Há quem proteste por qualquer estrangeirismo que se sobreponha à nossa cultura. Há quem fale mal do dia de Ações de Graças, do Natal e, claro, do Dia das Bruxas, o Halloween. Há quem insista que cada celebração dessas datas feitas por aqui age como uma espécie de tiro dado nos Sacis, nos Boitatás, nos Curupiras que polvilham a cultura brasileira.
Me permitam discordar.
Manifestações culturais, por natureza, são momentos de geração única de zeitgeists, de uma densa concentração espiritual que sempre nos tira do “normal”, do “lugar comum”, do cotidiano. E, sob esse aspecto, pouco importam as origens dessas datas – se americanas, brasileiras ou marcianas: o importante é que elas representem algo para a comunidade, que elas evoquem algum tipo de espírito próprio que nos faça mudar a ótica pela qual encaramos o mundo (ainda que temporariamente).
Celebrações assim, sempre acreditei, são como musas inspiradoras: nos deixam mais suscetíveis a risos, lágrimas e a emoções de maneira geral. Celebrações assim geram histórias que não existiriam se não fosse por elas – e o que seria de nós, humanos, sem as nossas histórias?
Feliz, aliás, do povo que não economiza em datas importantes para celebrar a cultura da celebração! E, falando nisso, segunda foi dia 31 de outubro, o Halloween. Hoje, dia 2, é dia de finados aqui no Brasil e, lá no México, o fantástico Dia de Los Muertos. Há espíritos no ar clamando por risos, choros, memórias, histórias.
Que eles sejam ouvidos!