Clube de Autores em Portugal: Juntemo-nos à revolução

O caminho tradicional da internacionalização é, quase que por definição, óbvio: organizar o processo produtivo, estruturar time, abrir canais de venda tradicionais, começar.

O problema aqui, meu caro colega autor, é a força da palavra tradicional. E não digo isso apenas de Portugal, que fique claro: toda a Europa, talvez com destaque à Europa Latina, tem um apego aos seus tradicionalismos diferente do que conseguimos compreender.

Diferente, explico-me, porque quem quer se manter tradicional é todo o conjunto de forças do mercado que parece unido na luta comum contra a inovação. É como se sonho dos grandes atores do mercado editorial europeu fosse congelar o tempo e permanecer nadando na própria e imutável zona de conforto feita de poucos títulos, poucas livrarias, poucas alternativas.

O empreendedor sem olho treinado, ao chegar aqui, corre o sério risco de acreditar que isso é também o que o público quer. Livros, afinal, seguem sendo comprados em livrarias; a autopublicação ainda não tem o peso das massas; e iniciativas disruptivas encontram mais espaço nos veículos de comunicação do que nos bolsos dos consumidores.

Mas isso, tenho descoberto, é tudo aparência, uma espécie de fachada, de clima de calmaria carregado da eletricidade invisível que costuma anteceder as grandes tempestades.

O mofado status quo

Na primeira reunião que tive com uma importante livraria local para negociar a distribuição de nossos títulos ouvi perguntas sobre termos conteúdo em “brasileiro, ao invés de em português”, recebi propostas financeiramente inviáveis e ancoradas na maneira como se fazia negócio no passado remoto, escutei que era necessário aguardar algumas semanas, quiçá meses, para continuarmos a conversa – pois era assim, vagaroso, que o tempo se movia no Velho Mundo. Ou seja: lentidão com propostas fora de sintonia com a realidade e com uma pitada de preconceito.

Meio assustado, resolvi mergulhar mais a fundo no próprio site dessa livraria e o comparar com as outras alternativas locais (da Amazon Espanha ao El Corte Inglés). Minha dúvida era simples: como uma livraria tão arraigada no século passado conseguia se manter competitiva em um mercado já tão dinâmico e globalizado como o editorial? Ou seja: com tantos poréns e barreiras, como uma loja conseguia sequer ter os produtos desejados por um público que nitidamente parece se importar tão pouco com essas dificuldades tão desnecessárias derramadas naquela minha primeira reunião?

A resposta era igualmente simples: ela não conseguia.

Não achei dados ou estatísticas que comprovassem nenhum ponto meu, confesso. Mas o cheiro de movimento no site dessa livraria era muito, muito menor que nos tantos outros marketplaces que visitei. Era inquestionável a diferença no tamanho do acervo, a facilidade de entrega, a conexão com o público.

Se o leitor local quiser um livro que não seja um super best-seller, ele terá muito mais chance de encontrá-lo em um desses marketplaces do que nas livrarias mais tradicionais. E, enquanto essas lutam arduamente para não enxergar o tanto de mercado que estão perdendo com sua falta de sincronia com o próprio tempo, as outras parecem aproveitar cada ímpeto de compra para crescer e se transformar no novo paradigma – repetindo exatamente o mesmo movimento que já aconteceu no Brasil.

Como isso importa para nós e para os nossos planos, meu caro colega autor?

Revoluções começam quando a necessidade de mudança faz-se óbvia

Simples: enquanto a negociação com livrarias é lenta, árdua e cheia de obstáculos impensáveis, os marketplaces demandam apenas uma simples integração tecnológica, a negociações inteiramente viáveis, em troca de acesso a uma gama infinitamente maior de público.

E se é verdade que, hoje, eles não resumem o comportamento mais tradicional do público leitor, é também verdade que esse mesmo comportamento está mudando de uma maneira muito mais ágil do que qualquer ator do mercado editorial europeu consegue supor ou mesmo medir.

Assim, nosso mapa de internacionalização já mudou novamente. De país, nossa estratégia se metamorfoseou para idioma independente de geografia; e, agora, de canais tradicionais, ajustamos nosso foco para canais nativamente digitais.

Estabelecido isso, é hora de mergulhar mais em mudanças de mercado que ficaram mais claras depois da vinda para o Velho Mundo, depois de contatos e conexões estabelecidos por essas terras.

Traçando um paralelo óbvio: o ouro das américas que tanto enriqueceu a Europa nos tempos dos descobrimentos é, hoje, o alto grau de conhecimento que perambula pelos corredores de eventos e start-ups em um continente cuja própria sobrevivência depende do que podemos chamar de tecnologia da globalização.

E o que a tecnologia da globalização pode trazer de benefício para os autores independentes tanto da Europa quanto do Brasil, onde temos a nossa base principal? Falaremos disso no post da semana que vem.

A ser continuado na próxima terça-feira

Acompanhe a jornada do Clube de Autores para novos mercados, em tempo real, neste link: www.clubedeautores.com.br/jornada

Assine a Nossa Newsletter

Ricardo Almeida

Sou fundador e CEO do Clube de Autores, maior plataforma de autopublicação do Brasil e que hoje responde por 27% de todos os livros anualmente publicados no país. Premiado como empreendedor mais inovador do mundo no segmento de publishing pela London Book Fair de 2014, sou também escritor, triatleta e, acima de tudo, pai de família :)

3 comentários em “Clube de Autores em Portugal: Juntemo-nos à revolução

    1. Para um trabalho com êxito é necessário dedicação.Um trabalho com sucesso; a dedicação. Ganhar espaço no mundo artístico e no mundo globalizado que fazemos parte exige
      do artista estratégicas extraordinárias para seu reconhecimento profissional.
      Estava lendo este texto casualmente procurando fatos para embasar conhecimentos para o desfecho de uma obra e consegui entender em pouco minutos que é preciso ter autonomia naquilo que fazemos e naquilo que queremos para conquistarmos o sucesso.
      “Observar o direito e praticar a justiça em todos os tempos nos faz ser um bem-aventurado”. (Reflexão emSalmos 106:3).
      Parabéns aos que conduziram este trabalho de interatividade para nossos conhecimentos.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *