A difícil arte de registrar a história do nosso passado

“O passado é a coisa mais imprevisível do mundo, não pára de se transformar”. Com esta frase, de George Orwell, o escritor e historiador português João Morgado abre o livro Vera Cruz – uma biografia repleta de ineditismo de Pedro Álvares Cabral. 

Antes, uma pequena introdução. Conheci o João Morgado há poucos meses, logo que o Clube de Autores foi lançado em Portugal. Ele foi um dos nossos primeiros autores e já tem dois livros publicados conosco: O Céu do Mar e Contos de Macau

Dois de uma lista imensa de títulos que inclui, por exemplo, Índias – uma biografia também repleta de descobertas sobre um dos grandes descobridores lusitanos, Vasco da Gama. 

Biografias: a história de grandes nomes

Tomemos essas duas biografias escritas por João Morgado: a de Cabral e a do Vasco da Gama. Não são exatamente figuras simples na história do mundo. Ambos conseguiram transcender suas humanidades e atingir status de mitos. Podemos condenar à vontade suas ações e os genocídios que patrocinaram em nome de Deus e d’ El-Rei, podemos questionar o próprio termo “descobrimento”, uma vez que nenhuma das terras eram efetivamente virgens e despovoadas, podemos vilanizar suas figuras como demônios que trouxeram uma espécie de fim da inocência para os povos indígenas quer na África, quer no Brasil (uma inocência, vale registrar, muito mais romântica que realista).

O que não podemos fazer é analisar o passado com os olhos do presente, uma vez que todo o arcabouço ético e moral de então era completamente diferente, e nem apagar a história, que tem nessas duas figuras capítulos transformadores e definidores não apenas dos tempos passados como, por consequência óbvia, das nossas próprias identidades sociais e culturais. 

E digo isso tudo porque, em tempos onde sociedades inteiras entorpecem-se da necessidade de reescrever a história e de apagar fatos que nos trouxeram até onde estamos hoje – quer gostemos ou não – escrever biografias de mitos assume um caráter misto de mergulho documental com heroísmo autoral.

Como criar fios narrativos entre fatos frios que envolvem personagens já tão pesquisados, estudados, escarafunchados? Como encontrar fatos novos que deem algum sentido à loucura que, volta e meia, embebeda todo ser humano posto à prova? Como transformar um passado que descansa em túmulos frios já aceitos por tantos em um novo incêndio de ideias, ações e hipóteses? 

Há uma série de biografias que encontraram seu lar aqui, no Clube de Autores, e que hoje viaja pelos oceanos em busca de olhos de leitores interessados nos quatro cantos do mundo. Esses biógrafos, muitos dos quais certamente nos ouvem cotidianamente aqui no Pensática, têm os seus próprios métodos de pesquisa, as suas maneiras de ver o mundo e de conciliar os fatos do passado com as ideias do presente. 

Nosso convidado: João Morgado

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Dito isso, hoje falaremos com este renomado escritor português, João Morgado, autor também – além dos livros que mencionei acima – de Diário dos Infiéis, Diário dos Imperfeitos e O Livro do Império, dentre outros. Foi distinguido com a Grã Cruz da Ordem do Mérito Cívico e Cultural, no Brasil, pelo seu trabalho de pesquisa sobre Pedro Álvares Cabral, e com o troféu Cristo Redentor, da Academia de Letras e Artes de Paranapuã, no Rio. Entre outros, recebeu os seguintes prêmios: 

  • Prêmio Literário Ferreira de Castro, 2019;
  • Prêmio Medalha do Mérito Literário da Ordem Internacional do Mérito do Descobridor do Brasil, 2017;
  • Prêmio Literário Fundação Dr. Luís Rainha Correntes d’Escritas, 2015;
  • Prêmio Nacional de Literatura LIONS, 2015;
  • Prêmio Literário Alçada Baptista, 2014;
  • Prêmio Literário Vergílio Ferreira, 2012.

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Ricardo Almeida

Sou fundador e CEO do Clube de Autores, maior plataforma de autopublicação do Brasil e que hoje responde por 27% de todos os livros anualmente publicados no país. Premiado como empreendedor mais inovador do mundo no segmento de publishing pela London Book Fair de 2014, sou também escritor, triatleta e, acima de tudo, pai de família :)

Um comentário em “A difícil arte de registrar a história do nosso passado

  1. Tomei conhecimento do blog através do meu amigo João Morgado. Destaco na sua Obra:
    * Vera Cruz – a vida desconhecida de Pedro Álvares Cabral.
    ** Índias – O herói imperfeito.
    *** Fernão de Magalhães e a Ave-do-Paraíso – a história desse polêmico e arrojado navegador.

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