Aprenda a ler bem (para escrever bem)

Como aproveitar o máximo de um texto

Não há muito segredo envolvido aqui: já dissemos e repetimos inúmeras vezes que não há como se escrever bem sem se ler bem. E ler bem, nesse caso, significa conseguir devorar um texto com a voracidade que a literatura exige.

Não precisamos sequer elencar tantos motivos para esse raciocínio: afinal, escrever com a fluidez necessária para capturar a atenção do leitor é algo que obviamente pode (e deve) ser aprendida com os grandes mestres da literatura. Quer professor melhor de português que Guimarães Rosa? Ou de construção de tramas como Orhan Pamuk? Ou de surrealismo literário como Mikhail Bulgakov?

Para escritores, cada livro escrito por cada mestre é uma pós-graduação à parte – uma pós-graduação, aliás, com custo médio de irrisórios R$ 30 ou R$ 40.

Mas – claro – de nada adianta também zanzar pelas páginas de um Tólstoi como um zumbi, sequer prestando atenção nas delicadíssimas técnicas literárias que o transformaram m um dos maiores mitos culturais da história humana.

Quer ser um escritor de sucesso? Leia. Ou melhor: aprenda a ler.

Como se aprende a ler?

Não há exatamente uma receita de bolo para se ler um livro. Cada um tem a sua maneira de devorar as histórias que mais gostar, cada um tem seu ritmo, seu estilo, sua… “fórmula”. Mas, dito isso, separamos aqui algumas dicas que podem ser úteis para escritores que fazem de um livro mais do que uma história: um curso em que se deve dedicar especial atenção para se aprender as mais incríveis técnicas literárias do mundo.

Mantenha o foco

Se tem uma coisa que define o nosso mundo atual, é a habilidade que todos desenvolvemos em ser multitarefa. É raro, muito raro, fazermos uma única coisa: trabalhamos enquanto ouvimos música, conversamos enquanto navegamos por redes sociais, caminhamos enquanto ouvimos música.

O resultado natural disso? Dividimos a atenção do nosso cérebro entre diferentes tarefas. Pois bem: enquanto essa divisão ocorrer em coisas como ouvir música e bater perna pelo shopping, não há tanto problema assim. Mas é verdadeiramente impossível ler Proust enquanto se conversa com alguém no Whatsapp.

Ou seja: quer ler um livro? Pare de fazer outras coisas, isole-se e leia. Simples assim.

Priorize os clássicos

Clássicos não são clássicos por determinação divina. Obras como Dom Quixote, por exemplo, figuram no topo dos mais vendidos da história justamente por conta da qualidade literária que aflora deles.

Assim, dê sempre prioridade a autores que marcaram os seus nomes no panteão da literatura mundial como Machado de Assis, Saramago, Mia Couto e outros.

Dê espaço para os novos

Isso não significa que novos autores devam ser ignorados, claro. Ao contrário: o futuro da literatura brasileira e mundial está justamente aqui, nos independentes. São eles (ou melhor, somos todos nós) que estamos definindo o tipo de literatura que se transformará em clássica no futuro.

Aproveite a oportunidade e leia os seus pares, os outros autores independentes.

Leia no papel

Isso pode parecer ideologicamente anti-tecnológico, mas não é. Ou é, mas não por saudosismos irrelevantes.

Uma pesquisa feita em 2014 na Universidade de Stavanger, na Noruega, apontou que se compreende melhor os detalhes de uma história quando ela é lida no papel, e não eletronicamente.

O motivo disso é justamente o que se costuma ser considerado como a maior desvantagem do livro impresso: a impossibilidade de se esclarecer dúvidas enquanto se lê.

Imagine que você esteja lendo um livro em um Kindle ou um iPad. De repente, você se depara com uma palavra que desconhece ou se vê curioso em conhecer melhor algum tema paralelo que apareça na trama. No ebook, basta selecionar e clicar no trecho: você rapidamente irá para a Wikipedia ou o Google e pronto, conseguirá sanar a curiosidade. Fantástico, não?

Não. Porque cada opção de “clicar/ não clicar”, por exemplo, funciona como uma espécie de bifurcação que precisa ser “escolhida” pelo cérebro – e que, portanto, consome parte de sua capacidade de processamento de informações. Colocando em outros termos: quanto mais opções se dá ao cérebro, mais ele precisa se trabalhar para fazer escolhas – e menos capacidade ele terá para se concentrar na história em si.

Rabisque à vontade

Talvez você não queira fazer isso em um livro emprestado, claro. Mas, se for seu, não há mal nenhum em rabiscar conclusões, observações ou dúvidas ao longo do texto.

Victor Hugo costumava dizer que todo livro é escrito tanto pelo autor quanto pelo leitor uma vez que interpretações são sempre individualíssimas. Abuse disso.

Cada observação que você colocar nas páginas de um livro marcará, ainda que inconscientemente, pontos importantes que refletirão a sua forma de entendê-lo. é como se você estivesse contribuindo com a história, o que aumenta a sua capacidade de absorção de conhecimento como efeito colateral.

Mergulhe no universo do livro

Todo livro é, por definição, um extrato do seu tempo. Ainda que se escreva sobre algo fictício, o estilo do autor e suas posições sócio-políticas acabam naturalmente refletindo toda uma série de zeitgeists que costumam transbordardas entrelinhas do livro.

Nesse caso, a nossa recomendação é que você mergulhe no universo além do livro em si. Está lendo um Conto de Duas Cidades, do Dickens? Aproveite para se aprofundar mais na Revolução Francesa, pano de fundo da obra, ainda que por meio de artigos na Wikipedia. Passeie pelas histórias de Danton e Robespierre, pelas diferentes visões de mundo de jacobinos e girondinos, pelo clima de terror na Paris de então retratada por Restif de la Bretonne em seu incrível livro As Noites Revolucionárias.

Um livro nunca deve ser encarado como uma peça isolada: quanto mais você se aprofundar no tema em torno dele, mais conseguirá entender as suas sutilezas.

Não se apresse – mas não seja também uma lesma

Nunca há um tempo certo para se ler um determinado livro, claro: cada leitor tem o seu ritmo. Mas se você levar 3, 4, 5 meses para ler uma história, dificilmente conseguirá aproveitá-la.

Sabe aquelas desculpas do tipo “virei um leitor preguiçoso” ou “eu demoro muito mesmo” ou ainda um “é que tenho muita coisa para fazer e então não dá tempo”? Jogue todas fora.

Todo mundo – TODO MUNDO – consegue reservar 30 ou 60 minutos por dia para ler. Basta querer e transformar a vontade em um hábito.

Exercite-se

Com o tempo, o volume de conhecimento captado por você pelos tantos autores diferentes que estarão compondo o seu universo acabará transbordando da mente.

A vontade de escrever, de criar uma história própria, será tão grande que dificilmente você conseguirá escapar. Pois bem: nem tente.

Exercite sua criatividade e escreva. Deixe os personagens fluirem das suas mãos, deixe as tramas tomarem corpo, deixe as narrativas acontecerem quase que por obra divina.

Você não precisará copiar nenhum dos grandes escritores – não precisará e nem deverá, aliás, posto que todos temos a obrigação de sermos únicos. Mas o amadurecimento que terá acumulado pelo simples fato de tê-los lido transparecerá naturalmente. Aproveite isso.

E claro: se tiver qualquer dúvida sobre como escrever, recomendamos que navegue mais aqui pelo blog ou pelos conteúdos do Clube de Autores voltados para escritores. Temos uma série de posts e guias interessantes que certamente o ajudarão a escrever, publicar e divulgar o seu livro!

Ricardo Almeida

Sou fundador e CEO do Clube de Autores, maior plataforma de autopublicação do Brasil e que hoje responde por 27% de todos os livros anualmente publicados no país. Premiado como empreendedor mais inovador do mundo no segmento de publishing pela London Book Fair de 2014, sou também escritor, triatleta e, acima de tudo, pai de família :)

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