É difícil achar algum brasileiro que tenha achado este ano de 2016 calmo, tranquilo, leve.
Tivemos de tudo: recessão, impeachment, Olimpíadas, prisões, gastrite.
É também difícil achar um brasileiro que não esteja torcendo por um 2017 mais calmo. Bom… sinto informar, mas os tempos de calmaria ficaram definitivamente em nosso passado.
O ritmo dos nossos tempos é frenético: hoje, clamamos por mudança sem sequer saber porque queremos mudar ou se uma mudança seria necessariamente melhor.
Quer um exemplo? Sem entrar em ideologia política nenhuma, pergunte a alguém próximo o que pensa da PEC 241, a mesma que está gerando protestos por todo o país. Você provavelmente ouvirá de uma esmagadora maioria, principalmente dos mais jovens, opiniões inflamadas, de um radicalismo absolutamente apaixonado. OK.
Em seguida, pergunte – exigindo honestidade – se este mesmo carrasco ou árduo defensor da PEC do Teto de Gastos se deu ao trabalho de ler os seus pouquíssimos parágrafos na íntegra.
Você provavelmente ouvirá um desconcertante silêncio.
Onde quero chegar com isso?
No eterno clamor pela mudança em uma versão política do arcadismo: mudar por mudar.
E isso não é um fenômeno unicamente brasileiro, acrescento. Sabe quais foram as três buscas mais feitas no Google por cidadãos britânicos horas depois deles votarem na saída do Reino Unido da União Europeia?
- O que significa deixar a União Europeia?
- O que é União Europeia?
- Quais os países que fazem parte da União Europeia?
Tenso, não? “Primeiro mudemos, depois entendamos porque e para que mudamos.”
Tendo a crer que a vitória de Trump também seja um exemplo perfeito da vitória do cheiro de mudança sobre a sua aparência real.
Há uma conclusão óbvia a se traçar daqui: se as populações do mundo estão impondo mudanças sem sequer entendê-las, então não há como dizer que todas serão para melhor. Ao contrário: estamos ativamente participando de sucessivas roletas russas sócio-políticas geradas pelo casamento da nossa preguiça de se aprofundar com nossa ansiedade de opinar.
Não há como esperar um resultado calmo e próspero de um cenário assim. Ao contrário: só há como esperar o caos.
Que seja assim: boas histórias, pelo menos, certamente serão escritas.
Caos, afinal, é a maior musa inspiradora da humanidade.
Não existe outra forma de conter a corrupção do que conter os gastos públicos federais.
Prender os corruptos é como cortar o rabo da minhoca, quando sempre nasce outro.
Sobre o Brexit, ingleses simplesmente se espelharam na Islândia, que apesar de um país pequeno, já saiu da crise mundial e vai bem. Apenas a título de curiosidade, que naturalmente “desconhece”, a Islândia, como a mais antiga democracia do mundo, não faz parte da União Européia, os cidadãos protestam pacificamente e derrubam governo com muita naturalidade.