Testemunhando uma revolução

O Brasil está em pandarecos. Já expressei a alguns amigos que, em minha opinião, estamos vivendo uma revolução à brasileira. O raciocínio é simples: o brasileiro, em sua essência, detesta conflitos mais agudos. Não foi por outro motivo que, enquanto sangue era derramado nos EUA e na França lá pelos idos do século XVIII, o máximo que testemunhamos aqui foi a Inconfidência. Não quero desmerecer este que talvez tenha sido um dos mais emblemáticos acontecimento da nossa história – mas não dá para comparar o enforcamento de um mártir e o degredo de um punhado de (grandes) poetas com as tantas cabeças que rolaram pelas ruas de Paris em nome dos ideais de liberdade, igualdade e fraternidade. 

Avancemos alguns anos até a nossa independência. Alguém conhece algum outro país que fez a sua libertação ao declarar como imperador o filho do que então reinava – e ainda se comprometer a pagar fortunas a título de indenização à metrópole? Pois é: foi assim, com mais canetas e menos balas, que nos libertamos. O mesmo imperador acabou saindo para se tornar rei da metrópole original, deixando seu filho no lugar. D. Pedro II foi considerado um monarca altamente popular e capitaneou inegáveis avanços – até que os quartéis decidiram se rebelar sob o comando de Deodoro da Fonseca em um movimento que poucos, possivelmente até o próprio marechal, realmente acreditavam que vingaria. E sabe porque vingou? 

Porque D. Pedro II, já cansado, simplesmente desistiu. 

O Brasil se revoluciona assim, a fogo brando. E é isso que está acontecendo agora. 
Não temos os presos políticos que apareceram no Egito, não temos as cisões da Síria e do Iraque, não temos o anarquismo que impera nos tantos países que decidem mudar tudo. Temos apenas – e esse “apenas” não deve ser menosprezado – manifestações populares pedindo mudanças radicais em um governo falido, com ideais espúrios, incompetência clara e corrupção escancarada. E, não tenho dúvidas, essa mudança acabará vindo. 

A Presidente Dilma já caiu. Lula dificilmente escapará das grades. Temer provavelmente assumirá – mas dificilmente se perenizará no poder. O vácuo que hoje é virtual se tornará real, concreto. A crise em si piorará? Talvez sim, se um novo governo, ainda que provisório, não mostrar um mínimo de competência de articulação para colocar o trem nos trilhos. Ou talvez não, se a briga pelo poder impedir os seus atores de perceberem que, na guerra, todos perderão. Ainda é cedo para dizer. 

E por que escrevo isso aqui, no blog do Clube de Autores? Porque, embalados por ânimos acirrados e por vozes que rococheteiam das ruas para as redes e das redes para as TVs, temos uma oportunidade única para nos inspirar no que fazemos de melhor: registrar histórias. 

Aqui, pouco importa se somos de direita ou de esquerda, se defendemos o PT ou não, se somos contra ou a favor do impeachment. Importa que somos escritores.

E, como escritores, vivemos sempre à busca de inspiração, de algum tipo de tempestade que empurre nossos dedos para os teclados e faça nascer relatos daqueles responsáveis por contar às gerações futuras o que realmente aconteceu nos nossos tempos. 

Somos escritores e estamos testemunhando a história do Brasil acontecendo sob os nossos narizes, possivelmente com a nossa participação mais ou menos ativa, certamente carregando a esperança que pulsa nas veias de todo revolucionário de ver mudanças se concretizarem. 

E quer saber? Poucos foram os escritores abençoados com um período de acentuada efervescência política e social como a que estamos testemunhando; poucos foram os escritores que puderam contar, em vida, com uma transição de cenários como essa que pode mudar a face do nosso país. 

Como você está testemunhando a mudança do Brasil? 

Escreva. Não como um comentário aqui neste post, algo passageiro, temporário, fugaz. Escreva em uma história. 

Marque a sua visão. 

Publique-a para o mundo. 

O entendimento dos nossos tempos pelas gerações futuras depende unicamente de nós, escritores.

Escrevamos.

  

Ricardo Almeida

Sou fundador e CEO do Clube de Autores, maior plataforma de autopublicação do Brasil e que hoje responde por 27% de todos os livros anualmente publicados no país. Premiado como empreendedor mais inovador do mundo no segmento de publishing pela London Book Fair de 2014, sou também escritor, triatleta e, acima de tudo, pai de família :)

2 comentários em “Testemunhando uma revolução

  1. Em 1933, Paul Hindenburg, Presidente da Alemanha, eleito em 1932 pelo voto direto em dois turnos, cedeu o poder, como Chanceler, a Adolf Hitler, líder do Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães, um orador eloquente e ardiloso, que atraía um grande número de seguidores, aos quais prometia uma nova Alemanha, grande e gloriosa. Com isso, liquidou as oposições e passou a ser visto como o salvador da pátria e supremo Füehrer, particularmente após a morte de Hindenburg, em 1934.
    Em 2016, Dilma Rousseff, Presidente do Brasil, eleita e reeleita pelo voto direto em dois turnos, cedeu o poder, como superministro, a Lula, líder do Partido dos Trabalhadores brasileiros, agremiação nacionalista e socialista, também orador e, pelo visto, tido por seus fanáticos seguidores como “Salvador da Pátria” – aliás, de Dilma (pelo impeachment) e de si próprio (pela Lava-Jato).
    Parodiando Karl Marx, idolatrado por Dilma, Lula e o PT, podemos dizer que a tragédia histórica da Alemanha de ontem se repete hoje no Brasil, como farsa.
    É infâmia demais, diria Castro Alves. Às ruas de novo, brasileiros, para cremar essa Hidra, cujas cabeças renascem cada vez que Hércules esmaga uma delas. Ou calemo-nos para sempre.

  2. Louvemos a CRISTO pois a tudo controla, com justiça irretorquível !!!
    Louvemos o conhecimento !
    Louvemos o bom ânimo de sairmos da letargia, para ensinarmos aos nossos filhos aconhecerem !
    Louvemos a oportunidade de ensinarmos ou reiterarmos que conhecimento é fundamento !
    Nesse momento de ignorância de boa parte da população, enganada por ignorar o funcionamento do País.
    Louvemos o conhecimento das Instituições, das leis e dos homens íntegros, que sempre haverá.
    Louvemos os Tribunais, o Ministério Público e a Polícia Federal.
    Louvemos os pensadores que nos tranquilizaram, quanto ao desembocar desse rio de iniquidade.

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