de novos leitores sendo forjada a partir da Internet e de sagas que tem dominado o imaginário adolescente cujos frutos veremos apenas nos próximos anos.

Repito o que já postei aqui no passado: sim, o brasileiro lê menos que um sueco médio. Por outro lado, há muito, mas muito mais gente aqui do que lá, o que faz do mercado editorial brasileiro um ambiente muito mais dinâmico e intenso.

Em resumo: se você é um escritor que está se aventurando neste nosso mercado, aceite um conselho de quem está nele desde 2009: deixe o pessimismo de lado e concentre-se em aprender como captar o imaginário do seu leitor.

Acredite: ele existe e está lá, ansiosamente esperando ser instigado da maneira certa e no momento propício para mergulhar em uma nova história.

Man Reading Book and Sitting on Bookshelf in Library --- Image by © Royalty-Free/Corbis
Man Reading Book and Sitting on Bookshelf in Library — Image by © Royalty-Free/Corbis

Ricardo Almeida

Sou fundador e CEO do Clube de Autores, maior plataforma de autopublicação do Brasil e que hoje responde por 27% de todos os livros anualmente publicados no país. Premiado como empreendedor mais inovador do mundo no segmento de publishing pela London Book Fair de 2014, sou também escritor, triatleta e, acima de tudo, pai de família :)

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