Sobre o sagrado de direito da expressão

Desde que os ataques terroristas mancharam Paris de sangue e medo, as redes sociais brasileiras tem reproduzido um outro tipo de “guerra ideológica”.

Por um lado, milhões de brasileiros mudaram seus perfis no Facebook adotando as cores da bandeira francesa em um ato de solidariedade; do outro, outros tantos milhões preferiram usar a bandeira mineira ou um símbolo da bandeira do Brasil em tons de lama. Somos um país livre: todos podemos nos comover mais com o que quisermos.

Mas, nas redes sociais, a liberdade é sempre algo relativo.

Acusados de alienados, os brasileiros que se solidarizaram com os franceses sofreram um bullying desnecessário. Disseram que eles estavam ignorando tragédias em seu próprio país, que o que acontecera em Mariana havia sido muito pior etc. Comparou-se tragédias, como se os passaportes dos cadáveres fizesse alguma diferença para a Morte.

Estes, por sua vez, replicaram. Disseram que o fato de protestarem contra o terrorismo na Europa em nada tinha a ver com as acusações de apatia em relação ao caso da Samarco. Disseram que, em que pese a responsabilidade da mineradora, a tragédia ainda assim era menos chocante do que um grupo de fanáticos assassinar, coordenadamente, mais de uma centena de inocentes.

Houve tréplica: o descaso da Samarco e dos órgãos de fiscalização do governo não poderia ser considerado como um assassinato coordenado?

Nova resposta: sim, mas uma coisa é assumir a responsabilidade por um eventual desastre fruto do mais puro e desumano descaso; outra é efetivamente se vestir de explosivos e se detonar em uma praça lotada, buscando ativamente matar o maior número possível de pessoas em nome de um Deus.

E, no final, o que deveria ser um momento para homenagear os mortos e pedir algum tipo de reação acabou se transformando em uma guerra ideológica à parte.

No final, acabou-se esquecendo o que há de mais sagrado na sociedade moderna: o direito à livre expressão.

Não é crime algum querer ficar mais solidário com quem quer que seja, brasileiro ou francês. Não é crime se sentir mais ultrajado com terrorismo ou com má administração. Não é crime expressar sua opinião, seja por meio de troca de avatar ou de posts em redes sociais.

Ao contrário: se expressar é a maior arma que temos. É o que nos inspirará a escrever as nossas histórias, a eternizar os nossos pensamentos e, portanto, a se inspirar.

Sua opinião é contrária à de alguém? É um direito seu – da mesma forma que é um direito deste alguém de ter e expressar a sua própria opinião.

Hoje, todos temos o direito sagrado de contar e curtir as histórias que quisermos.

Que esse direito nunca, nunca seja posto em cheque.

liberdadeexp

Ricardo Almeida

Sou fundador e CEO do Clube de Autores, maior plataforma de autopublicação do Brasil e que hoje responde por 27% de todos os livros anualmente publicados no país. Premiado como empreendedor mais inovador do mundo no segmento de publishing pela London Book Fair de 2014, sou também escritor, triatleta e, acima de tudo, pai de família :)

Um comentário em “Sobre o sagrado de direito da expressão

  1. Triste saber o que todos parecem não ver.
    Matando uns aos outros não iremos vencer
    talvez causar somente dor e não semear o amor
    Paris continuará a cidade luz
    Mesmo que alguns tragam dor e escuridão,
    a cidade irá se recuperar,
    a morte passou de raspão,
    Mas acertou muitos e levou quase todos que não mereciam morrer.
    Resta saber o que mais teremos que fazer,
    para poder viver sem morrer por engano
    nesta guerra fria que nem a morte quis saber.
    Vive la France.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *