Impressos, ebooks e a hora de terminar com os fatalismos

Dia desses estava lendo uma história para a minha filha de 3 anos quando me deparei com uma constatação quase disruptiva: apesar da idade, ao menos quando o assunto era livro, a preferência dela era inquestionavelmente para o impresso. 
Sim: é uma criança, daquelas que já nasceu mexendo em IPad e que tem dificuldade em compreender um mundo que não seja touch-screen. Mas, ainda assim, preferia o impresso. 
Por que? 

Arrisco um palpite: pela necessidade de se concentrar em absoluto em uma narrativa. No passado, um artigo da revista Nature que comparou a absorção de conhecimento em interfaces de papel versus digitais já havia deixado isso claro: as possibilidades do mundo virtual são tamanhas que, na mera atividade de decidir se se deve ou não clicar em um link, vídeo, imagem ou verbete durante uma “leitura digital”, parte da capacidade de raciocínio simplesmente se perde. 

Para a leitura, menos é mais. 

E parece que, agora que o hype dos ebooks está passando, isso está ficando claro. Veja a pesquisa abaixo, publicada recentemente no UOL: 

  
Perceba que houve um crescimento substancial na preferência por impressos, chegando a 69% (versus 28% de ebooks). E isso, registre-se, porque estamos falando do público americano, já MUITO mais habituado a ebooks que os brasileiros. 

Seria pela idade avançada das gerações anteriores que ainda compõem a média? O exemplo da minha filha me fez discordar. Outros dados da pesquisa também. 

Entre jovens de 18 a 29 anos, a imensa maioria lê livros impressos e apenas 4% afirmam ler apenas ebooks. 

Temos esse hábito ingênuo de pregar fatalismos a cada nova disrupção: já dissemos que a TV mataria a rádio, que a Web mataria a TV. Exceto em casos onde a informação se faz obsoleta – como com jornais – todas as mídias acabam tendo seu espaço. 

O ebook certamente veio para ficar até porque cumpre uma função incrível de permitir acesso infinito a bases de conhecimento, algo extremamente valioso principalmente para consultas técnicas ou científicas. Mas isso não significa que a tecnologia do livro impresso tenha morrido. 

A julgar pelas pesquisas mais recentes e pelos hábitos de “leitura” da minha pequena filha, pelo menos, isso está longe de acontecer. 

Ricardo Almeida

Sou fundador e CEO do Clube de Autores, maior plataforma de autopublicação do Brasil e que hoje responde por 27% de todos os livros anualmente publicados no país. Premiado como empreendedor mais inovador do mundo no segmento de publishing pela London Book Fair de 2014, sou também escritor, triatleta e, acima de tudo, pai de família :)

2 comentários em “Impressos, ebooks e a hora de terminar com os fatalismos

  1. Concordo que o e-book é um tipo de livro que veio para ficar. Mas o problema é que muitas pessoas tentam ler os tais e-books em tablets, e os tablets nunca serão tão confortáveis para a leitura do que um Kindle ou um Lev, que são e-readers feitos especialmente para a leitura de livros digitais e meio que tentam deixar o leitor focado, como se quisesse que ele esquecesse que aquilo que ele está segurando é um e-reader e se focasse apenas na história.
    Eu leio livros de todas as formas: impressos, físicos e de vez em quando escuto alguns audiobooks, e devo dizer que cada experiência é diferente, mas cabe ao leitor se abrir cada vez mais para tais experiências, e aos autores para disponibilizarem suas obras nos mais diversos formatos! O Clube está ai para nos ajudar nos formatos impressos, e os digitais podem ser vendidos em praticamente todos os locais… E ai Clube, vamos ter audiobooks chegando em breve? kkkk

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