Oswald de Andrade deu o tom para a descoberta de uma cultura brasileira com o seu Manifesto Antropofágico.
Foi esse o movimento que pregou a necessidade de devorarmos as influências culturais estrangeiras para gerarmos, a partir daí, um produto tipicamente brasileiro, nascido aqui e representativo destas nossas bandas.
Foi a antropofagia que nos libertou dos europeísmos e norte-americanismos e nos deu Villa-Lobos, Manuel Bandeira, Tarsila do Amaral. Foi a antropofagia que nos salvou de ser uma sub-cultura neo-colonial ao nos impor a celebração dos nossos grandes sertões e ao dar mais valor à patente dos nossos singulares capitães de areia.
Foi a antropofagia que nos permitiu devorar as metrópoles ultramarinas e ressurgir como uma metrópole própria, culturalmente autêntica, mais portentosa e bela do que qualquer outra. Ninguém no mundo, afinal, pode arrotar uma Clarice Lispector, um Drummond, um Graciliano Ramos, um Manoel de Barros. Só nós podemos.
Mas, curiosamente, eles tentam nos apagar.
Eles? A economia, a crise que existe mesmo quando não há crise, a facilidade de se traduzir best-sellers para revender os sucessos dos outros ao invés de se tentar garimpar sucessos daqui.
Parece um complô informal dos grandes grupos econômicos que comandam a nossa cultura, todos cegamente insistindo que a rota mais fácil para o sucesso é imprimir aqui dentro o que funcionou lá fora. Todos insistindo que o nosso futuro reside no já comprovado passado dos Estados Unidos ou da Europa.
Não raciocinam eles que ganha-se mais exportando ouro nacional do que importando prata estrangeira? Não pensam eles na História que já nos provou a abundância de maravilhas culturais que perambulam, esquecidas, por este país de 200 milhões de habitantes? A triste resposta: não!
Devoremos, pois, todos! Ao inferno então com esses grandes grupos culturais do nosso país que cismam em cerrar os olhos para as nossas próprias maravilhas! Façamos nós mesmos o nosso próprio movimento antropofágico e geremos nós, aqui, a nova forma da literatura brasileira!
Somos, afinal, muitos: há 50 mil de nós aqui no Clube de Autores.
Temos liberdade: só quem escolhe o que é publicado aqui é o escritor, capitão-mor das nossas esquadras culturais.
Temos acesso: com a Internet, os meios de se chegar ao grande público são os mesmos para todos.
Façamos, pois, o que escritores sempre nasceram para fazer: revolucionemos a cultura a partir dos nossos próprios desejos!
Seria interessante enviar este texto ao ” Saia Justa” que sempre divulgou mais os livros de “fora” que os de “dentro”.
Oi Fátima! Você por acaso teria o contato deles? Boa ideia!
Excelente e verdadeiro o artigo. Em todas as direções deveríamos praticar esta antropofagia. E infelizmente, sim, quem manda no mundo é quem detém o poder financeiro e este não é o caso do Brasil. Grandes interesses internacionais sabem do potencial brasileiro e sempre farão de tudo para abafá-lo, pois, afinal, somos o celeiro do mundo e assim permaneceremos. Nossa política também é mantida por este poderio internacional desde sempre. O brasileiro é criativo, alegre, festivo, acolhedor. Nega porém, em muitas coisas, sua espécie. Parece envergonhar-se da sua brasilidade. O cinema, assim como a literatura, são exemplos práticos desta situação: gostamos do fantasioso hollywoodiano e do inverossímil e não das nossas duras realidades.
Pois é Rubens. E já passou da hora de mudarmos isso.
Acredito que os leitores tem a sua parcela de culpa na história. Quantos que torcem o nariz para os livros de autores nacionais? Julgam que o livro é bom simplesmente porque é de autor estrangeiro? Seguimos a onda do sucesso, compramos livros de autores estrangeiros só porque já são sucesso e não damos oportunidade para autores nacionais. Essa realidade pode ser mudada, mas precisa da colaboração das editoras e a conscientização dos leitores.
Eu concordo com você Sérgio… mas acho que as editoras dificilmente colaborarão nesse sentido. Elas estão muito, muito perdidas – e em uma crise que jamais estiveram. Esse é um movimento que precisa nascer dos autores e dos leitores: as editoras seguirão.