A crise que vem vindo

Vem vindo” talvez seja um eufemismo: a crise está aí, mais firme e forte do que gostaríamos, para testar a nossa paciência mais uma vez. Crises não são novidades para brasileiros – principalmente nos últimos anos. Durante as manifestações de 2013, o mercado inteiro registrou quedas de mais de 20% nas vendas; na Copa, idem; nas eleições, tudo ficou ainda pior. 

Em todos esses exemplos, foi como se uma temática única dominasse as atenções de todos com tal grau que nenhum outro assunto interessava. Com o pensamento fixo no zeitgeist do momento, qualquer coisa cotidiana passou a se esconder em um distantíssimo segundo plano. 

Sentimos isso aqui no Clube nesses últimos anos – mas também sentimos outro efeito curioso. Em crise, há uma espécie de tensão no ar que parece desafiar o humor de tal forma que escrever passa a ser uma das mais fascinantes válvulas de escape. Muitos dos livros que mais vendem aqui hoje, aliás, foram escritos durante algumas dessas crises. 

No mundo, isso não é diferente. Preciosidades como “Uma Curva no Rio”, do Nobel V. S. Naipaul, retrata justamente a vida no centro da África durante as guerras pela descolonização; toda uma série de mestres russos, de Dostoievsky a Tchekhov, escreveram durante alguns dos momentos mais difíceis da humanidade, entre a decadência do regime czarista e os primeiros passos do comunismo; e assim por diante. 

Não dá para comparar o tipo de crise em que estamos hoje, cuja dimensão é essencialmente econômica, com as da África em guerra civil ou Rússia alterando todo um regime de governo. Mas crise é crise e só quem passa por ela mesmo é que pode defini-la. 

Pela experiência – talvez mais até de leitor assíduo – o que posso “prever” é que teremos aqui no Clube algumas verdadeiras obras de arte sendo escritas, paridas a partir de doses decisivas de sofrimento mescladas a esperança, amor, escapismo e todos os outros ingredientes que costumam dar um excelente caldo literário. 

E, do nosso lado, faremos de tudo para evitar que a crise em si – agora falando de maneira puramente econômica – atinja o mercado de autopublicação. Temos novos projetos saindo do forno, novos acordos sendo traçados e muitas oportunidades que ajudarão todos a navegar por estes turbulentos mares que estão por vir. Acima de tudo, temos a mais plena motivação de encarar todo esse momento mais como oportunidade para os autores e para a literatura brasileira como um todo do que qualquer outra coisa.

Então, investidos de muita inspiração e de uma força de vontade quase selvagem, naveguemos por mais este mar turbulento da história do Brasil – e tiremos dele o melhor que ele haverá de oferecer. 

Que venham as histórias!

  

Ricardo Almeida

Sou fundador e CEO do Clube de Autores, maior plataforma de autopublicação do Brasil e que hoje responde por 27% de todos os livros anualmente publicados no país. Premiado como empreendedor mais inovador do mundo no segmento de publishing pela London Book Fair de 2014, sou também escritor, triatleta e, acima de tudo, pai de família :)

3 comentários em “A crise que vem vindo

  1. Agora eu fiquei imaginando se a minha obra é fruto de uma crise econômica.
    Válvula de escape: sempre!
    Fruto de crise econômica: não sei; já? Hahaha.
    Bom, de mim vocês já tem uma obra!
    A Luz de Cada Mundo: 27 de Julho no Clube

    1. Acho que crise sempre tem essa característica de inspirar, mesmo indiretamente. Pressão maior, afinal, sempre gera mais necessidade de se “escapar”!

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