Nós sempre falamos aqui, no Clube de Autores, que o que separa o ser humano de outras espécies é a nossa capacidade de partilhar histórias, experiências, conhecimentos. E é difícil argumentar contra isso: toda a nossa civilização se baseia nesse tipo de transmissão de conhecimento que, por ser escrito, consegue ultrapassar gerações com um sucesso imensamente maior que a pura oralidade.
Como imaginar-nos, por exemplo, sem obras como a Ilíada, de Homero; As Histórias de Heródoto; os Analéctos, de Confúcio; a Torá, a Bíblia e o Corão; dentro alguns tantos outros livros sagrados, sejam eles religiosos ou não? São obras essencialmente civilizacionais, base para toda a forma que sociedades inteiras se entendem e entendem o mundo que nos cerca.
Mas há mais, muito mais para livros do que “apenas” estabelecer conceitos que sustentem todas as leis do universo.
Na sua obra prima O Deus das Pequenas Coisas, Arundhati Roy relata a saga de três gerações familiares a partir não dos grandes eventos que os norteiam, mas dos pequenos impulsos, ações e decisões que todos tomamos em nosso dia-a-dia e que impacta as vidas e os tempos de toda uma comunidade que nos rodeia.
Livros como ferramenta para lidar com as “pequenas coisas”
Lidar com essas pequenas coisas – pequenas sob a ótica das Leis do Universo, mas imensas para cada um de nós – é talvez um dos maiores desafios impostos aos humanos.
Um ato de amor se enquadra nessa peculiar definição de “pequena coisa”; assim como um impulso egoísta; um gesto de altruísmo; ou um choro abafado mais intenso, daqueles que costumam verter lágrimas mais para dentro do que para fora de nós.
E livros, claro, são também ferramentas que nos ensinam a lidar com cada uma dessas pequenas imensas coisas, com esse universo interior tão individual que, ainda que seja a mão invisível por trás de todas as mudanças do mundo, acaba muitas vezes passando despercebido por qualquer um que não seja nós mesmos.
Em setembro de 2023, conheci uma escritora chamada Talitha Vaz no Festival de Poesia de Lisboa. Entre uma declamação e outra, ela me falou sobre seu livro, Outubre-se, que por coincidência estava publicado aqui, no Clube.
O podcast de hoje é sobre o trabalho de Talitha que, ao transformar dor em verbo – subtítulo do livro – dá contornos mais vivos a esse aspecto da escrita que talvez seja mais importante que mudar o mundo: nos permitir sobreviver, individualmente, a ele.
Como ela descreve seu livro “Outubre-se”?
No mês de Outubro de 2017, Talitha Vaz foi acometida por uma tragédia que mudou sua vida. Com uma narrativa de sobrevivência com prosa poética e desconstrução da linguagem, a autora desafia o leitor, assim como o Fantasma da Ópera, a visitar seus subterrâneos. A liberdade poética se dá por diversas manifestações artísticas como imagens, músicas, poemas, prosas, textos e aforismos. O espaço-tempo ganha dimensões onde a leitura se torna uma experiência.
A obra é sobre o ressurgir do lodo em busca da luz como a flor de lótus, ressignificando a existência. O simbólico margeia e alicerça a arte escrita como um todo. A cada capítulo, uma sugestão de música para ser ouvida na leitura, cada título tem sua reflexão própria.
Daniel, seu primo, certa vez, fez uma dedicatória à autora com uma profecia: “para minha querida prima e futura escritora“. Eis o livro, uma homenagem, uma experiência de superação e possível inspiração para os que passam pelos mesmos sofrimentos.
A intenção da autora neste livro é materializar e compilar múltiplos significados e sentidos, ao transformar o mês que a transformou em verbo, em ação, em movimento, transformar a dor em verbo, Outubre-se.
Quem é a autora e convidada de hoje?
Talitha Vaz é escritora – assim a definiu o poeta – nascida em 1985, no Rio de Janeiro, Brasil. Outubre-se: Transformando dor em verbo é seu primeiro livro, onde se atreve a gritar, pela voz escrita, emoções e sentimentos inomináveis, indizíveis, incômodos e inconscientes. Tem na escrita e na dança suas formas de expressão mais sensíveis de ser e estar no mundo. Com a dança, passou pela Escola de Atores Martins Penna, pelo O Tablado e pelo Teatro do Oprimido.
Diz que o vermelho do Direito e o amarelo da luz como pensamento crítico manifestado na arte e na ciência são cores primárias onde a sua mistura gera o tom que se reconhece: o laranja. Mestre em Psicologia Social pela UERJ, pós-graduada em Produção Cultural e advogada.
Desenvolveu o método DUNA-Dedicação Única Nos Afetos, com teatro, Yoga do Riso, neurociência e coach. Idealizadora do projeto Útero19, sobre o universo feminino, com depoimentos, vivências e desafios do final da adolescência. Mãe da cantora, compositora e musicista Lara Vaz, sua inspiração, orgulho e sentido. Acredita que ser mulher é o melhor dos dons e a superação é filosofia de vida.
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