Há algumas décadas, poucas grandes editoras determinavam tudo o que todos liam. As seleções de autores eram feitas por elas, a distribuição para um mercado essencialmente offline criava barreiras intransponíveis para os novos autores e leitores precisavam escolher e formar-se com uma seleção absolutamente escassa de títulos feitos para gostos massificados.
Se alguém quisesse trabalhar com livros, precisava batalhar arduamente para ser visto e selecionado pelas grandes editoras – e, naturalmente, submeter-se às suas regras – incluindo faixas salariais e royalties praticamente inegociáveis – uma vez que não havia exatamente outra opção.
Avance no tempo e temos o surgimento do conceito de publicação independente, em que editoras menores surgiram com a proposta de dividir os custos de publicação com os autores e, assim, a partir de um modelo de negócio mais aberto, ampliar o acesso e a oferta de livros.
Anos mais tarde, a Internet e o e-commerce abriram ainda mais o acesso a novos autores que, libertados da condição de reféns das poucas e gigantes livrarias, conseguiram batalhar pelos seus leitores de maneira mais justa.
A autopublicação gratuita, com distribuição ampla, surgiu e escancarou as portas para todos, criando um ambiente efetivamente democrático. Todos podem publicar seus livros, sem restrições, e vendendo a partir das principais lojas online em todo o mundo.
Mas… e o mercado que gira em torno do autor?
Porque um livro, obviamente, é composto de muito mais que uma história. Há a crítica editorial, aparando as arestas de maneira profissional; há o projeto gráfico, incluindo uma capa sedutora e um miolo arejado, daqueles que ajudam a magnetizar a atenção; há a conversão para arquivos adequados a outros formatos de leitura, incluindo ebooks e audiolivros.
Bom… na medida em que o mercado editorial foi se abrindo, ele foi também banhado por novas histórias, novos livros, novas ofertas absolutamente diversas, intrigantes, interessantes. E uma maior quantidade de livros demandou, obviamente, mais trabalho profissional.
Trabalho que deixou de ser exclusividade de grandes selos e passou a ser executado por editoras de todos os portes e por profissionais freelancers que, assim, desbravaram oportunidades de mercado inexistentes no passado.
Mas tudo isso, toda essa introdução, nos leva apenas ao momento em que estamos hoje, ao presente.
O futuro do mercado editorial ainda promete muita revolução.
No episódio 63, falamos com o Fhabio Matesick que, à frente da recém-lançada Trya, já entrega imagens de capas que são verdadeiras obras de arte feitas via Inteligência Artificial. No episódio passado, o 78, falamos com o Antônio Hermida que, a partir da Bookwire, está viabilizando conosco um modelo de conversão para audiolivros extremamente acessível a autores independentes – e que deve ser lançado em breve. E isso sem contar em novas promessas como, por exemplo, plataformas de tradução automatizada via IA.
Muitos podem argumentar que a inteligência artificial é falha, que não percebe as fundamentais nuances da comunicação humana, que é incapaz de prestar serviços da mesma forma que os homo sapiens. E isso pode ser verdade, ao menos até certo ponto, hoje. Mas considerar a tecnologia como algo estático é de uma cegueira deliberada absolutamente ingênua. Tecnologia evolui – e evolui rápido, como o próprio ChatGPT veio nos provar. Não tardará muito para que a tecnologia efetivamente substitua muitas tarefas hoje desempenhadas por pessoas.
Como será, então, o futuro do nosso mercado editorial?
Em um tempo onde a tecnologia ajudará autores a trabalhar os seus textos e a melhor produtificar as suas histórias, o que restará para os profissionais do mercado editorial?
Essa pergunta não deve, nem de longe, ser percebida como profecia apocalíptica. Quando o automóvel se popularizou no mundo, é certo que muitas profissões vinculadas ao transporte puxado por cavalos desapareceram – como também é certo que um número muito maior de profissões proliferaram na recém inaugurada e gigantesca indústria automobilística. O que esse exemplo nos diz? Que revoluções não aniquilam demandas: elas apenas mudam o perfil do que é demandado. A melhor maneira de sobreviver em tempos dinâmicos como os nossos? Enxergar o futuro de mente aberta e perceber quais oportunidades ele trará.
A entrevistada de hoje é uma especialista no desbravamento de oportunidades editoriais – pessoa perfeita para falarmos sobre o futuro do mercado.
A convidada de hoje no podcast
Fernanda Ávila é jornalista, sócia e Diretora da Pulp Edições, montando os mais diversos projetos de conteúdo para marcas como – dentre outras – O Boticário, Quem Disse, Berenice e Editora Positivo. Em 2010 lançou o primeiro livro da editora, o primeiro da coleção Viajo com Filhos, que hoje é um dos maiores portais de conteúdo de viagem com crianças do Brasil. Há pouco menos de 2 anos fundou a Amora Livros, Clube de Assinatura de livros escritos por mulheres e onde ela explora também produtos que vão além do livro em si e abraçam o amor pela literatura, incluindo roupas, sacolas e cursos. E, falando em cursos, ela também está à frente da Sala de Escrita, junto com a escritora Nara Vidal, uma escola de escrita criativa com turmas – online e presenciais – no Brasil, no Reino Unido e em Portugal.
Como o autor pode se preparar para o futuro do mercado editorial?
Os autores independentes enfrentam um mercado editorial em constante evolução, como você pôde ver neste episódio do Pensática, marcado por avanços tecnológicos e mudanças nas preferências dos leitores. Aqui estão algumas estratégias para se prepararem para o futuro do mercado editorial:
- Adaptabilidade Digital: Entender e adaptar-se às plataformas digitais é crucial. Isso inclui formatos de e-books, audiobooks, e a publicação no Clube de Autores, onde há a distribuição do livro para diversas plataformas. Manter-se atualizado com as tendências tecnológicas pode ajudar a alcançar um público mais amplo.
- Marketing e Presença Online: Desenvolver uma forte presença online e uma marca pessoal é vital. Redes sociais, blogs e newsletters são ferramentas poderosas para construir e engajar uma base de leitores. Aprender sobre SEO (Search Engine Optimization) e marketing de conteúdo também pode aumentar a visibilidade online.
- Diversificação de Conteúdo: Considerar a diversificação dos tipos de conteúdo, como podcasts, vídeos ou cursos online, pode ajudar a atingir diferentes segmentos do público e abrir novas fontes de receita.
- Feedback e Iteração: Coletar feedback dos leitores e estar aberto as críticas pode ajudar a melhorar a qualidade do trabalho. Publicar versões beta de livros ou capítulos para feedback pode ser uma estratégia valiosa.
- Foco no Leitor: No fim das contas, entender e atender às necessidades e desejos dos leitores é fundamental. Isso pode significar explorar novos gêneros, temas ou abordagens na escrita.
Como ouvir este episódio e assinar o podcast?
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