Editorial: 5 pontos que merecem sua atenção em 2023

Temos o péssimo hábito de acreditar que o mercado é um ser autônomo, vivo, com aquela propensão dos voluntariosos de tomar decisões egoístas e de apavorar todos os humanos que, temerosos, espremem-se sob seus desígnios. Eis um dos grandes e mais recorrentes erros da humanidade: acreditar que o seu destino é traçado por terceiros abstratos e que as rédeas do destino nunca estiveram ou estarão sob seu comando.

O mercado, claro, é apenas uma somatória de todos os pensamentos e ações tomadas pela coletividade. O mercado somos nós, leitores, autores, consumidores, colaboradores, empresários, indivíduos. E nós, nesta coletividade amorfa, tomamos algumas decisões nos últimos anos que tendem a mudar radicalmente a face do nosso mundo.

Essas decisões coletivas, por assim dizer, conscientes ou não, nos levaram a cinco conclusões extremamente claras sobre o que esperar do futuro a partir de 2023. São elas:

1. O autor independente estará no centro da literatura

Nós, pessoas comuns, decidimos tomar para nós mesmos as rédeas das nossas histórias. De cidadãos passivos, sentados na dolorosa ou mesmo humilhante condição de espectadores dos nossos próprios destinos, nos transformamos em autores. E a palavra “autor”, aqui, tem um significado até mais simbólico do que literal.

O autor, afinal, é aquele que cria uma história, que concebe enredos e personagens, que define o destino de tramas inteiras. Que erige mundos. Que constrói futuros. Que desvenda os mais obscuros segredos. Que define, com maestria absoluta, o próprio sentido da vida: compartilhar histórias. O autor é, em outras palavras, o rei máximo da nossa espécie.

Esse rei máximo já tinha à sua disposição toda uma infinidade de ferramentas sociais para moldar o mundo, para o bem ou para o mal, ao seu feitio. Mas somente nos últimos anos é que a possibilidade de se publicar um livro – algo muito mais perene e denso que um vídeo no TikTok, para ficar em apenas um exemplo – ganhou terreno.

Em 2022, 16.050 livros foram publicados no Clube de Autores – cerca de 60% a mais que em 2021. Para efeito ilustrativo, ao longo de 2021, em todo o Brasil, foram publicados um total de 48 mil livros. Perceba a relevância que registramos aqui em nome do autor independente.

O que isso significa?

Que o “autor” desceu do alto da torre do castelo, do inatingível e inalcançável imaginário coletivo, para a nossa realidade. Está crescentemente claro para a nossa sociedade que todos temos uma história para contar – e que todos já podemos publicá-la. O autor independente terá, a partir de 2023, um espaço cada vez mais indiscutível.

A literatura em língua portuguesa, os futuros clássicos que definirão a nossa era e a nossa sociedade, partirá dele. Ou seja, de você.

2. O impresso tem um lugar cativo da preferência do leitor

Em 2009, quando iniciamos as nossas operações, todos davam como certo o fim do livro impresso e sua substituição pelo e-book. Nada aconteceu.

Quando a pandemia se alastrou, em 2020, a mesma certeza, ainda que com menos força, se apossou de muitas das mentes do mercado. Novamente, nada aconteceu.

Eu iria além, até: Depois que a pandemia arrefeceu, a venda de ebooks despencou de maneira até mesmo curiosa. Seja pela diferença relativamente pequena entre as versões digital e impressa (diferença que desaparece ou mesmo se inverte quando colocamos na conta o preço de um device como o Kindle ou outro), seja pela própria praticidade e comodidade que o impresso inegavelmente oferece, o fato é que vende-se muito mais livros em papel do que em telas. E contra fatos, como diz o ditado, não há argumentos.

Veja abaixo, por exemplo, o gráfico de vendas de impressos versus ebook aqui no Clube ao longo de 2022:

Perceba que os e-books, que chegaram a representar mais de 30% do total de vendas, chegaram a dezembro como menos de 10%.

O que isso significa?

Se você é um daqueles autores com um amor platônico pelo ebook e que recusa-se a lançar em qualquer outro formato por um preconceito irracional com o livro impresso, recomendamos repensar. Se o intuito do autor é vender livro, então faz mais sentido ele obedecer a preferência do seu leitor.

Isso não significa, claro, que se deva abandonar um formato a favor de outro: fazer isso seria um contrasenso igualmente irracional. Significa que o autor deve estar presente em todos os formatos – mas prestar uma especial atenção ao impresso.

3. Livro se compra em livraria marketplace

A livraria costumava ser uma instituição sagrada, seja física ou digital. Havia uma aura de intocabilidade quase vitoriana envolvendo-as, como se consumir literatura em qualquer outro ambiente fosse uma espécie de pecado capital.

A pandemia e a cada vez mais importante praticidade mudaram isso. Os dados abaixo são do próprio Clube e, claro, não temos a pretensão de definir o mercado editorial inteiro. Mas temos, por outro lado, números já suficientemente robustos para pelo menos conseguir observar e tirar conclusões válidas.

Quando o ano abriu, mais de 80% das nossas vendas em canais aconteciam em livrarias. Entre janeiro e dezembro, no entanto, houve uma inversão impressionante: hoje, 60% das vendas acontecem em marketplaces como MercadoLivre, Submarino e outros.

Por que? Porque são plataformas que já ganharam a confiança do consumidor quanto a preços, prazos e qualidade de entrega em geral, usando a eficiência operacional para aniquilar aquela aura de intocabilidade das livrarias.

O que isso significa?

Para as livrarias, resta uma alternativa: aprenderem a se reinventar de maneira completa, do acordo com editoras à experiência oferecida aos leitores.

Para os autores, nada poderia ser mais claro e fácil. Quer vender mais? Esteja presente nos marketplaces (todos, diga-se de passagem, já presentes no rol de distribuição do Clube de Autores).

4. O mundo será o seu mercado

Em 2023, o Clube de Autores dará um salto inédito no mercado de independentes: passará a vender livros impressos em toda a Europa (e, a seguir, no futuro não muito distante, no restante do planeta).

São milhões, muitos milhões de leitores de língua portuguesa, estejam eles em Portugal ou na Espanha, França, Alemanha ou qualquer outro país do Velho Mundo, que terão acesso ao livro do autor independente. Isso não é pouco, até porque abre, de maneira decisiva, todo um intercâmbio entre autores e leitores de todo o mundo lusófono. Um ganho para a cultura definida pela língua portuguesa e, claro, um ganho para cada um dos autores que terão um novo mercado abrindo perante seus olhos.

Há uma tese por trás disso, a das rodovias literárias, que usamos para nortear todos os nossos planos. Se quiser se aprofundar, recomendamos que leia mais aqui.

O que isso significa?

Ainda que gigantes por natureza, o Brasil é um país muito mais isolado do que costuma crer. Temos toda uma fila de países que falam espanhol ao oeste e milhares de quilômetros de oceano ao leste, o que essencialmente nos deixa reféns de nosso próprio tamanho (geográfico e populacional).

A partir do momento que histórias passam a circular com maior liberdade e volume pelo mundo, esse isolamento vai, aos poucos, sendo quebrado.

Para o autor independente, isso significa apenas uma coisa: mais oportunidade. Não aproveitá-la será como cometer um pecado contra a sua própria história.

5. Prepare-se para o inesperado

Quando muitas novidades surgem ao mesmo tempo, com tanto ímpeto de mudança no status-quo, deve-se manter alta a expectativa pelo inesperado.

Essas quatro “tendências” que coloquei aqui no post, por si só, já se apresentam quase como uma revolução no mercado editorial brasileiro. E isso significa que diversas outras iniciativas devem estar surgindo silenciosamente, abaixo do radar, quase sem serem detectadas pelos olhos convencionais.

Coisas como narração automatizada de livros, que eventualmente permitirá que autores independentes ganhem as ondas sonoras e participem do crescimento estrondoso de audiolivros no mundo. Ou como o crescimento de plataformas de streaming de livros, escritos ou narrados, em plataformas diferentes das tradicionais. Ou como qualquer outra coisa que em breve abocanhará os holofotes do mercado.

Em tempos como os nossos, esperar o inesperado é uma estratégia de sobrevivência. E muitos inesperados devem aparecer até dezembro.

O que isso significa?

Que, se quiser fazer a sua carreira decolar, não basta apenas seguir a cartilha do que funciona, disponibilizando o seu livro em todos os formatos, em todos os canais, em todos os países e esmerando-se na sua própria estratégia de divulgação. Além disso tudo, deve-se também manter os radares ligados para todas as novidades enquanto elas ocorrem. Nossa sugestão? Assine o nosso podcast, o Pensática, onde semanalmente falamos sobre as maiores novidades do mercado.

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Ricardo Almeida

Sou fundador e CEO do Clube de Autores, maior plataforma de autopublicação do Brasil e que hoje responde por 27% de todos os livros anualmente publicados no país. Premiado como empreendedor mais inovador do mundo no segmento de publishing pela London Book Fair de 2014, sou também escritor, triatleta e, acima de tudo, pai de família :)

2 comentários em “Editorial: 5 pontos que merecem sua atenção em 2023

  1. É muito mais quê importante.
    Para os escritores a existência acho quê posso assim dizer temos não simplesmente apoio de uma,reconhecida instituição mas toda uma orientação.
    Desta como chamo instituição Clube De Autores.Tudo que recebo leio e me sinto.
    Brindado e estimado pela sorte de encontra_los.

    Abraço
    Obs:grato pela oportunidade.

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