Estou empolgado com o ano

Pode isso? Nossa inflação está no céu, nossos políticos no inferno, o crescimento do país mais negativo do que nunca, o desemprego virou uma realidade e as placas de “passa-se o ponto”, “vende-se” ou “aluga-se” praticamente dominando as paisagens urbanas. Em qualquer que seja o meio de comunicação, é difícil se pegar vendo alguma notícia boa, algo que nos acalente o peito quando projetamos as nossas vidas nesse futuro próximo.

Ainda assim, talvez com alguma resistência mental que comprove a minha própria imbecilidade, devo dizer que não me recordo de ter iniciado um ano tão empolgado quanto este 2016.

Talvez seja por amar tanto a literatura: épocas de grandes crises ou depressões, histórica e globalmente, sempre geraram as maiores obras de arte. Os poetas arcadistas brilharam no conturbado fim do ciclo do ouro em Minas; Álvares de Azevedo impôs o seu ultra romantismo quando chafurdado na então conservadoríssima São Paulo da metade do século XIX; Machado de Assis criou toda uma era literária no momento em que o Brasil saía de império para república.

No mundo, então, nem se fala: Tchekhov, Dostoiévski, Voltaire, Kafka, Nietzsche, Schopenhauer… todos foram fruto de alguns dos momentos mais tensos que o mundo já viu.

Talvez seja por conta desse abismo descrito por todos os que comentam as notícias e enxergam as realidades. Explico-me: é em momentos de crises, quando os abismos se fazem mais assustadores, que o nosso instinto de sobrevivência mais aflora e inova. Surgem, além de novas histórias, novos negócios, novas oportunidades, novas linhas de pensamento.

Por fim, tempos mais escuros como os que vivemos tem a inabalável capacidade de nos fazer repensar a vida. E repensar a vida é sempre, sempre algo positivo.

Veja, portanto, que não são poucos os indícios de que esse ano será absolutamente impactante, marcante, importante. Se pudermos nos basear na estatística – e sempre podemos – sairemos dele com excelentes histórias novas escritas, com inovações para todos os lados, com visões diferentes sobre as nossas próprias vidas.

E a crise em si? Bom… como todas as outras, ainda que a duras penas e impondo grandes sacrifícios, ela certamente passará. Em algum momento ela deixará as nossas manchetes e será substituída por um clima melhor, mais ameno. Como tudo, eventualmente será parte do passado.

O seu legado, no entanto, tem tudo para ser absolutamente atemporal. E quem está fazendo este legado somos todos nós.

Há como não se empolgar com um ano assim?

Nostalgia
Nostalgia

Ricardo Almeida

Sou fundador e CEO do Clube de Autores, maior plataforma de autopublicação do Brasil e que hoje responde por 27% de todos os livros anualmente publicados no país. Premiado como empreendedor mais inovador do mundo no segmento de publishing pela London Book Fair de 2014, sou também escritor, triatleta e, acima de tudo, pai de família :)

4 comentários em “Estou empolgado com o ano

  1. O que ocorre é que as pessoas querem ostentar, querem escolher, são hipócritas e pensam que se varrerem o chão estarão rastejando. (2)
    Sou extremamente contra essa apologia ao caos (no seu pior sentido) como combustível para a criatividade, o poeta não converte apenas tristeza e dor em objetos de contemplação, ele o faz com o que estiver à mão, seja lá o que for.

    1. Filipe, caos não é necessariamente tristeza ou algo ruim. Aliás, caos não é algo nem negativo e nem positivo – ele é justamente o “apolar” e é por isso mesmo que permite inspirações para quaisquer que sejam os lados.

  2. Bom dia, peço licença para elaborar minha humilde opinião sobre as colocações acima. Concordo com todas as palavras, contudo, quero apenas criticar, positivamente, o primeiro paragrafo. Aquelas frases, claramente, nos leva a entender que vivemos um caos total e que o pior ainda está por vir. Ali o autor prega o caos e ,como formador de opinião, faz com que milhares de pessoas vejam tudo pelo pior ângulo possível, levando-os a justificar sua inanição cotidiana com a frase:” Vejam, está difícil para todo mundo”. Não posso dar credibilidade a uma mídia, que vocês sabem, manipula as informações de acordo com seus interesse e de seus patrocinadores. Há uma crise politica, sim, e grave. Há uma crise de mercado, sim. Mas, para limpar uma casa imunda pela corrupção dá muito trabalho e, os corruptos, que não são só políticos, estão dando as caras e sendo presos. O fato de empresários, tidos com exemplares, estarem metidos nessa sujeira, mexe com todo um sistema dominante, principalmente com essa mídia formadora de opinião. Sim, a crise existe. Todavia, tenho 51 anos e vivi momentos extremamente piores, com inflação de 100% ao mê e não 10% ao ano como agora. Nunca, em toda a minha vida fiquei sem trabalho, sem carteira assinada. Não tenho curso superior. Em 2013 Saí de um emprego, contudo, em nenhum momento me faltou trabalho. Recebi algumas propostas. Trabalho todos os dias. Minha esposa, igualmente a mim, não lhe falta trabalho. O que ocorre é que as pessoas querem ostentar, querem escolher, são hipócritas e pensam que se varrerem o chão estarão rastejando. Sim, é muito mais fácil criar um caos para justificar minha hipocrisia, mais fácil culpar os governos, que de fato tem grande culpa e merece ser criticado. Mas, precisamos olhar o horizonte com entusiasmo e evitar e ficar repetindo a cada segundo que o mundo está um caos. Aceitar a realidade é uma coisa. Ficar inerte e preso a ela é opção. Quando falamos dessa forma, como é narrado no primeiro paragrafo desde texto, estamos alimentando uma cadeia negativa que leva as pessoas ao desanimo e a esquecerem que a vida é feita de sonhos,lutas, sacrifícios, derrotas, vitórias, para, então se alcançar as glórias. Nada cai do céu. A quem interessa o caos?

    1. Oi Martinho! Só o fato de você ter compartilhado esta opinião já fez o texto valer a pena. Eu costumo ter uma opinião muito clara quanto à sua pergunta final: o caos interessa a qualquer um que deseje inovar. Sem caos não há conflito e sem conflito, não há oportunidade. Em toda a história da humanidade, não houve um só período de surto criativo e desenvolvimentista que não tenha nascido a partir de alguma crise – sendo precisamente este o motivo da minha empolgação.

      Estamos em um momento triste para o Brasil? Sem dúvidas. Ver as notícias sobre nossos políticos e empreiteiros dá ânsia de vômito. Mas, como em toda crise, temos sempre duas opções: nos entregar à depressão coletiva ou localizar alguma oportunidade e batalhar por dias melhores. E é dessas batalhas que costumam nascer as grandes vitórias, as que acabam, no médio ou longo prazo, mudando o mundo.

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