Tem dias que a gente acorda assim… Com as mãos abstinentes, agoniadas, ansiosas para se derramarem inteiras pelo teclado.
Nem sempre sabemos ao certo sobre o que vamos escrever, claro: inspiração e necessidade, infelizmente, não costumam caminhar juntas. Não importa: quem gosta de letra aprecia menos com o significado que elas desenham ali, alinhadinhas, do que a beleza dos erres e esses e tês preenchendo uma página branca com humanidades.
E aí, quando finalmente ficamos a sós com o teclado, começamos a martelá-lo em busca de assunto.
Vai uma palavra aqui, outra ali… Vem o arrependimento e as apaga inteiras. Parece um passatempo inútil, um exercício sem peso, uma corrida em esteira.
Mas seguimos.
Olhamos em frente, testemunhando em primeira mão pessoas se metamorfoseando em personagens. Na imaginação, nomes se colam a faces, passados a rugas, futuros a olhares. Encontros e desencontros inventados, e não por isso menos reais, vão povoando o imaginário do escritor que fica dali, de uma mesa discreta, arquitetando os destinos do mundo.
E que mundo, acrescente-se. Bem melhor que o de carne-e-osso, feito apenas do que vemos e não do que pensamos. O mundo de quem observa escrevendo inclui tantos pensamentos e inconscientes alheios que faz da realidade algo tão tedioso quanto uma samambaia dormindo no canto de uma sala escura.
Enquanto isso, o teclado metralha. Frases desconexas vão ganhando sentido, parágrafos vão se erguendo como que por mágica, capítulos vão se formando como cidades inteiras. Mundos inteiros vão nascendo, feitos para o deleite do seu Criador que constrói, destrói, cria e mata.
E há tantos Criadores criando…
Basta prestar atenção: em cada café, em cada livraria, em cada praça, há sempre alguém se refugiando da monotonia existencial elocubrando universos. Há sempre tantos, tantos escritores gerando mundos que, se pudéssemos ver pensamentos, certamente viveríamos dentro do conceito de emoção.
Às vezes eu me pego olhando o site do Clube de Autores apenas esperando o próximo título a estrear. Há pelo menos um a cada hora do dia, número surpreendente até para quem trabalha com isso já faz tanto tempo. A cada novo livro a imaginação gira solta, recriando uma espécie de meta-história daquela história, tentando deduzir o autor pela sinopse e o drama pela capa. Tentando ver pelos olhos de dentro de quem imaginou a história.
Para quem vive de literatura, ver o ato da escrita tomar forma é como testemunhar o nascimento de mitos, de heróis que ainda encontrarão os seus destinos. É, na falta de uma palavra menos piegas, mágico.
Deixemos disso por enquanto: é, afinal, hora de escrever.
É hora de olhar ao redor e de voltar a imaginar as imaginações dos que passam crus, inocentes, aguardando sem saber os seus destinos serem esculpidos.
É hora de ignorar uma realidade para criar outra.
Nem que o destino desse momento seja apenas deixar registrado um texto como esse, tão inútil quanto sem propósito, aqui no blog.
Escrever tem dessas coisas também, afinal.
Parabéns pelo belo e inspirador texto! Abaixo, um texto que publiquei em meu blog faz algum tempo:
Por: Muniz Correa Neto
Houve um tempo em que eu preferia falar… As palavras vinham-me facilmente, chegavam aos meus lábios em expressiva quantidade. Nesta época, minha maior dificuldade eram as palavras escritas. Quase nunca conseguia por no papel o que de fato estava sentindo ou querendo dizer… Muitas vezes, eram compostas frases confusas, fora do contexto. Dificuldade natural, diziam alguns amigos experimentados; falta de prática, falavam outros também experientes. Era para mim muito complicado compor um texto com qualidade. As palavras se misturavam de tal forma que a frase estava ininteligível, não era a expressão adequada a determinado contexto ou ao acontecimento que eu estava tentando narrar.
Com o tempo, como naturalmente ocorre, fui superando as dificuldades. Com mais idade, a gente aprende que nem tudo se resume às palavras, embora estas tenham singular importância. Devemos nos atentar, principalmente, aos atos praticados, ao comportamento no dia a dia em relação aos demais, além de observar com muita atenção o que as pessoas desejam verdadeiramente nos dizer, às vezes, sem uma única palavra, escrita ou falada. Afinal, uma imagem ou um gesto pode possuir valor maior e mais marcante que mil palavras! E no final, acabamos escrevendo algo que se não tem a qualidade desejada, pelo menos nos alivia a alma sobremaneira!
Parabens pelo texto, Muniz!
Muito obrigado, porque eu acredito que livros com papel offset 90 e 75g poderiam ter um limite maior de páginas devido a capacidade de vocês de imprimirem livros com 700 páginas em papel couché.
O texto “Hora de escrever” traduz o que somos: Escritores. Essa arte de narrar situações é mágica. Às vezes, eu me pergunto: “Onde consigo buscar tanta imaginação e depois consigo concretizar em páginas de livro, sem nenhuma dificuldade?” Acredito que as maiorias dos escritores não encontraram essa resposta. Aliás, para quê saber? O importante são nossas realizações, que de certa forma satisfazem direta ou indiretamente milhares de eleitores.
Não poderia concordar mais, Maurício :-)
Realmente escrever é um pouco complicado, mas é gostoso. Eu mesmo já publiquei um livro aqui no clube e estou a caminho de terminar o segundo, mas infelizmente não vou poder publicá-lo aqui, pois ele já ultrapassou as 800 páginas. Eu gostaria de saber de tem alguma previsão para o aumento do limite das 700 páginas?
Oi Lucas! Por hora, não… é um problema muito mais de maquinário, daí a dificuldade…
Eu já tinha ouvido falar nisso antes. Que devido ao tamanho da lombada, vocês não teriam como imprimir livros acima dessa quantidade de páginas. Mas, eu acho que vocês poderiam alterar os limites de páginas de acordo com a gramatura do papel. Por que, eu publiquei um livro no site em duas versões (a primeira com 612 páginas em papel couché 150g e a segunda versão com 676 páginas em papel offset 90g), aconteceu que a versão com papel couché saiu com praticamente o dobro de tamanho da versão offset, isso contando que eu ainda poderia ter imprimido mais 88 páginas, o que certamente aumentaria o tamanho. Assim sendo, eu suponho que um livro de 700 páginas offset 90g, no caso, teria um tamanho muito menor ao real limite de 700 páginas couché 150g. Creio eu que o limite com papéis de gramatura menor poderia ser estendido, visando a maior liberdade criativa do leitor.
Lucas, nunca tínhamos pensado nisso antes. Vou ver diretamente com a gráfica e com a tecnologia o que podemos fazer a respeito. Se pudermos, será feito – com certeza.